Por Germano Xavier
DOIS NÓS NA GRAVATA (CEPE EDITORA, 2015) é o nome do segundo livro de contos do escritor pernambucano Rômulo César Melo e um dos vencedores da segunda edição do Prêmio Pernambuco de Literatura. As narrativas abreviadas da obra forçam os leitores a fazer um exercício de reencontro com o passado e, por conseguinte, com suas aspirações mais humanas e interiores, dentro de ambientes temáticos ora triviais ora bastante densos e, porventura, pintados com uma carga dramática – diria - impiedosa. A construção de algumas cenas é realizada de maneira limpa e esclarecedora, outras nem tanto. Os personagens são sólidos. Ao todo, são 17 narrativas e cada uma traz consigo um universo de abordagem díspar. O leitor faz, literalmente, uma viagem atemporal e também temporal a cada conto lido. Todo conto é um mundo e demanda um ticket novo por parte do leitor, que vai como quem não tem destino. Há a percepção de utilização de técnicas expressivas de escrita por intermédio do autor. Os contos com problemáticas urbanas enchem mais os olhos de quem lê, porém até os que burilam com a fantasia correspondem. Algumas tramas claudicam em um regolito quebradiço. Todavia, ao final, o livro nos aperta o pescoço feito dois nós na gravata. E é isso o que importa.
Trecho do livro:
Tome o lenço, pare de chorar. Já choramos o bastante, quase debulhamos um rio Volga de lágrimas. Lamentações sem futuro. Se médico algum conseguiu, quando em vida, ninguém removerá o tumor dos restos mortais de mamãe; e também se o fizesse de nada adiantaria; nem a bala na têmpora de papai, depositada horas depois do sepultamento da esposa. As manchas dos miolos passaram a fazer parte da parede do escritório, pelo menos algo dele permaneceu, desconfio que aquela frase repetida nos Natais “quando eu me for, meninas, algo meu ficará por aqui” se referia a essas manchas crucificadas na madeira da parede, as faxineiras não conseguiram limpar; tampouco seriam apagadas as ausências que nos seriam impostas a partir dali.
Imagem: https://colecionadordesacis.com.br/2016/07/23/clipping-assombracoes-do-recife-velho-inspiram-desafio-entre-escritores-pernambucanos/
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