quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Nada muito sobre filmes (Parte XII)

*
Por Germano Xavier


ALEMÃO

Coloquei para gravar no aparelho. Apertei o play como quem não quer nada. Fui vendo, fui vendo, fui vendo, fui vendo, fui vendo... o filme era o nacional ALEMÃO (2013), dirigido por José Eduardo Belmonte. Policiais infiltrados no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, passam um sufoco danado depois que documentos que versavam sobre suas respectivas investigações vazam e caem nas mãos de traficantes do local. É mais ou menos isso e tem muita coisa batida, já vista em filmes da mesma linha. Está bem longe de ser um filmaço, mas também não é de todo ruim. Gosto muito do Caio Blat na telona. Espiem aí e depois me digam o que vocês acharam, bucaneiros!


PETER PAN

Já conhecia o livro, não o filme. Só fui conseguir assistir agora nas férias, no Cine Vila Rica, em Ouro Preto-MG. Estou falando de PETER PAN (1953), animação da Disney dirigida por Hamilton Luske, Clyde Geronimi, Wilfred Jackson. Confesso que fiquei com bastante sono vendo a película acerca da história do garoto que não quer crescer. Talvez não fosse o momento mais apropriado para adentramentos à trama ou talvez eu tenha percebido ali que havia me contaminado, por demais, com a droga da adultice severa, que seca nossas porções de espanto mais profundas e sensíveis. Resumindo: um clássico do gênero com muitas cenas imperdíveis para um dia impróprio. Vale uma espiadela!


JOBS

JOBS (2013), filme dirigido por Joshua Michael Stern, narra um pouco dos primórdios da empresa APPLE e, também, de seu principal fundador: Steve Jobs. Para mim, foi relevante saber que este idolatrado homem das ciências computacionais fez parte da equipe de criação de jogos (que joguei!) dos saudosos consoles ATARI, ali no fim dos anos 70 e início dos anos 80. Chamou-me a atenção, também, a cena em que ele liga para Bill Gates, acusando-o de copiar descaradamente seu recém-criado software. Verdades ou mentiras, exageros ou não, o filme segue a linha biográfica e serve para elucidar um pouco dos mistérios que envolvem este gênio ultramoderno, idealizador de aparelhos que fazem parte do cotidiano de muita gente espalhada pelo mundo. Como produção/obra, muito fraco. Todavia, merece uma conferida. Sigamos, bucaneiros!


TATUAGEM

TATUAGEM (2013), filme dirigido por Hilton Lacerda, é mais um filme brasileiro que tem como pano de fundo o período da Ditadura Militar, abordando principalmente questões relacionadas à censura cultural. Um grupo de teatro, o Chão de Estrelas, torna-se alvo de agentes da repressão e, após alguns embates, vê-se na fronteira que limita a perseverança do fim. O filme se passa em Recife-PE e é composto de muitos elementos poéticos, que ao mesmo tempo remetem a um estado de rebeldia latente por parte das gentes envolvidas e, também, a uma ingenuidade de cores e gestos que imprimem uma vontade de fazer mudança a todo instante. Com o bom Irandhir Santos no elenco. Recomendo a todos os mortais!


O BEM AMADO

O BEM AMADO (2010), filme dirigido por Guel Arraes e baseado na obra homônima de Dias Gomes, é engraçado, faz caricatura do modus operandi do político populista nacional e, ainda por cima, traz um elenco "deverasmente" interessante, em se tratando de cinema brasileiro - apesar de toda a engrenagem Globo de ser. As peripécias do prefeito de Sucupira, Odorico Paraguaçu, que envolvem principalmente a construção do cemitério da cidade, chegam a ser hilárias. Se você procura entretenimento, é uma boa pedida. Sigamos, bucaneiros!


LAURA

O curta-metragem LAURA (2013), dirigido por Thiago Valente, narra a história de uma mulher no auge de seus 43 anos, que se vê desamparada e infeliz depois que uma série de infortúnios lhe acometem. Sem conseguir dar seguimento ao seu trabalho como atriz e tendo de aceitar o término de seu casamento, Laura se joga numa nuvem depressiva que a definha aos poucos. O curta foi bastante premiado. Vale a pena conferir.


