sábado, 2 de novembro de 2019

Sobre "O azul também se revolta", de Paulo Gustavo




Por Germano Xavier


(Cepe, 2018)


Por vezes, é bom e necessário refutar o óbvio do mundo, o que já está entregue logo de cara nas frontes das pessoas, todas as gratuidades afastar... Marchar a ré em muitas das coisas que nos solidificam diariamente: vital. A poesia é uma força-una, sabemos. Mas quem a opera é todo mundo ao mesmo tempo, a soma de suas vivências e o total de suas quedas e conquistas. Paulo Gustavo, poeta recifense nascido em 1957, filia-se ao que há de mais universal e caro à poesia: sua própria voz, voz de poeta. De maneira natural e sublime, diga-se de passagem.

O AZUL TAMBÉM SE REVOLTA é um acordo do poeta para com a sua voz gutural, ancestral, universal, mas única e criteriosa, amansada após uma vida de aprendizados. Nos campos da forma e da linguagem, o poeta adere à personalidade acima de qualquer custo. Resultado: cria sua própria tradição, uma dialética modernosa e, simultaneamente, com um pé fincado nos antepassados, em seus ídolos, em suas referências (que não são poucas). Paulo Gustavo rompe com outros totens artísticos, mas sempre com paciência, como quem aguarda a procissão passar.

A palavra aqui é CONSCIÊNCIA. 

Há sempre uma retomada de temas, promoção de imagens verticais/horizontais, utilização de formas já há bem muito consolidadas. Todavia, Paulo Gustavo formata tudo com o raciocínio esmerado de quem recorre sempre às melhores experiências técnicas. Multiplica-se, asssaz-assim, em outros tantos sendo um só, sem precisar ser outro nem perder-se na vastidão de ser mais do que se é verdadeiramente. Um poeta de transição, "que tomou o último vagão" que rumava para estimada Geração 65 das letras pernambucanas e da contemporaneidade nacional.

Percebe-se, de antemão, uma espécie de condensamento na obra. Estamos, sim, diante de um Tempo repartido, porventura compartilhado. Uma memória congelada pelo poeta. Memória que é gênese para o futuro. Dócil, cheio de vertentes nada costumeiras para os dias atuais, Paulo Gustavo se insere maduramente na ordem de seus versos. Faz do Belo sua palavra de ordem, sua incessante jornada. O Azul aqui é de busca, de escavação, de intromissão. O Azul de todas as coisas, dos equadores todos, seu ofício virginal.


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