domingo, 31 de outubro de 2021

O menino antigo drummondiano




Por Germano Xavier


(José Olympio, 1973)


Livro velhinho, ultrajado pelo Tempo, datado dos idos de 1973. Capa verde, rasgada na lombada, mas com um grande detalhe. Autor: Carlos Drummond de Andrade. Não tem como não ler, desse jeito. Título: MENINO ANTIGO. Uma espécie de continuação de Boitempo I - Memória e base para o Boitempo III - Esquecer para lembrar. Hospedeiro incógnito é o Drummond das mil infâncias ancestrais, mais que suas sete faces tortas. O gauche, ainda, em revisitações e revelações numa poesia inaugural. Não sabe, ele, rever sem mexer nas feridas acortinadas de sua vida, também nossa. O grande poeta maioral do Brasil. Meu muito obrigado, Drummond.

Em PRETÉRITO MAIS QUE PERFEITO, o poeta justifica os nascimentos e os desnascimentos que sofrera, que vivenciara. Espetaculariza a anta dos homens passados, a jacutinga dos ferros mineiros. Enfim, consagra, por si só, o malogro de uma pacata vida de Nadas profundamente admiráveis. Poetiza, ele, antigo num instante que não possui mais, os heróis em regresso, sua terra de gerações-Andrades. Quando nos insere na FAZENDA DOS 12 VINTÉNS OU DO PONTAL, brincante Drummond desqualifica o que temos de posses, avista grandezas miúdas, reitera afeições por naturezas amiúdes, combate o que tem parcimônia e vai. 

Em REPERTÓRIO URBANO, Drummond é menino antigo mais ainda. Conclui que não pertence ao acolá-além-dele-mesmo. Começa a pedregulhar as janelas dos futuros. Atira em tudo que não serve para viver de Verdade. Você sabe o que é viver de Verdade? Sei eu? Ruas o atingem, pessoas o agridem, o vento impoluto, a manhã cinza dos agoras, o frio envenenado das marquizes mortas esculpidas pelo dorso dos sem-teto. Todo um império de costumes mineiros-nacionais é desovado e logo averiguado com olhares legistas. Drummond nos ensina a desenterrar coisas vivas - talvez a coisa mais importante a se aprender. Não escapa viva'lma. Caem todos, por terra, atônitos. E o noticiário ainda vem pelos Correios. O sino das igrejas badala a hora gloriosa: somos uma só procissão que caminha sem saber para onde. Para onde, José? 

O cidadão sem voz, aquele esfomeado que está na correnteza, preso nos galhos invisíveis dos trânsitos num sol a pino que não para de assolar. Drummond é quem nos proíbe de proibir. Tudo parece começar nele. Esse ranço doído em se aceitar somente o vertiginoso-falante desmorona. Tem até espaço para o imortal "doido" das cidades interioranas. Incrível. Impossível não lembrar do "doido oficial" da minha cidade natal chapadeira. Saudade de você, Pequeno! - E Macuca? Ah, mas Macuca não era doido, meu senhor! Macuca era uma entidade, quase um druída! Quase um Deus que lutava contra toda forma de sobriedade humana. Salve, "doidos oficiais" do meu Brasil! Brindemos por vossas heresias!

Já O PEQUENO E OS GRANDES é um caderno sobre política familiar. Sim, invertido. Daquele que postula a favor de certos crimes ligeiros que nos apetecem paixões e desordens infantes. Aqui Drummond chega a debochar dos seus, mas tudo com respeito. Óbvio que não seríamos os mesmos sem a mão em benção diante de nossos pais. Óbvio que poderíamos desprecisar disso, também. Por tanta coisa a mais é que somos o análogo, a água parada da modernidade, que se agrega para romper em cachoeiras, batendo brutalmente contra a pedra mais dura. E quando nem se pensa, aí vem Drummond e corneta. E assim está selado. É trombeta ardendo sons sobre os fogos além-itabiranos. Queima os olhos dos que leem. Córneas em brasa. Íris em labaredas. Drummond é assim: castiga cegueiras que enxergam falsas visões.


sábado, 30 de outubro de 2021

AZALEIA PARA ERVA DE PASSARINHO, de Andréia Pires


 

Confira neste vídeo um pouco do cenário literário do extremo sul brasileiro, através da pena da escritora Andréia Pires. Você ainda confere as palavras de abraçar almas da psicóloga Angélica Nunes.

