quarta-feira, 27 de abril de 2016

Linguagem em (dis)curso

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Por Germano Xavier


Hoje, no amplo campo do saber linguístico, percebe-se facilmente, em se tratando dos estudos apurados e de base analítica no tocante aos gêneros textuais, que a ideia que se tem de propósito comunicativo consegue, em si, admitir um sem número de olhares sobre as práticas de um determinado gênero dentro de uma respectiva comunidade de usuários interligados.

Por observar a maleabilidade com que tal instrumento, o propósito comunicativo, subverte inadvertidamente a “ordem natural das coisas”, é que Biasi-Rodrigues e Bezerra (2012) enumeram questionamentos efusivos no interior de tal imbróglio, a procura de estruturar uma arqueologia de saberes acerca do senso/status do gênero ao final das análises, sem com isso perder o interesse para com a conceituação do propósito comunicativo enquanto critério nato de/para análise de gêneros.

Partindo dos pressupostos de base teórica atrelada ao estudo de gêneros consagrada pela denominada Escola Britânica, também conhecida como Abordagem Sociorretórica, BIASI-RODRIGUES e BEZERRA (2012) tratam no artigo intitulado de Propósito Comunicativo em Análise de Gêneros do debate em torno do próprio conceito de propósito comunicativo, atualmente percebido como sendo um dos pontos nevrálgicos do estudo linguístico mais específico dos gêneros em todo o mundo.

Para tanto, os pesquisadores supracitados centraram esforços em abordagens e perspectivas acerca das conceituações atreladas ao propósito comunicativo que foram exaustivamente investigados e aprimorados por estudiosos do porte de Swales (1990, 2001, 2004), e também de Askehave (2001), este em comunhão com Swales.

Tais estudos, proposições e perspectivas, imiscuídas à ideia de que gêneros realizam propósitos e/ou funcionam como “repropósitos”, como observado na própria reavaliação do tema feita por Askehave e Swales (2001), entre tantos outros fatores, terminaram por permitir que fossem elaboradas diversas discussões acerca do uso do todo processual do propósito comunicativo dentro do espectro funcional de uma dada análise de gêneros fundamentada aprioristicamente no que é de ambição social, o que o configura de tal modo a ser matéria basal das engrenagens analíticas, indo de encontro, portanto, à ideia que o taxa meramente como um critério direto e imediato no que concerne à identificação dos gêneros.

Com base nestas nuances e prismas de elaborativos, os autores partem da conceituação do termo propósito comunicativo, passeiam pela relação dele com a estrutura esquemática do gênero e pela visão que se tem de critério para identificação, provando sua inquestionável complexidade objetivo-funcional.

Os articulistas defendem, por fim, a relevante participação do propósito comunicativo como elemento para se estudar os gêneros em si e suas particularidades, sem fechar aí a sua largueza como utensílio da língua, ao que cabe a nós, estudantes e interessados na referida questão, cuidar para não rotulá-los, os gêneros, apenas com base em definições e conceitos parcos, a citar o de propósito ou até mesmo o de intenção autoral, que não abarcam tudo quando o assunto é a relação entre propósito comunicativo e a análise de gêneros.


REFERÊNCIA

BIASI-RODRIGUES, BERNADETE; BEZERRA, Benedito Gomes. Propósito comunicativo em análise de gênero. Linguagem em (dis)curso, Tubarão, SC, V.12, n.1, p.231-249, jan/abr. 2012.

Imagem: Google

sábado, 16 de abril de 2016

Entre Mares e Marés: Conversas Epistolares (Parte XII)

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Viana, olá!

Tenho vontade de escrever-te só com símbolos, por medo de repetir-me e tornar-me demasiado previsível. Ou revelar o diálogo que nunca tivemos, como uma mera transcrição desse instante único de cumplicidade que podem ter duas pessoas numa conversa informal. Conversar é tão bom, Viana, e é cada vez mais difícil encontrar uma pessoa que goste de falar.

Tentemos essa partilha, queres? Somos nós dois num dancing lisboeta à beira-rio tomando um copo numa mesa perto do palco. Os músicos ainda estão a preparar os instrumentos, o dj põe no ar uma música bem ritmada, incendiária.