A CAVERNA

Ô, filmezinho ruim este A CAVERNA (2004), dirigido por Bruce Hunt!


EU SOU A LENDA

Caos, humanidade por um fio e um roteiro por demais verossímil fazem de EU SOU A LENDA (2007), filme dirigido por Francis Lawrence, um exemplar cinematográfico digno de boas loas. Depois de um vírus ter dizimado boa parte da população da Terra, um homem tenta de todas as formas encontrar sobreviventes e, também, a solução para desfazer todo o desastre. No meio do percurso, luta diariamente consigo mesmo e contra mutações notívagas estranhíssimas. O final poderia ser mais bem acabado, mas está valendo. Não obstante, ainda fazem uma espécie de tributo ao Rei do Reggae, Bob Marley. Recomendo a todos os mortais!


PETER PAN – DE VOLTA À TERRA DO NUNCA

PETER PAN - DE VOLTA À TERRA DO NUNCA (2001), filme da Disney dirigido por Robin Budd, coloca o menino que não quer crescer de novo nas garras do Capitão Gancho. Na tentativa de atrair Pan, Gancho sequestra a filha de Wendy por acaso e a partir daí a confusão se instala. Jane, de 12 anos, que não acreditava mais em histórias fantásticas, termina por viver uma, o que a faz mudar de ideia. Dessa vez, os Meninos Perdidos ganham mais ênfase. Dá até vontade de ir morar para sempre na Terra do Nunca. Continuação de um clássico de 1953 que deve ser revisitado sempre que possível. Recomendo a todos os mortais. E que sejamos Meninos Perdidos durante toda a vida!


12 HOMENS E UMA SENTENÇA

Dirigido por Sidney Lumet, o clássico 12 HOMENS E UMA SENTENÇA (1957) marca seu território de sucesso ao revelar em detalhes a reviravolta fantástica que se deu num julgamento tido como de resultado óbvio. Doze homens decidem pela vida ou pela morte de um jovem porto-riquenho, acusado de ter matado o próprio pai. Apenas uma divergência torna-se motivo para toda uma perspectiva ser alterada e para que novos olhares sobre o crime e o criminoso sejam observados e resignificados. Um filme que é uma aula de argumentação. Rende muita discussão, ainda hoje. Recomendo a todos os mortais!


Imagem: Google.

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Aqueles mais que velhos cavalos brancos

*
Por Germano Xavier

o sol aquieta-se
corre lento pelo leito do firmamento
a égua baia do tempo
pastoreia o que ainda me habita
ou em mim ressoa

no galope de meus trinta anos
punhais e memórias de pele
em solda nos pés-ferradura
só a certeza de que em guerra vou

enfeitiçado ainda
pelo que a vida me faz silenciar
no dorso levo sonhos nos olhos
os rabiscos da lua

nas estendidas lembranças
o veio dos segredos sem pouso
em trote me fazendo marchar


* Imagem:  http://www.deviantart.com/art/Cavalo-334169092

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte VI)

*
Por Germano Xavier

"tradução livre"


quarta-feira 21/01/15
Um som antigo


Un son d’antan

on se touche et la musique existe
elle déchire l’homme dans l’homme
et rien n’est plus brutal
que les accords de l’amour

on danse et on avance
et l’aube s’adoucit par conséquence
voilà la vie qui arrive


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/The-death-of-the-Butterfly-32904915

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

A cuidadosa definição do acaso (Parte IV)

*
Por Germano Xavier

para ler ao som de I Follow Rivers, da Lykke Li


Eu te esperei por longos anos. Venho adotando cada uma de suas palavras e frases e períodos e analisando e lendo e relendo e pondo tudo em caixa dentro de mim que sei o que é bom e de verdade. Eu penso que essa composição que estamos a criar – estamos? – ainda vai virar um turbilhão de momentos férteis. Cá para nós, mas a gente parece a própria eternidade. Doido, eu? Pingue-pongue e os corações são acarinhados em cada sopapo de voz-alma que vem vindo. Tome nota aí: eu existo, sim – você existe? – sou de carne e osso e palavras e moro nem tão muito longe assim, apenas algumas horinhas desclassificáveis.