#azaleiaparaervadepassarinho #andréiapires #contos #conchaeditora #germanoxavier #angélicanunes #canaloequadordascoisas

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Como O HOMEM ENCURRALADO chega a L’HOMME ACCULÉ, omnipresente e atemporal


 

A série de textos que ora vos é apresentada, da autoria de Germano Xavier, poeta, contista, professor e jornalista, reflete as andanças atribuladas do homem pós-moderno, as suas incongruências e fragilidades. Na visão do poeta, este homem encurralado por um sistema do qual ele é também uma ínfima parte, simultaneamente vítima e cúmplice involuntário, tenta, a duras penas, desfazer-se das teias poderosas que o envolvem, como tentáculos. O materialismo excessivo e sufocante é parte da condenação deste personagem sem saída, moldado por angústias e dúvidas, como a grande maioria dos seres humanos; dir-se-ia que é um homem excluído, transparente, desenquadrado e inclassificável, que não se pode etiquetar.

Identifiquei-me plenamente com a poíesis de Germano Xavier, empolgante e reveladora, peculiar e depurada desde o primeiro verso, como se observa na atmosfera densa que rodeia este homem tão completamente cercado; por isso propus-me traduzi-lo para francês, atrevimento que rapidamente se transformou numa doce rotina até se converter numa necessidade pessoal ou inapelável tentação.

O maior desafio com que me deparei, para proporcionar uma viagem, entre a língua fonte e a língua alvo, e um destino condignos, foi garantir que a mensagem chegava intacta. Nem sempre terá sido o caso em virtude das singularidades de cada idioma e cultura mas o objetivo foi sempre, ao longo do processo, acercar-me desse ideal. Outro escolho – estimulante – foi o facto de eu não ser brasileira, embora falante nativa de português. Germano, como autor brasileiro com ligações a dois Estados, inclui também alguns regionalismos ou marcas culturais muito específicas e singulares. Todos esses aspetos se tornaram numa inesgotável e fascinante fonte de aprendizagem para mim, uma vez que a cultura do Brasil me é muito próxima, por via dos afetos, da literatura, da gastronomia, do cinema e da música, mas não me é inata nem intrínseca; e a nossa aproximação tem sido filtrada no decurso da vida, como é natural, por uma sucessão de eventos inclusive extra literários. Tampouco sou francófona não obstante ter começado a construir, na infância, uma relação de intimidade e respeito com a língua francesa, desenvolvida posteriormente pela via académica, profissional e social. Assim sendo, questiono-me frequentemente sobre o seguinte: será imperativo que o tradutor seja nativo da língua fonte ou da língua alvo? A primeira hipótese garantiria uma compreensão total do contexto e da mensagem, mas a segunda criaria a expetativa de um texto sem mácula, à chegada. Fazer as escolhas tradutórias mais sensatas e adequadas pressupõe também alguma sensibilidade, experiência, conhecimento dos ambientes e intuição por forma a assegurar que a beleza e a força de um texto não saem prejudicadas nessa metamorfose, que se pretende inócua, discreta, invisível ou pelo menos translúcida. No nosso caso, o conhecimento prévio do autor e de parte da sua obra facilitou a familiarização com o texto. Devemos ter sempre presente que uma tradução é uma leitura, uma interpretação, uma proposta, sujeita a ser polida, que não exclui outras soluções igualmente válidas.

Entendo que O Homem Encurralado, “desautor” da sua vida, é submetido à narração diagnóstica do poeta através de versos livres como de prosa poética, assumidamente “engagée”: começa por mostrar-se um homem esvaído de si, caracterizado pela falta de opções, pelas condicionantes externas, pela voz que lhe é roubada, pelos sonhos que não pode ter. Germano deu-lhe forma corpórea e uma condição estável dentro de um conjunto de poemas porventura biográficos. Mais do que um homem ele é sobretudo sociedade, despojos, mundo, presente, alterações climáticas, uma espécie de cicatriz na Terra, com um futuro incerto e muito nebuloso. Em francês procurei manter-lhe o significado, o ritmo, a música abrupta e áspera. Mas sobretudo a emoção, a voz surda, as pausas, os silêncios, a inação. Traduzir o dito e o não dito, os momentos de introspeção, a mágoa cansada da permanência orbital em torno de uma pobreza inconsciente e nua próxima da miséria humana. Ao traduzir procuramos outra voz para expressar o mesmo ambiente. Talvez as palavras não estejam todas lá, talvez algumas sobrem. Outras irão mancando pelo poema até chegarem ao término, que não é um desfecho, mas um recomeço intermitente.