C- Viana…? Viste aquele casal na pista, o rapaz pequenino agarrado a uma mulher alta e vistosa?

V- Na verdade nem reparei, Clara. Mas porquê? Estava atento à música, tentando perceber a letra.

(Risos)

C- Letra? Que letra? Não vás por aí… deixa-te só contagiar pelo ritmo. A música com letra vem depois. Digo, o rapaz pequenino, a quarentona bonita… tenho uma teoria sobre o assunto, que pode dar uma história.

(Franzes o sobrolho e eu sinto-me constrangida).

V- Clara, não sejas mázinha... nem pareces tu. A gente não sabe nada da vida das pessoas. Neste momento alguém pode estar a olhar-nos com a mesma curiosidade… malsã.

C- Não é preconceito, é pós-conceito. Só acho que é um engate com fins, digamos, lucrativos. O rapazinho quer “se dar bem” e procura uma mulher que o possa “peitar”, como diz uma amiga minha muito atenta. Isto funciona nos dois sentidos; há aqui mulheres à procura do mesmo, junto de respeitáveis senhores… ingénuos, claro está.

V- Achas que é isso, Clara? Mas, e se for… que direito temos nós de julgar as escolhas de pessoas adultas, escolhas consensuais…? Não entro nesse jogo, por mais curiosidade que o assunto me suscite.

C- Pois, Viana, talvez tenhas razão. Se for o que penso trata-se de um negócio em que todos lucram: um consegue sustento temporário e o outro um sucedâneo de amor, uma coisa parecida com uma relação na qual a componente sexual é o motor da coisa. Mas a nossa indiferença é sempre conivente. Não pensar, não opinar, já é agir. Mas sei que são opções tacitamente aceites… embora sejam ambos pressionados pelas circunstâncias.

V- Sim, percebo o teu ângulo. Ninguém é totalmente inocente nem culpado. E se fosse, quem os julgaria? Um é vulnerável por ser pobre, ou malandro, outra tem um estatuto social superior e alguma liquidez, para além de uma falta de autoestima notória, falta de tempo ou de interesse para cultivar relacionamentos duradouros… um desfecho previsível no qual existe no entanto um momento, volátil que seja, em que o NÃO é uma opção real. Um não redondo e definitivo.

Neste momento da conversa os artistas entram em palco e nossa atenção deixa-se absorver pela voz possante da Lucibela.


Viana, desculpa-me este despiste, mas não resisti a ensaiar esta troca de impressões improvável entre nós dois diante de uma bebida de cores primaveris. Ou uma simples cerveja gelada, ou um café expresso.

É uma forma de te dizer que gosto que me interrompas quando falo, a isso chama-se conversar. A palavra, quando escrita, já é dona de si mesma, quando se forma na boca e ainda não nasceu, pode ser calada com um beijo.

Há um momento em que é possível mudar tudo e desenhar uma curva numa estrada reta. Fazer uma inversão de marcha. É preciso estar atento para não deixar escapar esse fragmento do tempo.

Na tua última carta noto um tom mais passional e intolerante sobre a superficialidade das coisas, as aparências, as futilidades. Também sou assim. Gosto de procurar a essência. De escavar. Escavacar é uma palavra feia, bruta, mas que exprime melhor o que quero dizer. Essas pessoas de que tu falas (excecionais, marginalizadas, divergentes) são pessoas reais e que resistem, como dizes. Por isso não me admira nem um pouco a tua reação na nossa conversa acima (risos).

Fiquei muito impressionada com o relato que fazes desse senhor que conheceste, que vive na rua e tem o coração no mundo. Certamente um ser único que nos faz ver que nós, os outros, andamos permanentemente em contramão. Mas o idealismo paga-se caro e existe um compromisso mínimo entre o ser humano e a sociedade em que se move, senão dá-se a rutura: social, afetiva, psicológica… é um caminho sem retorno. Para todos nós: os que partimos e os que ficamos.

Eu não quero falar de mim, não hoje, porque tu me intuis e me constróis por dentro. Falando dos outros, do que os meus olhos veem, tu vês para dentro dos meus olhos também.

