Por Germano Xavier
Sobre a natureza e as funções da linguagem são variadas e múltiplas as inferências e as interpretações produzidas ao longo do tempo. Aos bandos são também os (re)surgimentos de teóricos e teorias que tentam classificar e burilar este universo tão vasto do estudo linguístico. Carlos Franchi foi mais um exemplo deste embate tão frutífero quanto melidroso que é o estudo da linguagem humana. Para ele, a língua é uma atividade constitutiva cujo problema básico é o da significação, e não o da comunicação.
A significação, para Franchi, não está somente na ordem das relações sintático-morfológicas, mas no anteparo de atos intencionais que motivam interlocutores, atos comunicativos e formas de expressão. Todos estes elementos, juntos, ajudariam a situar a linguagem como uma ferramenta de construção do pensamento, da identidade e da realidade. Para Franchi, crer que a linguagem seja somente reflexo do real é uma falha no mínimo grotesca. Antes, faz-se preciso norteá-la como um ativo construtor de referencial para as ações humanas. É a partir dela que universos inteiros de significados são fomentados.
Sua função constitutiva, assim posto, daria à linguagem uma historicidade, já que não serviria apenas para reproduzir a natureza das coisas. Por tomar a linguagem como um cosmos recheado de complexidades, a visão constitutiva de Franchi atrela a ela uma dada reflexão filosófica, bem como uma investigação experimental e uma elaboração teórica. Os sentidos e os significados dos discursos, destarte, ganham mais importância que os objetos linguísticos propriamente ditos.
A crítica à concepção institucional da língua produzida por Saussure é apenas umas das pontas do iceberg instalado pelo pensamento de Franchi, que, também, ao passear pelas ideia de Searle, Grice, Halliday, Buhler, Chomsky, entre tantos outros, também espeta a ferida do estruturalismo americano sem ressentimentos, realizando assim um esforço visível para articular diferentes concepções funcionalistas da linguagem, jamais ignorando-as. Portanto, fica mais que evidente que para Franchi é dos modi significandi (modos possíveis de significação) que podem surgir o real entendimento das funções da línguagem. Assim, mais fácil se torna a percepção de que a linguagem é comunicação, sim, mas não somente. Ela está também a serviço da dialética e das intervenções homem-mundo-homem.
A linguagem, segundo Carlos Franchi, está para construir, está para expressar, para comunicar e para significar, especialmente. Sendo cíclica e transitória a linguagem, tais fenômenos variantes a ela ligados podem não seguir ordenamento plausível e sofrer mutações e intermitências. Todavia, enquanto atividade essencialmente criadora, a linguagem sempre operará em alta no cotidiano das civilizações e no fazer-ser da humanidade. O exercício da linguagem, afinal, é o de sempre ser provisória, espontânea, iconoclasta e transformadora.
* Imagem: http://materiais.parabolaeditorial.com.br/linguagem-atividade
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