Tenho vontade dos lençóis também, e é lá que vamos começar tudo. Mas ao que me parece, venho morando também num coração. Tem outra não, és tu. A minha. Por favor, passe-me sua identidade por completo. É da alfândega dos sentimentos. Claro, é bom toda espécie de conhecimento. Teu pressentimento é um sentimento exato, adorável. Imito-te, pois: minha. Aliás, que tanta repetição assim de nós para nós? Será que isso tem nome? Se eu te puxo para dançar você me dá colo, se te quero colo você me puxa para dançar. Vai ver é aquele tal do A... vai ver. Vamos? Topas? Quer correr mundo comigo? Estou falando sério. Só basta tentar, querer. 

Vai ver não, o certo é que estou aqui. Dê um sinal quando chegar. Preocupo-me com você. Quem é você para mim? É que eu preciso me situar no que está acontecendo. Preciso? É aquela coisa do risco. Eu te apeteço, tu me apeteces, conjugue comigo! Continue... nós nos... danou-se. Parece que é aquele negócio torto que nasce na gente quando a gente olha para o mar dos olhos de outra pessoa e vê o fundo do mar com seus cardumes. Além-mar, não é? Lembra do começo de tudo? Do fim e do recomeço de tudo? Além-mar. Aquela azulidão de permanecer. Estou no teu colo. Um beijo? Quero. Quero você. É sério. Daria tudo para estar aí, dentro de você, literalmente, amadamente, agora mesmo. 

Você fala de névoa, de escuridão, eu falo de claridade, supernova, bum-bum, explosão. Não somos claridades poucas, imagino. O baque é dos grandes. Tudo que te digo é elogioso e não tenho medo. Vai na cara tua mesmo em forma de elipses, zeugmas, metáforas e eufemismos. Penso que poesia também é uma forma de amar. E já te amo, je t’aime, I love you e o escambáu. É assim que se escreve escambáu? Tem acento a palavra? Não importa, importante é que você já existe, quis dizer, no peito meu, mora, reside, a aranha de minha teia. 

Você é rara e eu sou um acumulador de relíquias. Como você não há no mercado, nem nos velhos armazéns, tudo boneca de plástico, sem graça, com falas repetidas. Por isso um achado, você. Sortudo, eu. Que faço senão te chamar para correr risco comigo? É amor, amor! Não sou louco de te perder. Já que começamos essa brincadeirinha séria demais, que tal irmos até o fim para ver se no fim tem mesmo uma luz e um túnel? Estou aqui, sozinho entre alguns papéis, tentando escrever uma declaração daquele sentimento – como é mesmo o nome? Sem cafonices e aberrações. Mas não tem jeito. O acaso é repleto de clichês, como os meus. Acho que sou antigo. Aquele chamado amor. Venha ser minha sendo você.

Deteriour parvum sanctificare amor solet.


* Imagem retirada do site Deviantart.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

A cuidadosa definição do acaso (Parte III)

*
Por Germano Xavier

para ler ao som de Tunnel of Love, do Dire Straits


Você é minha e nunca mais será de ninguém. Não tem mais volta. Eu não sei mais viver sem tua presença em minha vida. Não quero aprender a viver sem você. Você é o meu ponto final. É muito e sempre. Dorme, amor. Sinto o mesmo que você. E tudo o é, meu sentir. Passo o dia sentindo que a vida é chuva rápida que vem pela tarde. E você é uma nódoa. Viver é limitado sem você. Estou envolvido demais para voltar atrás, com muito amor para me dizer forte e não deixar você partir e tenho saudade em excesso para simplesmente tratar o que sinto como se fosse coisa de todo dia. 