Temos tido ultimamente a imprensa portuguesa dominada pelos escândalos da política brasileira e tentamos todos, brasileiros ou não, encontrar um tom justo para a indignação, para o protesto, para a reivindicação. Um equilíbrio precário em que é muito fácil cair na manipulação e tornarmo-nos meras marionetas da imprensa e do padrão cultural dominante. Mesmo para os mais esclarecidos.

E continuaremos, tu, eu, a Cris, a Sant’Ana e quantos se quiserem juntar a esta festa das palavras, dos sons e das imagens, a conversar sobre tudo o que nos toca.

Um grande beijo desta tua amiga embarcada numa viagem de desfecho imprevisível.

Clara

Lisboa, 3 de Abril de 2016


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Clara,

As coisas aqui no Brasil não estão em seus melhores dias. O cenário é de névoa. Tudo muito nublado. O futuro do país está em jogo. O futuro de um país que, ao que parece, será para sempre “o país do futuro”, e não o país do presente ou do amanhã próximo. Muito turvo é o horizonte. Passei boa parte do dia assistindo à sessão da Câmara dos Deputados na TV Câmara. 31 horas já. De depoimentos ininterruptos. Não pensei que isso iria longe assim. O drama é forte. 

Alguns depoimentos são risíveis. Alguns não, a maior parte deles. Nem na literatura encontrei figuras tão caricatas, grotescas, teatrais, fanfarronas, cínicas. Assim são e/ou se portam muitos de nossos deputados federais. Não dá para confiar na palavra deles. Acordos secretos escabrosos feitos. Panos quentes. Toalhas de enfrentamento ou desistência sendo vendidas, cargos, postos, compensações. Tudo muito escuro. O povo sem saber direito. Dúvidas. Incertezas. Medo. Ódios.

Sou contra o impedimento da Presidenta Dilma, por princípio. E por convicção. Não é bom para a imagem do país lá fora. Não é bom para a imagem do país aqui dentro. Não resolverá os reais problemas da nação. De nada adiantará. É evidente o propósito da oposição. Tomar o poder e não salvar o país. O que está para acontecer é um aborto. Impedimento, como o que está em trâmite e da forma como foi imposta, é uma violência na história política do país. Corruptos julgando outros mais ou menos corruptos. Um aborto, repito. Especialmente quando expõe e acentua a divisão política, ideológica, cultural, econômica e até regional de um país. Isso não favorece a igualdade no país, só reforça os preconceitos, os estereótipos. Um processo vergonhoso.

No Rio de Janeiro, o carnaval pela democracia. Com direito a pão e mortadela. Bem brasileiro. Bem a cara do Brasil. Pão e circo e o povo indo atrás. Que povo é esse? Que país é esse? Uma calamidade. Na capital Brasília, um muro ergueram para separar os dois tipos de manifestantes, os dois tipos de “povo”. Aqui temos dois “povos”. Pode rir, se quiser. É cômico. Os que são contra e os que são a favor. É trágico. Um país de mais de 200 milhões de habitantes agindo como se dois times de futebol disputassem a final de um campeonato de futebol. De um lado o time dos Coxinhas, do outro a equipe dos Petralhas. O prêmio: a Taça do Poder. Um espetáculo.

Uma imprensa manipuladora, interesseira e sem escrúpulos. E tudo pode começar a ter um desfecho no dia de amanhã, domingo, dia 17 de abril de 2016. O dia da votação no plenário da Câmara dos Deputados, uma de nossas “casas do povo” e onde o verdadeiro povo quase nunca tem vez e voz. O dia do “Fica Dilma!” ou do “Fora Dilma!”. 

Uma esculhambação geral. Desmoralizante. Uma tristeza. Torço eu para que nada disso se pinte de realidade e tudo fique como antes e que o antes progrida em face de melhorias necessárias a todos nós, brasileiros. O Brasil ainda precisar crescer muito, em muitos setores da sociedade, e não é com esta cambada de meliantes engravatados que lideram o processo de impeachment contra um partido, o PT, que isso irá acontecer. Torcer. Torcer muito.

