Por Germano Xavier
"A arte do descaso – A história do maior roubo a museu do Brasil", da jornalista Cristina Tardáguila, é um pequeno apanhado factual acerca da ineficiência e do desprezo para com a valorização das artes em solos brasileiros. Tardáguila montou um livro-reportagem que prende o leitor do início ao fim, tal qual os grandes exemplos do gênero, que tem como ponto-mor as inovações jornalísticas experienciadas a partir de meados do século passado, quando o New Journalism apontou sobre a superfície das redações dos grandes jornais e das gráficas de todo o mundo com seu time espetacular de autores, a citar Truman Capote e Joseph Mitchell.
A autora reconta, com minúcias, toda a trama que envolveu o roubo que subtraiu do Museu da Chácara do Céu, situado no bairro de Santa Teresa, na cidade do Rio de Janeiro, obras de alguns dos mais importantes nomes das artes do mundo, a citar Monet, Matisse, Salvador Dalí e Picasso. O roubo, que aconteceu no ano de 2006, mesmo já passados vários anos, ainda é considerado um dos maiores atentados às artes de todos os tempos (maior roubo do Brasil e oitavo maior roubo do mundo). Ao todo, cinco obras foram roubadas que, juntas, somavam um total de aproximadamente 10 milhões de valoração estimada.
Após efetivarem a rendição dos guardas do local, munidos até de uma granada, os meliantes levaram os quadros mata adentro e nunca mais foram vistos. Para decifrar toda este novelo, Cristina Tardáguila iniciou uma busca incessante através de viagens, congressos internacionais e entrevistas com os maiores especialistas no ramo, além de pessoas aparentemente metidas no imbróglio. As suspeitas eram firmes e por pouco não se transformaram em brutais convicções. No fim das páginas, a certeza é única: o Brasil é um país completamente despreparado para vivenciar tais situações.
Ao entrar “(...) definitivamente no mapa do roubo de obras de arte com o assalto ao Museu da Chácara do Céu”, o Brasil terminou por demonstrar a sua fraqueza, o seu desleixo e a negligência de seus mecanismos de investigação e de justiça. O livro é deveras um Thriller muito bem elaborado e uma grande sacada de Tardáguila, que assim, com maestria, resolveu estrear em livro. Quando terminamos de lê-lo, cria-se uma enorme fazenda de pulgas em nossa cabeça. Sim, amigos, aquilo de que já desconfiamos há bastante tempo se define em tons claros e evidentes: o Brasil, definitivamente, não é para amadores.