Por isso te amo. Você me consome muito e é perfeito o fogo. É preciso que eu diga: você é responsável por mim. Goze tua vida em mim de uma vez por todas. Eu queria poder evitar todas essas palavras e ter você me calando a boca e me matando de amar. Só. Mas vou ter. Eis o nosso mais valioso destino. Eu sou o teu amor de cada dia. Você sempre será um fio na trama dos meus dias. Entremeou-se, entrelaçou, coloriu. Estou com você o tempo todo. Em todos estes momentos, estou com você muito próxima a mim. Esse pensar em você. 

Tenho vontade de ficar sozinho com você e escutar o teu silêncio em mim. Incrível como alguém pode estar muito mais presente que os presentes. Mas parece ser impossível não acontecer isso. O que você é se mescla ao que imagino que seja e pelo que sei te faço perfeita para compartilhar da minha vida. Estou em você e, cheio de admiração, tenho vontade de te ver calada, desprotegida, desarmada, para reverter todos estes quadros. E te sufocar com o contato da pele que é nossa, com a densidade do carinho que sinto por você. Acho que essa vontade maluca de ter você dentro da minha alma vem de um desejo de misturar as energias que se conhecem, nossas. Pude te sentir em várias vezes hoje. 

É complicado sentir saudade de alguém que amamos sem economia. Quase sempre fico sem saber direito o que fazer com essa energia que extrapola. Por isso, gozo. Pedido seu é uma ordem. Amo você como uma cachoeira ama sua água. Eu estou falando sério quando digo que vou com você para tudo que é canto e em qualquer hora. Recebo você em sempres. Meu coração bate no compasso do teu. Estou feliz por ter você ao meu lado. Deus está com todos. E, felizmente, perdoa até aqueles que não se ajoelham. Espero que goste da música. Eu me sinto especial ao teu lado. Tarde é o dia e eu queria ser simples feito a linha que envolve agulhas em mãos idosas. 

É o mundo que me acontece. A farda dos soldados, o sentimento materno e o segredo entre irmãos. Tudo me acontece e, de tão linda forma, em meu agora com você me excede o sentimento em arroubos de silenciosa histeria. Eu que ando sozinho acompanho eventos com a mesma certeza que me vejo ao início de nosso encontro. Queria ser simples prova de matemática e meu escudo fosse tabuada e todos me compreendessem numérico ao invés dessa matéria em que me torno a me ver homem possuidor de um tesouro: você. 

O coração me acontece, com suas cordas e botões de rosas, todas as feridas duplas de minhas vastidões singulares não existem mais depois de você. Tudo me acontece labirinto e céu. Tudo é complexo e não minto ou forjo retidão. Pois todo meu caminho é ferro, mistério e oração a uma única deusa que surgiu quando eu não mais buscava crenças ou restrições. Você me acontece agora e, diante de minha criatura bélica e honrosa, permanece o mais perene sentimento que por alguém nunca me atrevi a dizer. O amor me acontece e me alimenta em doença para o bem do corpo e espero obediente o prometido retorno de tudo que sei, vai existir. Sinto o mesmo que você, sinto tudo por você, em intensidades e voltagens iguais. 

Passo o dia sentindo que a vida é chuva rápida que vem pela tarde. E você é uma nódoa, teu nome é uma mancha que não quero tirar de minha pele. Viver é limitado sem você, eu já tenho consciência disso. Estou envolvido demais para voltar atrás, nem penso nisso, com muito amor para me dizer forte e deixar você ser em mim e tenho saudade em excesso para simplesmente tratar o que sinto como se fosse coisa de todo dia. E não é. É coisa de infinitos tempos. Por isso sei que te amo. Por isso me tornei solitário mesmo quando estou aos bandos, eu só tenho você agora. Você me consome muito e eu acho isso a maior lindeza que já senti, que já tive. É preciso que eu diga: você é responsável por mim. Sou responsável por você. Sim, eu estou onde você estiver. Se você deixar, eu viro a madrugada escrevendo você. Mais um dia e eu sou feliz em amor.


