Por Germano Xavier
Por vezes, quando tomamos um livro em nossas mãos, é a capa, bem chamativa, que nos convida a lê-lo. Outras vezes é a brochura, o cuidado com o acabamento, a dedicatória que o autor usou, a cor do papel, as ilustrações, o gênero textual, a quantidade de páginas, o próprio autor, entre tantos outros aspectos que esse suporte pode oferecer em direção a uma atitude de fidelidade envolvendo o duplo leitor-interlocutor. Durante estas minhas andanças por lugares imaginários e reais, impressos em páginas de livros, muitas vezes deixei-me dominar por pequenos sinais que um ou outro catatau me enviava. Porém, mesmo depois de quase dois anos de lido, a epígrafe-nota do livro A Sangue Frio (In Cold Blood ), escrito por Truman Capote em 1959, relato de um grotesco assassinato em cadeia no interior do Kansas, nos Estados Unidos, ainda não viu concorrente em minhas anotações oculares, tamanho o seu potencial expressivo. A bem da verdade é que ainda estou por ver algo tão sintético e puro, algo tão capaz de dizer aquilo que sempre quis um dia, para o Deus-Palavra e para mim.
Eis o fragmento:
"Um dia, comecei a escrever, sem saber que me acorrentava por toda vida a um senhor nobre, porém implacável. Quando Deus nos dá um dom, ele também nos dá um chicote; e o chicote se destina apenas a autoflagelação... Estou aqui na escuridão de minha loucura, sozinho com o meu baralho - e, é claro, o chicote que Deus me deu."
Nada tão verdadeiro.
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