domingo, 17 de fevereiro de 2019

Os manejos em assanho de Orobó (Parte I)




Por Germano Xavier


reza a lenda que bandeirantes,
atravessados pelo desconhecido, aqui vieram
e de Falsas Minas aqui chamaram.

Itá Berá | pedra brilhante |,
casa do amor entre Ikan, o Gigante, 
e Muhatu, a Pequena.



Orobó guardada no silêncio das vontades,
cidade mística do Amor Maior.

Ikan em fuga, dependurado na lama das alienações.
Muhatu, mulher de uma longa espera.

Rios em divisa, pedras e perdas em repenso vital.
Candombás em flor, o fértil solo de Sincorá.

Muhatu é a mulher mais macia, mais forte, mais quente.
O mundo é uma impensável penetração.

O vazio das absurdas distâncias, seus vencimentos.
A certeza na nudez cálida de todas as peças do corpo.

Golpe seco.

Ikan, entre o Verbo Ancestral e o Espaço da Vida, arde.
Ikan, consciente dos assanhos.
Ikan, dizimado pelos silêncios mortos do passado.
Ikan, membro úmido deslizante.

Muhatu, pois, chão da morte mais bela.
Muhatu, esparramada na fome.
Muhatu, pintura de refundar instantes.


* Imagem: https://www.deviantart.com/silecia/art/Del-sexo-y-othros-demonios-II-139727187

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