Imagem retirada do site Deviantart.

A cuidadosa definição do acaso (Parte II)

*
Por Germano Xavier

para ler ao som de Run, do Snow Patrol


Sei que fomos agraciados por surpresas inquestionáveis, inscritas no rotar desse cosmos. Surpresas (coincidências) que não necessariamente nos espantam, pois delas já antevíamos, ou queríamos tanto esta condição em comum, que aqui estamos, um de fronte ao outro nesse momento de nossas vidas. Na verdade nada acontece ao total acaso, nós é que construímos nosso arcabouço nocivo ou nossa tábua para o salto na imensidão azul da vida e de seus caminhos.

Por isso, não me apresento esquivo, não se assuste, de cara tento explicar, ou não. Talvez seja algo com a astrologia e nesse caso a tendência é dar um passo à frente e nunca um passo atrás. Essa nuance, admito, a de que te conheço e te reconheço há muito tempo e mais... e depois de ter sido tão abrupto, eu me recolho pensativo e sem pensar, refletindo se eu não fui rápido demais e com muita sede ao pote. Não. Eu tenho certeza que não. O nosso tempo é agora. É você quem eu quero para mim.

Compartilhamos da vontade de amar, fonte de inspiração, calmaria no entrevero, falsa sustentação e real alicerce, ou momentânea e sempiterna sanha febril que serve de impulso para tantos saltos. Eu mirando meu ideal, onde você se apresenta mais que cenário. Você possui ares de muito amor. 

Ao escrever em sua direção, surpreendo-me pensando no movimento dos astros, que te conectaram a mim por fios eletrônicos que eu por vezes sinto ojeriza. Eu aqui e você tão perto, considerando-se as possibilidades latitudinais e longitudinais da esfera terrestre, mas ao mesmo tempo tão inusitado, reconfortante e significativo...

Permita-me uma citação. Trata-se de uma passagem, escrita em uma carta por Rilke, um de meus poetas prediletos, oriunda de leituras tantas, de literaturas que se entrevivem por subjetividades desconexas: 

“É impossível ter uma imagem exaustiva o suficiente da amplidão e das possibilidades da vida. Nenhum destino, nenhuma recusa, nenhuma adversidade é simplesmente sem saída; em algum lugar, o mais denso matagal pode produzir folhas, uma flor, uma fruta. E, em algum lugar, na providência mais extrema de Deus, haverá também um inseto que colherá riqueza dessa flor, ou uma fome a qual essa fruta será bem-vinda. E, se for amarga, terá sido espantosa a pelo menos um olho, ao qual será propiciado prazer e curiosidade pelas formas, cores e frutos do mato cerrado; e, se ela cair, cairá na plenitude do futuro e, em sua decomposição final, contribuirá para torná-lo mais rico, colorido e viçoso”.

Sei reconhecer algo que amo, algo pelo qual me identifico, que me causa um sentimento de várias formas assimiladas, pois as manifestações em mim são físicas e anímicas, meus impulsos sensitivos sempre me falam mais alto e não há melhor forma do que sentir através das palavras, que podem forjar construtos imagéticos de um espectro ainda informe, conduzir a irrealidade à deriva, o que pode ser mais do que real. Mas até este meu suposto pensamento já foi por você desconstruído antes de mim, que falo direto através de meu ser que é seu. Vamos viver de verdade isso? E começo por agora, por ontem, por sempre, podendo ser o mais passional possível, sem ressalvas, minha racionalidade de querer-te inteira. Eu acredito, sim, em tudo que você pensa que eu acredito.


* Imagem retirada do site Deviantart.

Circuito de saltos

*
Por Germano Xavier

quando eu era menino
tinha por costume olhar meu pai
trabalhando
da janela de seu consultório

ficava ali minutos seguidos
escutando o barulho da broca
a perfurar o esmalte dos dentes
o som do compressor se enchendo de ar
e até os ais e os uis de seus pacientes

ria por dentro com um certo orgulho
e corria feito atleta quando alguém se aproximava
de onde eu me encontrava

no meio da corrida
que me imprimia o tal receio
dava pequenos saltos que me faziam
parecer voar

(por tanta leveza instantânea)

era uma forma de estar com meu pai
justo nas horas em que não se podia


* Imagem retirada do site Deviantart.