É justificado e legendário o “medo” ou “desconfiança” de alguns autores em relação à tradução das suas obras. Todavia, Germano concedeu-me liberdade total para trabalhar os seus textos e prepará-los para esta viagem inaugural, deixando o homem encurralado à minha guarda com tal naturalidade que fez com que o sentido do dever se acentuasse, como sua primeira tradutora. Oxalá não tenha excedido os limites implícitos dessa liberdade. Se for o caso os leitores perdoarão as eventuais zonas textuais controversas, assim o espero, as derivações da tradução, que é tanto uma adaptação como uma recriação pontual. Ora literal, ora livre, tão dissemelhante ou inconsistente aqui e ali como este homem que agora se diz acculé, l’homme acculé, o tal cuja única esperança reside na força fraterna, indivisa, da empatia do leitor e da poesia.

 

Luísa Fresta

Queluz, 28/12/2020


Imagem: Marcel Gama

CORONAVÍRUS - O TRABALHO SOB FOGO CRUZADO, de Ricardo Antunes


 

O que será do trabalho e da classe trabalhadora após a pandemia do novo coronavírus? Esta e outras perguntas à luz do pensamento de Ricardo Antunes, professor, sociólogo e escritor brasileiro. Neste vídeo, você ainda confere as palavras de abraçar almas da psicóloga Angélica Nunes.

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quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Poemas estranhos e estrangeiros (Parte XIII)


 

Por Germano Xavier


Uma espécie de Pequod


o Mar do Norte ainda me acompanhava em pensamento

desde que deixei Volendam para trás.

havia naquele momento uma espécie de chamamento acontecendo.


aí abri a tarde em Marken.

frio, muito verde nas casas de madeira

com janelas abertas e com seus donos nus

andando de um lado para outro em seus cômodos

sem nenhum tipo de preocupação ou pudor, 

como a habitarem um pequeno Éden.


no centro do pequeno condado,

avistei um Pequod ancorado na pequena orla.

fitei a embarcação por um bom tempo.

o frio me aquecia a alma.

recordei viagens que fiz em livros.

foi um instante simples e bonito, e eu precisava

contar isso a você.


(Marken, tarde de 16 de junho de 2017).




quinta-feira, 14 de outubro de 2021

NICK CAVE E OS LIVROS, por Cristina Seixas + A CIRCULAÇÃO DO LIVRO EM ANGOLA, por João F. André


 

A professora e artista visual angolana Cristina Seixas nos traz um relato sobre a relação do músico Nick Cave, seus fãs e a literatura. O escritor angolano João Fernando André fala sobre a produção e circulação do livro em Angola, na África. Neste vídeo, você ainda confere as palavras de abraçar almas da psicóloga Angélica Nunes.

#nickcave #cristinaseixas #olivroemangola #joãofernandoandré #angélicanunes #canaloequadordascoisas

domingo, 3 de outubro de 2021

Ainda assim


 

Por Germano Xavier


se não houvesse mais nada
entre o Éden e o Caos
se o Jardim das Delícias fosse apenas 
uma imagem sem foco na direção do sol
sem bordas nem beiras
sem eiras nem destinação
ainda assim

haveria a Penumbra
a desafiar rotas de espera
caminhos sem futuro
dilemas e dissoluções
ainda assim

uma estrada e a memória
de um lugar sem Tempo
nem resolução



* Imagem: https://www.deviantart.com/poromaa/art/Urban-Objects-183429838

OS PRÊMIOS LITERÁRIOS EM ANGOLA, por João Fernando André


 

Neste vídeo, o escritor angolano João Fernando André fala sobre a problemática envolvendo os prêmios literários em Angola, na África. Você ainda confere as palavras de abraçar almas de minha conterrânea e psicóloga Angélica Nunes e, por fim, também fica sabendo quem foi o ganhador do livro referente ao 22º SORTEIO DE LIVROS aqui do canal.