Deixando um pouco a política de lado, dizer a ti que gostei por demais de tua criação. Uma conversa possível, eu diria. Você e sua altíssima qualidade criativa, Clara. Não é para menos, não é? Mas, de toda forma, foi uma surpresa boa para mim. Bom demais ler a fantástica introdução em sua produção textual. Uma conversa que versa sobre humanidades. Humanidades e “engenharias humanas” misteriosas. Dizer que quero sim, esta partilha! E que sempre quererei.

Aqui o sábado foi de frio. Caruaru com cara de São Petersburgo. Dia branco. Minh’alma também, branca. Há um vazio. Uma expectativa. Quando tudo se cala dentro, mesmo me sabendo forte o suficiente para seguir. Quando a poesia dentro da gente se cala. Cálice. Tortura. Algo que oprime. Algo que atordoa. Algo que atravanca. Por isso a escolha por pausar aqui. Pausar e esperar. O pulso. A lâmina. Eis a vida.

Até logo mais, Clara querida.

Caruaru-PE, 16 de abril de 2016.


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Clara e Viana são dois amigos de longa data que se redescobrem e desenham o mundo à sua volta pelas palavras que encontram, que constroem e que usam para pintá-lo. (De longa data em face da finitude da vida, recentes diante da imensidão da eternidade). Mas, que importa isso? Eles propõem-se descobrir dois universos complementares, sem artifícios nem maquilhagem, para além das máscaras habituais, as que protegem o ser humano da solidão e das agressões.

Clara e Viana são dois heterónimos, duas personagens que ganham vida através do tempo, do ritmo da palavra e do sabor dos respectivos sotaques.

Luísa Fresta e Germano Xavier dão vida a este projecto.
* Imagens de Cristina Seixas.

Nada muito sobre filmes (Parte XXIV)

*

Por Germano Xavier


AGOSTINHO NETO E A LIBERDADE ANGOLANA

A TV BRASIL exibiu ontem no quadro NOVA ÁFRICA - UM CONTINENTE, UM NOVO OLHAR o documentário AGOSTINHO NETO E A LIBERDADE ANGOLANA, sobre a trajetória do líder que esteve à frente do Movimento Popular de Libertação de Angola - MPLA. Médico por formação e poeta, Agostinho Neto tornou-se ícone do período conhecido como Guerra Colonial Portuguesa, conjunto de embates promovido por toda uma geração contrária aos regimes vigentes de colonização, sendo o primeiro presidente de Angola. Figura pública por vezes tida como controversa, Agostinho Neto é, sem dúvidas, um importante nome nas lutas por independência no continente africano. Recomendo a todos os mortais!


O ALUNO

O filme O ALUNO (2014), do diretor Justin Chadwick, que também pode ser encontrado com o título de UMA LIÇÃO DE VIDA, narra a história de Kimani Ng'ang'a Maruge, queniano de 84 anos que decide aprender a ler e a escrever já no fim da vida. Maruge possui uma carta misteriosa em mãos e deseja decifrá-la. Para isso, determina-se e resolve enfrentar todos os obstáculos que o impedem de ir à escola primária. Quando jovem, Maruge, um ex-combatente Mau-Mau, perde a família para as tropas britânicas em confronto pela liberdade de seu povo. A ação de educar, no filme, é colocada como tem de ser, sempre, tal qual um instrumento de luta e resistência perante forças opressoras. Baseado em fatos reais, o longa é simplesmente encantador. Um filme sobre o respeito aos mais velhos, ao passado, ao professor e sobretudo sobre a força transformadora da educação. Esta película deveria ser exibida e debatida em todas as salas de aula de todas as escolas do mundo. Recomendo a todos os mortais!


VIPS

O ator baiano Wagner Moura é Marcelo em VIPs (2011), do diretor Toniko Melo, mas é também outro, outros. Muitos outros! Com conflitos de identidade, Marcelo vive "trocando de pele", por assim dizer. Ser espelho do pai é o seu sonho, um exímio piloto de avião, e para tanto está disposto a viver fortíssimas emoções, incluindo se passar por Henrique Constantino, filho do majoritário da companhia aérea Gol, durante um Carnaval na capital pernambucana. Baseado na história real de Marcelo Nascimento da Rocha, o filme não é lá muito interessante. Todavia, e de novo, o talento de Moura encobre as deficiências do longa. Vale uma espiadela, bucaneiros. Sigamos!