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

A cuidadosa definição do acaso (Parte I)

*
Por Germano Xavier

para ler ao som de She, na voz de Elvis Costello

Com o perdão da palavra, de onde nos conhecemos mesmo? Mas que bom que você aportou em meu mundo assim. Abrigo você aqui, com todo prazer. Mostro um pouco deste mundo meu, nativo. Eu vou esperar suas palavras como quem espera um arco-íris bonito após uma chuva com sol. Gosto mais. Gosto mais de você. Flor do dia, meu dia inteiro. Também você me trouxe luz, claridade boa de sentir. Alguma sensação estranha, mais profunda que a própria normalidade. Você sabe me explicar o que é isto? Eu me sinto bem em seu olhar, disso eu sei, sinto. Creio que isto já pode lhe dizer algo, ou a mim mesmo. Também tenho coragem. Por você. Mais carinho. 

De que asteroide encantado você vem? Se eu disser que ando sentindo coisas semelhantes, você acreditaria? Você quer acabar comigo, é? Você tem celular? Pode me passar? Mandei uma mensagem agorinha. Chegou aí? Não sei a razão, o motivo, ou coisa que o valha, mas o certo é que ontem dormi com você e, para meu espanto, quando abri os olhos hoje você continuava em mim, presenteando-me com uma nova aurora. Menina, menina... eu tenho coragem. Minha quinta-feira já é um pássaro alto estimando o voo dos encontros. Elevo você em mim. Eu não vou fugir também. Penso que estas coisas não acontecem sem haja algum motivo-mor. Você deve ser o motivo-mor. Meu motivo-mor. Pelo menos é o que estes arrepios me fazem chegar em aviso de nós, de agora e em tempo. Guie-me. 

Seria uma supernova agora! Também sou pacato, gosto de discrição e respeito. Chego a ser recatado, por vezes. Já admiro sua melancolia, digna das flores mais valiosas, que não vendem belezas impostoras. Você será meu presente também. Já está sendo. Dê-me a sua mão, que eu quero andar com você. Já lhe adicionei. Quando chegar, dê-me um sinal. Estou aqui corrigindo um artigo. Eu já disse que você esteve comigo durante todo o dia hoje? Já querer. Pois chegue sempre. Minha razão de viver é você. Meu maior motivo de estar vivo hoje. Quero ser feliz ao seu lado, ao lado dos nossos. Você é a melhor coisa que me aconteceu nos últimos tempos. Sou seu. Eu quero viver o maior e mais bonito amor do mundo com e por você. Se existir vida após a morte, também quero viver esta outra vida ao seu lado. 

Eu vou procurar você no além. Quero acordar todos os dias ao seu lado. Sentir a boniteza que senti hoje quando o sol raiou em meu quarto e eu estava com você pertinho de mim. Eu quero você para mim. Você é linda em mim, linda em tudo e já não sei viver mais sem você. Eu te nós. Eu estou com você, jogando luzes em teus cenários de vida. Eu só quero estar onde você estiver. Hoje eu te amo mais que ontem. Estou aqui limpando meu quarto, arrumando meus livros, tirando um pouco da poeira. E vez ou outra tateio as cordas imaturas de meu violão. Coisa muito, mas muito antiga mesmo, amor. E você sabe que a ficção fortifica-se nas mãos de um escritor, não sabe? 

Dorme. Eu te nino. Não sei mais fazer outra coisa. Você é minha. Quero você do jeito que és. Não mude nada. Venha para mim como você é e eu lhe amarei. Estou aqui. Só me chamar. Está melhorzinha? Há mais alguma tarefa hoje para eu desempenhar em prol de nosso amor? Meu papel de parede! Você me faz renascer. Renova-me, fé que tenho aflorada agora no bem que a vida nos traz. Você, minha luz. De volta, entregue, apaixonado e maluco por você. Eu não sei o que dizer. Estou lá. Meu riacho de mel. 


