Por Germano Xavier
O título chama a atenção: AS PLANTAS CRESCEM LATINDO. Não teve outro jeito. Precisei levá-lo para casa. Não é novidade para ninguém meu muito gostar de sebos e/ou alfarrábios. Foi num destes estabelecimentos que encontrei o segundo livro do poeta Helder Herik. Um pequeno guarda-poemas dividido em nove gavetas, com conexões perceptíveis (ou quase). Partes que são pétalas de uma flor maior chamada Vida. Vida, louca vida, vida breve. Ah, Cazuza! Como manejá-la? Sem poesia no olhar as coisas, mais difícil ainda, não acha? Em sua grande maioria, poemas que conversam, que tratam de dialogar, que compartilham algo com quem lê. Como nossas mães ou nossos pais ou avós ou tios ou vizinhos que travam altos diálogos com as rosas de seus respectivos vergéis. Um aparato para tratos diversos. No fim das contas, resta dentro de nós, uma vontade. Um desejo pela partilha, por uma espécie de consagração do encontro. Um querer ser-no-outro-ou-para-o-outro. A poesia também é alento. Sim, é. Como certos momentos das nossas vidas. Felicidade é o nome que se dá a isso? Um livro que nos ensina um pouco mais a ouvir, que nos ensina um pouco mais a ser. E se consegue isso, já se legitima, já se põe à prova, ao degustar das almas. Um passeio que vai das redes sociais até os sapos que engolimos todos os dias em nosso cotidiano, passando pela filosofia e pelas poeiras estelares de nossos chãos diários, tão íntimos e infernais. Aliás, filosofia é o que não falta ao livro do poeta nascido em Garanhuns, agreste pernambucano. Helder, com simplicidade e enxutas palavras, coloca-nos de sobreaviso acerca da incerteza dos agoras, destampa a válvula dos passados e nos aclara um futuro cheio de quebras, interregnos e aptidões. Ficamos, ao final da leitura, com uma prece instantânea e espontânea nas beiradas de nossa língua sobre a beleza das pequenas coisas e dos decididos gestos. As plantas que crescem latindo nada mais são que raízes internas de sol conectadas a nós mesmos nos dizendo: vá, caminhe, siga, imbrique, faça, corra, salte, seja, viva... antes que seja tarde demais. Antes que seja mais tarde do que pensamos ser, feito a revelação do relógio da Casa do Sol, morada de Hilda Hilst. Antes que seja e antes que acabe não sendo!
* Imagem: https://www.estantevirtual.com.br/livros/helder-herik