#prêmiosliterários #angola #joãofernandoandré #sorteiodelivros #angélicanunes #canaloequadordascoisas

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Pelos mares da retranca



Por Germano Xavier


Quando conhecemos um poeta/escritor por indicação de um outro bucaneiro camarada ligado às artes, é lógico que a tendência é a boa surpresa, o contentamento, a boniteza do descobrimento. É quase uma regra isto, raríssimo dar errado. Quando o escritor Rômulo César Melo me falou sobre o Newton Messias, já fiquei naquele aguardo esperançoso. Aí com pouco tempo recebi em casa o livro EM MAR ALBERTO - 101 RETRANCAS (Mondrongo, 2019), e foi como eu ter colocado a bola na marca do pênalti. Estava tudo pronto. 

O livro do Newton é um evento completo. Palco, torcida, árbitros, jogadores (os versos), traves... Newton é o treinador, e por sê-lo escolheu a "retranca", forma poética invencionada e difundida em primeiras doses por Alberto da Cunha Melo, uma espécie de Telê Santana neste estilo de jogo poético. Mesmo eu, meio avesso às formas fixas na literatura em geral, não tive como esconder o engraçamento instantâneo para com as letras que estavam diante dos meus olhos quando da leitura do EM MAR ALBERTO... foi num zás e pronto, já havia lido o rebento do Newton. 

Primeiro: gostei deveras por estar ali aprendendo sobre uma forma de poesia ainda desconhecida para mim. Segundo: o Newton me provou que é um poeta que, apesar de escolher a "retranca", gosta mesmo é de jogar no ataque. E em time que está ganhando, meus nobres, não se pode mexer nem ousar falar mal. Encantado com aquele time de poemas logo de cara, coloquei-me como um torcedor na arquibancada. Fui torcendo, torcendo, torcendo, a cada novo poema, a cada novo terceto, a cada novo quarteto, a cada novo dístico, a cada nova composição. Resultado: o time de poemas que o técnico Newton Messias colocou em campo não só ganhou o jogo, como também se classificou para as finalíssimas do campeonato, universo em que só os bons ou muito aguerridos conseguem chegar. 

O livro está dividido em quase uma dezena de partes: espelho dágua (um poeta mais voltado para si, com toques narcísico-filosóficos bastante proeminentes); água no joelho (um poeta que prefere falar sobre táticas de guerra "literária" e adendos; arrecifes (um poeta livre em seus cotidianos de fé e de voragem); água nos ombros - retrancas de Peroba (um poeta dentro-e-fora do mar, perscrutando a sinfonia de Poseidon; água nos ombros - retrancas de Aldeia (um poeta ainda mais dentro dos chãos e mais perto das luas engaivotadas); sereias: mar aberto (um poeta com os seus, domando a Poesia - leoa marinha); água sobre a cabeça (um poeta ferido, salvo pela dor salina do viver). Ao todo, um bom e grosso apanhado sobre um pouco de todas as coisas do mundo embebido em uma forma estável, porém apta à causa das instabilidades gerais dos instantes.

O livro EM MAR ALBERTO - 101 RETRANCAS nos leva diretamente para os oceanos albertinos das primevas inovações, mas também possui a capacidade de nos revelar maduros traços senso-musicais e semântico-discursivos de um Newton Messias gaio, sabedor das errâncias, obra com águas de lastro suficientes para pousar em cabeceiras insones de leitores ávidos por uma voz de poesia realmente nova e firme. 



entrevista com Newton Messias


Germano Xavier – Newton, por que a Retranca?

Newton Messias – Porque tenho simpatia pelas formas fixas. Logo que conheci as retrancas do Alberto da Cunha Melo, comecei a escrever nessa forma muito interessante e mais na medida para a linguagem contemporânea do que o soneto.


Germano Xavier – Quem é Alberto da Cunha Melo para você e como anda o cenário poético ligado à produção de “Retranca” na poesia nacional? Há algum poeta que usa esta forma em outro país?