* Imagem retirada do site Deviantart.

domingo, 18 de janeiro de 2015

Pelo sol da tarde

*
Por Germano Xavier

poema de fato acontecido


vinha meio perdido pelo sol das três da tarde
rompendo quilômetros abertos e nunca findáveis
entrava em cidadezinhas estranhas
de onde eu saía ainda mais estranho
seguia a rota do mapa rodoviário que havia comprado
numa outra cidade onde parei para dormir

(percebi que mapas rodoviários também falham)

embriagado pelo sol da hora
pisei forte o acelerador

fui bater em praças alheias
boa tarde, como faço para chegar aqui neste ponto...?

um homem respondeu que era só eu seguir adiante
que eu já estava na porta de saída e que logo estaria lá

quando fui soltando a embreagem
uma senhorazinha que se encontrava ao lado do moço
que havia acabado de me dar a dica de roteiro disse
você pode me levar até a entrada da Ingazeira?

eu olhei a senhorazinha
sua caixinha de papelão no canto dos pés
e disse entre
e disse vamos

o homem ajudou na acomodação da senhorinha
talvez fosse filho dela
fechou a porta traseira

certifiquei-me do cinto de segurança nela
fiz o carro se movimentar
ela disse que era pertinho dali o lugar onde ia descer
que me avisaria quando estivesse próximo

caminho pela metade

a gente tem mesmo que indagar quando fica perdido
não é?
na frente você indaga mais
que a vida é assim

fico aqui

nem bem desceu do carro
foi tirando uma notinha para me pagar
eu disse não carece

ela me benzeu com umas mãozinhas
pegou sua caixinha de papelão
e com o rosto pintado pelo sol da tarde
(vi pelo retrovisor)

rumou para lá


* Imagem retirada do site Deviantart.

domingo, 4 de janeiro de 2015

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte V)

*
Por Germano Xavier

"tradução livre"


sexta-feira 02/01/15
O primeiro poema do ano


Le premier poème de l’année

dans le premier poème de l’année
se blottira, dans une fausse tourmente de paix
dans une âme ivre d’un danseur
une femme étourdie qui offrira
des fléaux d’absence sur d’étranges baisers
(étranges, car ornés de confettis)

le ciel explosera alors
et lancera aux ténèbres une lumière fabriquée
les sourires confus et confondus
cinglés au passage du temps
feront périr les sinistres engins des heures
dans une voix d’évolution inventée
(et tout nous retournera à l’aube qui s’étale)

Mais tout sera recyclé
les prêtres, les artificiers
les marchants et vendeurs ambulants de racines dans les foires
- seront-ils libres ?
(tout pourra être guéri car les jours seront neufs)

dans ce premier poème de l’année
le cri sera obligé et officiel
glissé dans toutes nos brousses, nos secrets
comme un artefact sauveur

l’armée criera
les vendeurs et les aveugles
les poètes et les choristes enlacés
ne feront plus qu’un unique corps
dans le cœur du centre qui se nourrit des files d’attente

tout se blottira dans le poème qui durera le temps qu’il faut

qui donnera lieu à la nouvelle prière
de rédemption pour les âmes égarées
en plein carnaval au milieu de senzalas modernes
(tout se blottira, y compris une bande sur les yeux
qui annulera tout ce qui est affreux ou répugnant)

tout aura lieu dans ce premier poème de l’année
la prière de la lavandière
la mort de l’indien
la rébellion des victimes d’injustice
l’odeur puant des fortunes illicites
l’impunité qui vit dans les vers sans douleur

dans le premier poème de l’année
la nature du verbe se servira de l’émotion
dont elle demeure le seul miroir

(des monuments d’eau seront érigés
en hommage aux vanités et à l’orgueil)

et rien (absolument rien)
ne sera épargné, rien ne sera oublié.


* Imagem retirada do Google.