| Desde 2007 | Por Germano V. Xavier | Em memória de Milton de Oliveira Cardoso Júnior | + de 2.200 textos publicados |
domingo, 23 de janeiro de 2022
A HISTÓRIA DOS MOVIMENTOS LITERÁRIOS ANGOLANOS
segunda-feira, 17 de janeiro de 2022
Sobre "Kalinda, a princesa que perdeu os cabelos e outras histórias africanas", de Celso Sisto
Por Germano Xavier
Cada
vez mais tenho procurado ler livros de escritoras e escritores negros,
africanos ou que, de alguma maneira, tragam impresso nas páginas ou no contexto
geral um diálogo direto com os acontecimentos e com as coisas de África. É
necessário fazer tal movimento. E tenho quase certeza de que os contos
populares africanos são uma das melhores maneiras de que dispomos para
adentrarmos universo tão vasto e amplificado.
Os
contos populares africanos são capazes de nos colocar diante das essências da
vida de todo um continente, de todo um povo uno-múltiplo e do funcionamento do
mundo. As vozes que eles ecoam dentro de nós são vozes antigas, ancestrais, e
em geral movimentam incontornáveis ensinamentos.
Kalinda, a princesa que perdeu os
cabelos e outras histórias africanas é um vivo exemplo do
que escrevi nos parágrafos anteriores. Celso Sisto, autor e ilustrador, organiza
e reconta cinco histórias fantásticas, em todos os sentidos possíveis,
possibilitando aos leitores uma imersão plena e bastante particular pela riqueza
cultural de diferentes povos retratados no livro.
As
narrativas, por si só, são um capítulos à parte. Com detalhes que muito facilmente
nos ligam aos contos de fadas de raízes europeias, na verdade pedem para serem lidas
e incorporadas como histórias-motores, narrativas geradoras de forças e de
ânimos, além de influenciadoras e condutoras vitais. Em cinco contos, por sinal bem
diferentes entre si, Celso Sisto imprime a ideia certeira de que não há mesmo
limites para a imaginação do ser humano.
Outro quesito de destaque é o catálogo de ilustrações escolhido para pontuar e
intercalar as narrativas. Belíssimas e muito expressivas. Ao final, o autor
ainda situa o lugar de origem de cada um dos contos presentes no livro. Quênia,
Togo, Benin, Nigéria, Angola, África do Sul, Zâmbia, Moçambique, Botsuana,
Zimbábue, Namíbia e Argélia são algumas das localidades por onde passeamos ao
ler os textos e as imagens de Kalinda, a
princesa que perdeu os cabelos e outras histórias africanas (Escarlate, 2018). Dessa forma, podemos interagir com
ainda mais entusiasmo em todo o processo de leitura e conhecimento do material.
Imagem: Google
segunda-feira, 10 de janeiro de 2022
LEWIS CARROLL E ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS (Outra perspectiva)
segunda-feira, 3 de janeiro de 2022
Sobre "Estudo do texto: "De como fazer filosofia sem ser grego, estar morto ou ser gênio", de Gonzalo Armijos Palácios", escrito por Ana Lúcia Sorrentino
"Aqui no Brasil a gente é estimulado a não filosofar e você sabe disso". Movida por uma espécie de revolta interna, já que "os professores não deixam os alunos produzirem, os professores querem que a gente comente o comentário do comentador", a filósofa paulista e amiga de longa data Ana Lúcia Sorrentino escreveu o seu "Estudo do texto: "De como fazer filosofia sem ser grego, estar morto ou ser gênio", de Gonzalo Armijos Palácios", em um interessante diálogo com o texto do Gonzalo.