TEMPO DE DESPERTAR

TEMPO DE DESPERTAR (1990), de Penny Marshall, retrata as agruras e alegrias vividas por um neurologista recém-contratado em um hospital psiquiátrico. Diante de inúmeros pacientes que estão há longos anos em estado catatônico, o neurologista resolve fazer testes com um novo medicamento e termina por despertá-los. No início, tudo parece dar certo, até os primeiros efeitos colaterais começarem a vir à tona. O mais interessante do filme é a observância do cuidado desprendido pelo médico no trato dos pacientes, a entrega, o entusiasmo pela melhora. Um bom filme. Um Robert De Niro inspirado. Recomendo a todos os mortais!


HUSH – A MORTE OUVE

HUSH - A MORTE OUVE (2016) é um suspense norte-americano que pode surpreender os amantes do gênero. O filme conta a história de Maddie Toung, uma escritora que vive em uma casa no meio do nada, longe da sociedade. Ela está tentando finalizar o seu mais recente livro. Detalhe: Maddie resolveu se isolar a partir do momento em que perdeu a audição. Certo dia, um estranho mascarado aparece em sua residência. Maddie, então, vê-se obrigada a lutar em um mundo feito de silêncio pleno em prol de sua vida. O filme foge um pouco do estereótipo e as cenas silenciosas, em contraste com a típica barulheira desses filmes, colocam o espectador bem dentro do drama vivido pela protagonista. Vale uma espiadela, bucaneiros!


UM DRINK NO INFERNO

UM DRINK NO INFERNO (1996), de Robert Rodriguez/Quentin Tarantino, é daqueles filmes, eu diria, diferenciados. Um clássico trash/cult, com um roteiro muito, muito louco. Muito louco mesmo. Bizarro, por vezes. Dois irmãos saem pelo Texas causando o terror. Durante uma fuga para o México, os dois sequestram uma família e terminam por parar em um prostíbulo onde só caminhoneiros e motoqueiros possuem acesso livre, o Titty Twister. Dentro do recinto, são surpreendidos por um bando de... vampiros! Vampiros monstrengos! É difícil engolir um filme assim, mas não posso deixar de acreditar em originalidade nesses casos. Ame-o ou odeie-o. É mais ou menos por aí. Vale uma espiadela, bucaneiros!


AS BRANQUELAS

Uma merda.


* Imagem: http://obaratodefloripa.com.br/cineclube-presenca-na-udesc-faz-sessoes-semanais-da-mostra-de-cinema-infantil-de-florianopolis/

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Estudos de gênero em ESP (um resumo)

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Por Germano Xavier

No tocante ao quarto capítulo do livro GÊNERO, HISTÓRIA, TEORIA, PESQUISA E ENSINO, intitulado de Gênero nas tradições linguísticas: inglês para fins específicos, Bawarshi e Reiff (2013) engendram olhares esclarecedores sobre os estudos de gênero em English for Specific Purposes – ESP, sem antes pontuar a relação existente entre as tradições retórica e a linguística. Os autores definem os estudos de gênero em ESP como sendo aqueles voltados para o estudo e para o ensino de variedades especializadas do inglês e, em tabela, geralmente direcionadas aos falantes não nativos que porventura se encontram em ambiente acadêmico-profissional de modo mais avançado.

Segundo os autores do livro supracitado, foi a partir do pioneirismo de Swales (1990) que os estudos de gênero em ESP começaram a ganhar um corpo mais definido. A natureza aplicada a qual os estudos em ESP sempre estiveram atrelados foi, desde sempre um aspecto de definição marcante desta ramificação. Para Swales, os estudos em ESP tratariam de aproximações para com as propriedades linguísticas dos registros da língua com ênfase no quantitativo e, por isso, sofreriam consideráveis evoluções ao longo do tempo, tornando-se mais específicos e, por conseguinte, mais aprofundados, já que passaram a se comprometer com categorias de registro mais abrangentes e, igualmente, com a descrição não só dos traços linguísticos, mas também dos propósitos e dos efeitos de base comunicacional presentes nas variedades da língua.

