terça-feira, 25 de maio de 2021

O cavalo mítico de Sylvia Plath


Por Germano Xavier

Sylvia abre sua pasta negra – o livro Ariel - com um poema escrito para sua filha Fiedra, intitulado “Canção da Manhã”. Logo de cara, a poeta escreve: “O amor faz você funcionar como redondo relógio de ouro”. Esta é a primeira frase do poema de abertura de seu último livro. Abre-se com ele um leque de verdades possíveis onde o elemento a se abanar é próprio de uma atmosfera esperançosa. Alguém nasceu, ou melhor, algo está para nascer, ou germinou. Uma vontade de bem brota no momento de abertura da palavra que estava até então fechada em si mesma. O chegar do algo novo muda a rotina do eu-lírico, colocando em seus olhos o apuro acerca dos agora novos e simples eventos. Na hora do choro da criança nascida, o som reacende a voz adormecida no escuro da normalidade, tecendo assim uma nova manhã.

Poucos foram aqueles que conseguiram domar o seu cavalo palávrico com tamanha destreza dentro dos campos da literatura, e principalmente da poesia, como fez Sylvia Plath, poeta natural de Boston, estado de Massachusetts, Estados Unidos. O seu cavalo poético Ariel, livro póstumo publicado no ano de 1963 – comparável ao “Espírito do ar” da peça shakesperiana A Tempestade -, mesmo com a excelência de sua monta, receoso escapou de seus plenos domínios e fugiu com outra montaria. Ariel, que em hebraico designa o “leão de Deus”, foi deixado escrito sobre a cabeceira de sua cama antes de Sylvia cometer suicídio em 11 de fevereiro de 1963, na ocasião com apenas 30 anos de idade.

Após analisar o conteúdo da pasta, Ted Hughes, marido de Plath, assustado com o acentuado teor intimista dos poemas, que revelavam momentos conturbados vividos pelo casal, eliminou treze poemas da sequência organizada por Sylvia quando do seu lançamento mundial, ocorrido em 1965. O Ariel original, segundo a crítica literária mundial, possuía uma atmosfera completamente destoante do Ariel alterado por Hughes, este potencializando características que evidenciariam o possível tino suicida da esposa, o que, por conseguinte, o livraria de qualquer culpa primária a ele destinada.

Plath, mesclando técnica e emoção, escreve uma das sequências poéticas mais instigantes da literatura da segunda metade do século XX. A organização dos poemas em seu Ariel elevou-a ao patamar dos clássicos e a colocou ao lado de poetas confessionais do prestígio de Anne Sexton e Robert Lowell, entre outros. O livro ajudou a elevar também sua imagem enquanto ícone feminista, por ter sido ela um retrato de combate contra as agruras e desmandos sentimentais praticados por seu marido. A poeta escreveu Ariel justamente no último ano em que viveria, simbolizando que era uma escritora extremamente dependente do exercício da palavra para a manutenção de sua sobrevivência. Inaugurava-se assim uma parcela importantíssima da mitologia da dor humana a partir da verve plathiana.

Em breve, uma análise (leitura) de todos os poemas do livro Ariel. Fique de olho!

Um comentário:

Unknown disse...

Você faz a analise de cançoes da manha?