Por Germano Xavier
Há livros que são grandes desastres literários, como o meu CLUBE DE CARTEADO, publicado em 2006 e primeira tentativa no meio das letras – é assim mesmo que o vejo, sem nenhuma espécie de compaixão. Outros, apesar de renegados por seus respectivos autores, principalmente em sendo os primogênitos, não podem ser taxados como catástrofes em excelência. É o caso de A GRANDE TORRE, livro inaugural de contos do garanhuense Nivaldo Tenório, autor dos recentes NINGUÉM DETÉM A NOITE e DIAS DE FEBRE NA CABEÇA.
Em entrevista ao jornalista Thiago Corrêa para a Revista Vacatussa, em 2014, o autor revela que tentou “justificar a falta de unidade do livro, recorrendo à torre de babel, como metáfora de confusão, e talvez um conto ou dois, de resto não gosto do livro, e quando digo que andei roubando exemplares das bibliotecas, para queimar, juro que não estou fazendo tipo. A grande torre precisaria amadurecer mais.” Na mesma entrevista, o autor ainda explica que sente que a publicação do livro foi precipitada, mas conscientemente conclui que “aquele escritor não mudou muito desde 2002. Quando falo que já era o mesmo escritor, refiro-me a ideia que fazia e faço da literatura. Naquele tempo eu já era o leitor de Borges, lendo e me surpreendendo com as semelhanças que o argentino tem com o nosso Machado de Assis. Eu já era o escritor que condenava o diletantismo, eu já me cobrava uma atitude mais profissional e sabia que para fazer literatura de verdade o caminho não era outro senão aquele apontado por Ernesto Sábato, de que é preciso ter uma obsessão fanática pela criação ou nada de importante será feito.”
Decerto que A GRANDE TORRE pode ter seus defeitos e suas inconstâncias por demais demarcadas em suas 160 páginas, além de uma visível escassez de unidade temática, mas como o próprio autor percebeu desde antanho, já é um livro capaz de denunciar a presença de um escritor de pulso, vivaz e sabedor de seus percursos. Uma hora beirando as margens do trivial, passando pelas veias do cotidiano, a obra outras vezes envereda pelo universo bíblico, mormente do Antigo Testamento, e burila o inferno no céu celestial das significâncias. Para um primeiro compêndio de contos, repito, não era logo a foice em suicídio ou em autoflagelo. Era, diria eu, a certeza de que muito mais haveria de vir.
E veio.
E veio.
* Imagem: https://pt.wikipedia.org/wiki/A_Torre_de_Babel_(Bruegel)
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