Tomando como ponto nevrálgico esta citada evolução dos estudos em ESP, Swales segue por investigar a referida área, entregando a ideia de que tal aparelhagem de marcação do pensamento em vista dos gêneros está continuamente atrelada aos estudos linguísticos e, concomitantemente, aos estudos retóricos de gênero. Bawarshi e Reiff (2013) esboçam, pois, ainda no capítulo intitulado Gênero nas tradições linguísticas: inglês para fins específicos, um panorama ideário e comparativo acerca das implicações tanto da ESP quanto dos estudos de gênero em LSF, definindo suas linhas limítrofes para que assim fosse possível, sobremaneira, sedimentar os espaços de interesse das referidas áreas de estudo.

Muito do que postulam, pensam e refletem as duas abordagens se confundem ou se conflitam no decorres de suas interações evolutivas. Tanto os estudos em LSF quanto os estudos de gênero em ESP comungam de estratégias de análise, como também partilham compromissos pedagógicos, mas não entram em acordo quando o assunto é o público-alvo de aplicação e o enfoque de seus respectivos estudos, só para citar dois exemplos de divergência.

A partir do momento em que Swales emprega valores de relevância e de carácter distintivo à ESP, delineiam-se aí conceitos-chave de imprescindível funcionalidade para o entendimento de tal abordagem, que são, a citar: a comunidade discursiva (dotada de seis características definidoras), o propósito comunicativo (o gênero desenha-se tal qual uma classe de eventos que partilha de propósitos de base comunicacional) e o próprio conceito de gênero.

De acordo com os posicionamentos de Bawarshi e Reiff (2013), outro ponto a se destacar nesta área dos estudos linguísticos (a abordagem ESP de gênero) é, a saber, o tom múltiplo de abordagem de análise de gênero em ESP, que permitiria um enfoque inicial pela identificação do gênero dentro da comunidade discursiva, passando pelo estudo da organização do gênero (questões estruturais) e, por fim, desembocando no exame de aspectos textuais e linguísticos. Tal modelagem de estudo foi repensada por alguns autores, como por exemplo Bhatia (1993), que esboçou um contingente de passos em número de sete para a análise de gêneros. Bathia, por sua vez, parte do contexto para a análise textual, aplicando diferentes níveis de análise linguística aos estudos propostos em seu portfólio investigativo.

As problemáticas envolvendo os estudos de gênero em ESP, para Bawarshi e Reiff (2013), durante bastante tempo ficaram restritas aos setores ligados ao propósito comunicativo, ao contexto e à natureza dinâmico-intertextual dos gêneros. Todavia, as tendências mais recentes do estudo em ESP invocam novos olhares acerca de tal complexo ideário. Askehave, Bhatia, Hyon e Hyland terminam por reconhecer a complexidade do propósito comunicativo e findam, cada qual em sua perspectiva, por admitir a natureza dinâmico-interativa dos gêneros, priorizando em conjunto uma melhor apreensão da intertextualidade e da interdiscursividade no que concerne ao gênero.

Assim posto, ao se tomar a relação dos estudos em ESP e as abordagens críticas aos gêneros, Bawarshi e Reiff (2013) deixam submergir das páginas do capítulo quarto a existência de um longo processo de compreensão que retoma possíveis interconexões aos preceitos dos estudos retóricos, colocando em xeque pontos importantes que dizem respeito à conceituação de alguns termos e temas, bem como a aplicabilidade desses movimentos de entendimento imiscuídos ao gênero.


REFERÊNCIAS

BAWARSHI, A. S; REIFF, M. J. Gênero nas tradições linguísticas: inglês para fins específicos. In: Gênero, história, teoria, pesquisa e ensino. Tradução: Benedito Gomes Bezerra. São Paulo: Parábola, 2013, p. 60-78.