Newton Messias – Alberto da Cunha Melo foi um poeta pernambucano de Jaboatão dos Guararapes, falecido em 2007. Sua obra completa foi publicada pela Record em 2017, contendo seus livros lançados e uma grande quantidade de poemas não publicados em vida. Sua obra mais conhecida é o narrativo Yacala, de 1999, todo escrito em retrancas. Em 2018, a editora Mondrongo lançou a Antologia Brasileira da Retranca, com a participação de 35 poetas de todo país, mostrando que o poeta e sua forma não são tão desconhecidos quanto alguns, inclusive eu, achavam.


Germano Xavier – Por gentileza, Newton, fale-nos um pouco mais acerca do seu EM MAR ALBERTO - 101 RETRANCAS (Mondrongo, 2019)? Como foi o processo criativo da obra?

Newton Messias – Em Mar Alberto é o meu segundo livro de poesia, o primeiro, Passagem, foi uma edição pessoal. Comecei a trabalhar com as Retrancas no início de 2017. Estimulado pela Cláudia Cordeiro, grande divulgadora da obra do Alberto, seu companheiro, cheguei ao número de 101 poemas no final de 2018. O Gustavo Felicíssimo, dono da Mondrongo, que tem um livro só de Retrancas, e que conheci pela internet em 2017, topou publicar a coletânea. No livro, passeio por diversos temas: poesia, política, sociedade, religião, amor, etc. A influência da dicção albertina é bem evidente, mas procurei imprimir um estilo pessoal, o que espero ter alcançado. Foi assim.


Germano Xavier – Vou repetir a mesma pergunta que fiz recentemente para o escritor Rômulo César Melo: parafraseando e ampliando o pensamento de David Lodge, para o qual todo texto implica em uma constante troca, envolvendo estruturas formais e todas as aberturas que a vida nos possibilita, o que você pensa sobre a relação Forma fixa (Retranca) x Poesia x Contemporaneidade?

Newton Messias – nenhum poeta cria a partir do nada, apesar de alguns imaginarem poderem fazer algo bom sem partir de alguma tradição. Ilusão. Tenho muito respeito pelos poetas que me precederam, e reconheço no que faço a forte influência de vários deles e delas. Não acho que a forma fixa e o verso rimado morreram. Também não acho que faz sentido escrever sonetos como os parnasianos escreviam. Os temas e o estilo devem refletir as preocupações do complexo mundo contemporâneo, com sua fragmentação, angústias e crises. Valorizo igualmente tanto a tradição quanto a inovação, o passado e o futuro, o verso medido e o livre. As formas estão a serviço da poesia e do poeta, nunca o contrário.


Germano Xavier – Newton, você possui formação em Música. De que forma seus conhecimentos musicais perpassam o seu fazer literário? Há simbiose? Fale-nos um pouco sobre a importância da Geração de 65 para o cenário nacional, suas maiores referências e, se possível, fale-nos também sobre seus planos literários futuros.

Newton Messias - A música me deu um bom ouvido para o som e para o ritmo do verso, sem dúvida, vários leitores já me disseram isso. No mais, não sei como minha formação afeta minha poesia. Espero que você me diga.

A geração de 65 é milagrosa: além do Alberto, gosto e leio Paulo Gustavo, Ângelo Monteiro e José Mário Rodrigues. Também Marcus Accoly, José Luiz, Frederico Spencer, Terezinha, etc. É um grupo que todo poeta pernambucano que valoriza a tradição deve conhecer pela qualidade de seus trabalhos.
Minha influência mais óbvia é o Alberto da Cunha Melo, mais, e o João Cabral de Melo Neto, menos. Também não dá pra escapar do Drummond e da Bíblia.

O próximo livro deve conter mais poemas em versos livres, mas também retrancas, sonetos, redondilhas, haicais, etc. Eu gosto dessa versatilidade em poesia. Minha musa é multiversátil.






* Imagens: http://www.mallarmargens.com/2019/02/12-poemas-de-em-mar-alberto-101.html
http://www.albertocmelo.com.br/2019/03/10/epifania-prefacio-do-livro-em-mar-alberto-de-newton-messias/