Nele, inúmeros temas intrínsecos à filosofia são trabalhados de forma simples e objetiva, a começar pela falta de liberdade que estudantes da área possuem para se produzir filosofia no Brasil atualmente. Sorrentino critica "a necessidade de se ficar lendo comentadores", num perde-ganha eterno dentro do jogo de palavras entre os variados comentadores de uma teoria ou de um filósofo em questão, ao invés de ser dar importância à dada opinião ou se focar em um pensamento minimamente original. Ainda dentro da esfera acadêmica, a filósofa escancara a falta de aceitação por parte dos professores, que teimam em refutar essa "particular" opinião. "Mexer com o filósofo consagrado é muito difícil. Enfrentá-lo, digo. É muito difícil contestar um filósofo consagrado, mas a gente precisa defender sempre o pensamento próprio".
Em sua análise, Ana Lúcia Sorrentino explica que é preciso fazer exatamente aquilo que os gregos fizeram. "Eles transgrediram, foram rebeldes, falaram o que pensavam", reforça. "Sendo assim, a língua não deve ser um empecilho para se filosofar. É possível e extremamente viável filosofar em língua portuguesa". A filosofia é para quem? Para a elite que pensa? O que fazer para a filosofia chegar mais perto de todos nós? A filosofia é para eleitos? E por que escrever filosofia de forma tão difícil? Acabar com esse entrave referente à língua é, pois, primordial. Para Sorrentino, de acordo com o seu ponto de vista, somente olhando para o problema e pensando a partir do problema, ou seja, pensando a partir da própria realidade, é que a filosofia poderá sobreviver.
"Assim como comentar arte não é ser artista, comentar filosofia não é ser filósofo", diz o Gonzalo no texto esmiuçado. Em cima disso, Sorrentino se posiciona ainda mais veementemente. "O filósofo perdeu a espontaneidade, pois não está imbricado na própria realidade. Quem disse que o brasileiro seria incapaz de filosofar? Quem prova tamanha indelicadeza?" A autora preconiza que, para fazer filosofia, não é preciso seguir cartilha alguma. Basta apenas filosofar, filosofar de verdade.
* Imagem: Google
NELO E ORINDO: TERRITÓRIOS FRATURADOS E O NÃO-LUGAR DO SERTANEJO, por James Wilker
sábado, 1 de janeiro de 2022
Sobre "Elogio do Carvão", de Marcus Vinicius Quiroga
Por Germano Xavier
O livro vencedor do I Prêmio Cepe Nacional de Literatura 2015 na categoria Poesia, intitulado de ELOGIO DO CARVÃO e escrito pelo carioca Marcus Vinicius Quiroga, é inteiro entrecortado e/ou baseado no poema "Meninos carvoeiros", de Manuel Bandeira. São, ao todo, 14 atravessamentos poéticos em diálogo direto com o consagrado poema do autor recifense. Quiroga entoa, de início, uma espécie de loa ao Grafite, à escrita, ao poder que a palavra tem de simplesmente dizer verdades e de pintar realidades. O grafite, que tanto escreve o rosto do pão quanto a quentura gélida das fomes. O grafite, que é, na verdade, o que incomoda, o que fica - o carvão do grafite. Depois, rasga com os dentes do verso o pão. O pão que adia a morte por um dia de uma vida extrema. O pão que divide a noite e o dia sem lua calma. Os meninos são, pois, como espantalhos. Quem são estes homens? - pergunta o poeta. Homens-escória, homens-peste? Todo espantalho é sem rastro, a não ser o do abandono. Uma conclusão? E a velhinha do poema do Bandeira? Quem é ela? Ou quem terá sido? A que vive vidas outras? A mulher na rua. Carvoero é o Tempo. Carvoero. Assim mesmo, sem o i. A língua própria dos carvoeros. Animais. Animais que não apelam. Para nada. Simplesmente vão. Animais que fazem. Serviço sujo. Relho. A dor de quem bate. E novamente o Pão. Pão de joio. Meninos. Carvoeiros. Meninos morcegos. Cangalha. Na cangalha guardam a rudeza da vida. Meninos que dão vários gritos de dor. Lenha. O fogo estancado. Viver. Sobreviver. Tarefa que nunca acaba. Remendo. Roupas de circo. Quem é o palhaço desse circo? D'après Portinari. Sob o ângulo do grafite, um sorriso distante dentro do horizonte da poesia.
* Imagem: Google