terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Ler para ser

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Por Germano Xavier

“A dialética é, enfim, a lei fundamental do ser.”
(Maurice Merleau-Ponty)

Em seu livro O ATO DE LER (FUNDAMENTOS PSICOLÓGICOS PARA UMA NOVA PEDAGOGIA DA LEITURA), Ezequiel Theodoro da Silva esboça uma severa crítica ao método usado na formação atual do aluno-leitor e reforça a ideia de que o ensino da leitura não está restrito apenas ao momento da alfabetização. Para o pesquisador, ler não pode ser apenas a decifração do código linguístico e os aspectos teóricos e práticos da leitura deveriam ser tratados, pois, em quaisquer cursos de preparação de professores, de forma indistinta. 

Ler é, também, um ágil modo para refletir e transformar. Partindo de tal premissa, Ezequiel critica a política do “deixa como está para ver como é que fica”, que povoa o ambiente educacional de vários territórios do mundo. Para ele, a leitura encontra-se demasiado prejudicada, também, pelo advento das tecnologias de massa. E tal cenário é ainda mais desanimador quando se possui uma tradição de leitura elitista, como é o caso do Brasil.

Para reverter o preocupante panorama, a boa educação deveria apontar para o significado e para a referência. A expressão escrita, para Ezequiel, apresenta-se como a maneira mais prática para a promoção e circulação do conhecimento. O leitor lê aquilo que quer, é livre. As vantagens da informação escrita, pois, são ilimitadas. Ler não é mera deglutição. Ler é realmente participar mais crítica e ativamente da comunicação humana. 

O livro sempre reflete o humano. Comunicação não é apenas falar e escrever (emissão), mas também ouvir e ler (recepção). Para o caso brasileiro, as “lições” da leitura são: 

1) Leitura é essencial à vida e a qualquer área do conhecimento; 

2) Leitura é igual a sucesso acadêmico e diferente de evasão escolar; 

3) Leitura é o principal instrumento para a prática; 

4) Aprender a ler é reduzir a alienação e a massificação; 

5) A leitura parece ser o único meio de desenvolver a originalidade e autenticidade dos seres que aprendem. 

Ler é, antes de tudo, compreender. Compreender é ser. Os três propósitos fundamentais da leitura são: Compreender a mensagem; Compreender-se na mensagem e Compreender-se mensagem. Ezequiel abre espaço em seu livro para criticar a escassez de projetos de pesquisa desenvolvidos no Brasil acerca dessa temática. A leitura é essencialmente humana. Para tal, uma abordagem fenomenológica seria o melhor caminho. O fenômeno é logos, uso da intuição. A linguagem manifesta o ser relacional do homem. A evolução da fala. O código escrito transforma a estrutura da existência – o homem passa de ouvinte a leitor. Ek-sistere: abertura ao outro. Compreender e simbolizar: existir. Ao ler, estamos descontextualizando e recontextualizando. 

Estamos existindo, ao máximo.


* Imagem:  http://www.deviantart.com/art/Reading-59875697

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