Imagem: http://pt.dreamstime.com/fotos-de-stock-royalty-free-texto-de-papel-da-not%C3%ADcia-image8583068

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Criação para pingos de chuva

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Por Germano Xavier

com vassoura de piaçava
é feito varrer o vazio
fazer com que se dobre a mancha
aguda na existência do pó
e no criar água na queda

tanajura frita na farinha
o cordão que enlaça o voo
menino que brinca de fazer graça
com seus demônios

ele não quer precisar nem ela
o que se deseja é parar

de sonhar//

a chuva é de livrar choro
a gota é quase-prototípica
o mundo sem função




* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Cloud-154449559

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Observatório sobre gêneros

*

Por Germano Xavier


No âmbito do subtópico denominado de Gênero e Linguística sistêmico-funcional, Bawarshi e Reiff (2013) implementam o pensamento de que há uma ligação bastante fortificada entre a aplicabilidade dos gêneros dentro do círculo de operação da análise textual e, por conseguinte, do processo de ensino da língua. Tomando como ponto inicial de apoio a investigação de trabalhos envolvendo estudos em teoria literária, Bawarshi e Reiff (2013) esboçam, no capítulo intitulado Gênero nas tradições linguísticas: linguística sistêmico-funcional e linguística de corpus o panorama ideário de que muito do que se sabe hoje acerca de gênero deve-se ao progressivo acompanhamento das tradições linguísticas, a citar em especial as ramificações concernentes à Linguística sistêmico-funcional, à Linguística de corpus.

A partir do momento em que apregoam valores de relevância à funcionalidade social e ao contexto, a língua passa a ser percebida como um todo funcional, exigindo que a própria linguagem entre em processo de concepção dentro de um dado contexto específico de uso, cabendo à parcela sistêmica os meandros estruturais e de ordenação dos fenômenos linguísticos. A linguagem, por sinal, é vista aqui tal qual um motor-gerador para que ela própria realize ações de significação, descritas a partir da ideia de contextos de situação, inventário que percorre o tratado em Halliday (1978), base dos estudos de base LSF. A Escola de Sidney, a qual se servem os estudos de Halliday, gira em observância às perspectivas sistêmico-funcionais de gênero. É com base nos pressupostos dessa corrente que termos como registro (tipos de situação) e as metafunções da linguagem (ideacional, interpessoal e textual) irão ser contemplados para ampliação do contexto de situação, quando se referem às esferas de campo, relação e modo.

De acordo com os posicionamentos de Bawarshi e Reiff (2013), outro ponto de destaque nesta área dos estudos linguísticos (a abordagem LSF de gênero) é, a saber, a obra de Martin (1977), que preconizou entendimentos acerca da definição de gênero nunca antes identificados. O autor supracitado auxiliou na construção conjuntural de que os registros estão para o contexto de situação, assim como os gêneros estão para o contexto de cultura, sendo eles processos sociais geridos por dados objetivos. Há aqui, supostamente, uma introdução à interpretação de gênero enquanto ação social, tão difundida por pensadores contemporâneos como Charles Bazerman e Carolyn Miller.

O gênero, para os autores, pegando o ideário fomentado a partir de Martin (1977), e que porventura embasou o programa australiano LERN (Literacy and Education Research Network), seria, portanto, fundamental para o processo de letramento em ambiente escolar, já que elabora um arcabouço de criticidade ao se fundar em proposições de cunho facilmente identificáveis como sendo de ordem social. Já o pensamento de Diller (2001) é retomado para demonstrar a sua influência no tocante ao debate envolvendo as investigações sobre retórica e produção escrita.

Longacre (1996) e Biber (1988) também são citados, e suas posições decorrentes das definições de tipologias textuais e presença de variação linguística no conglomerado dos gêneros marcam presença e relevância incontestáveis. Bawarshi e Reiff (2013) fecham a discussão ampliando a visão de Paltridge (1997) acerca dos gerenciamentos que se dão na altura do que pode ser classificado como imagem mental. Daí surge um longo processo de estreitamento entre texto e gênero interconectado aos preceitos da memória e do contexto que, para os simpatizantes da teoria em questão, são capazes de movimentar todo um conjunto de interpretações bem peculiares acerca de gênero.


REFERÊNCIAS


BAWARSHI, A. S; REIFF, M. J. Gênero nas tradições linguísticas: linguística sistêmico-funcional e linguística de corpus. In.: Gênero, história, teoria, pesquisa e ensino. Tradução: Benedito Gomes Bezerra. São Paulo: Parábola, 2013, p. 46-59.



* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Text-Overlay-Texture-121941631