terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Silêncios de ouro


Por Germano Xavier




Gianduia


Eu te prefiro.
Eu te pré-firo.
Aquele gosto gostoso é acabável, não?



Telharias



#1

de encontro ao
outro topo, topas?
vai na frente e amortece.



#2

gato pingado
não pinga nem se quer
quem pode pingar é preto bichano
que sei tem preto pra valer



#3

quem tem medo do escuro sabe
que o branco é todo paz




 Imagem: Deviantart.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

O signo como representação de algo


Por Germano Xavier 

A partir da leitura do texto Semiótica e Semiologia, de Carlos Vogt, e também das explanações em sala de aula feitas pelo professor Cosme Gomes, pude perceber que a semiótica está inserida num jogo abstrato-perceptivo ou, ainda, imaginário-sensitivo. Tomando como base o conceito de Charles Sanders Pierce, renomado lógico e filósofo americano, o signo é algo que possui a faculdade de representar alguma coisa para alguém. O objeto da semiótica, o signo, existe a partir do momento em que um dado significado é concebido como sendo aspecto universal ou universalizante. Em outras palavras, o signo, trabalhando conjuntamente com a parcela mental do indivíduo, adquire potencial necessário para incutir, nessa mesma mentalidade, um modelo de representação parcialmente ou completamente equivalente, com similaridade menos ou mais apurada. Com o pressuposto de que tudo necessita ser nomeado, assim como receber uma carga de significação no desígnio de construir um corpo unitário completo, a semiótica, vista aqui no tocante à teoria de Pierce, destina-se a estudar o signo em parcelas subdivididas, fato que auxilia no melhor aproveitamento de sua complexidade e, posteriormente, de toda a sua lógica física, psíquica e social.

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

O recheio dos dias


Por Germano Xavier



A revistaria


O homem entrou na revistaria suando pelos orifícios da pele. A mulher no caixa o olhou sem nenhuma palavra nas pálpebras. Ficou olhando para baixo e fingindo estar preocupada com a gaveta que não abria mais com certa facilidade de nova. Ele levantou a cabeça para as prateleiras mais altas e foi olhando coisas sobre literatura, cinema, música, sem querer notar a fileira de magazines com muitas mulheres nuas. O suficiente permaneceu para que seu suor secasse na própria roupa, como se nela o líquido pudesse coagular. Separou três revistas e um jogo de palavras cruzadas nível difícil. Colocou no balcão onde a mulher passava boa parte do dia sentada a espera dos clientes. Depois o homem foi na seção dos livros de bolso. Pegou um Camões. Olhando para o homem, a mulher notou seu suor voltando a transpor a barreira da pele. Não falou nada. Com o braço direito, o homem enfiou a mão no bolso e pagou pela compra. Já se virando, pediu um maço de cigarros: “Não, aquele da ponta... Isso. Obrigado.” Virou-se e saiu com a sacola. “Você não sabe quem sou eu, menina!”, exclamou consigo mesmo em voz muda e interna. Os olhos da mulher seguiram-no até perdê-lo de vista, quando assim se fez dobrar a esquina que dava para a rua principal. Meio boba, viu uma cliente entrar na loja, mesmo assim não deixou de se perguntar se haveria relação do suor na testa do homem com o livro que ele levou cujo título versava algo sobre luzes, pareceu.



O especialista


Um homem dono de uma marcenaria estava contratando um marceneiro para a sua marcenaria. O marceneiro estava procurando emprego pela cidade e soube da vaga para marceneiro na já citada marcenaria. O marceneiro foi ver do que se tratava. O dono da marcenaria, que também era marceneiro, foi logo abrindo uma entrevista com um “então, caba, me fale de tu”. O marceneiro que estava procurando emprego começou a falar dele mesmo, mesmo tendo pouca coisa a dizer. O dono marceneiro estava meio que aprovando o discurso. Mas aí veio a pergunta crucial, e os dois terminaram num diálogo espantoso.

- Quié que tu sabe fazê? – perguntou o dono da marcenaria.

- Eu sei fazê porta e portão – respondeu o aspirante a marceneiro, puxando um pouco da letra erre quando no dizer das palavras.

- Quê mais?

- Só isso mermo, doutor.

- Só?

- Só.

- Oxe, home, e cadeira? Sabe fazê cadeira? – relutou o dono da marcenaria, meio que abrindo os braços em desagrado ou espanto.

- Não, só faço porta e portão.

- Janela, umbral, escada, biombo, armário... nada?

- Só porta e portão, doutor.

- Moço, moço, e tu é especialista, é? – disse, meio que finalizando o papo contratual.

- Sou nada disso não, doutor. É que eu só gosto de fazer porta e portão mesmo.



O convívio


Dois homens estão sentados no restaurante e esperam pelo prato do dia. De repente entra uma mulher de saia e chapéu, aos farrapos e muito suja, segurando uma garrafinha de cachaça junto ao peito, e senta-se perto dos dois. Os homens entreolham-se por um breve momento, um olha para a tela digital do seu relógio, o outro procura as chaves do automóvel cor verde-mamona estacionado na frente do estabelecimento, mas de onde estou a cena condensa uma notória e deslumbrante humanidade. 



Imagem: Deviantart.

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Polaróides pessoanas



Por Germano Xavier



Eu te amo, João Pessoa.
Tu me amas?




Ponto de Cem Réis


aqui passando,
perguntei ao senhor encostado na pilastra
quem era o sujeito com olhos de bronze sentado no banco.

o senhor olhou para dentro da lanchonete,
como a desejar um auxílio,
mas disse com uma baforada:


“é Linaldo Alves, autiusta. é Linaldo Alves, autiusta famoso!”

eu, já experto com estes idiomas maravilhosos do povo,
criei dúvida e o artista, soube depois, chamava-se Livardo Alves.

mas pouco me importava a exatidão de um nome.
passei bons minutos me aprofundando em corações de pedra,
ao lado do autiusta famoso Linaldo Alves.



De pessoas pessoanas


#1


Markoni é meu amigo mais velho daqui,
e fazia aparições na rodoviária.
O problema é que acho que ele criou asas.



#2


Cêssa foi com quem conversei primeiro
nessa segunda chegada.
Ela me disse que quem tem boca vai a Roma,
e que da Lagoa o céu é o limite.
Eu acreditei.



#3


A mulher do supermercado me achou esquisito,
usando cara de “viagem de 30 horas”.
No outro dia apareci mais dormido,
e ela fez cara de “tá morando aqui perto?”.



#4


Num restaurante no centro,
a dona me ensinou, entusiasmada, como eu fazia
para gastar R$ 5,50 até as rebarbas do prato pequeno.



#5


O homem da padaria é cismado comigo.
É que devo ter cara de cão chupando manga.
(vai saber...)



Imagem: Deviantart.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Da coragem intelectual



Por Germano Xavier



Em se tratando de crítica literária, todo olhar inteligente sobre algum texto ou alguma produção intelectual maior ou mais bem elaborada deveria ser, antes de tudo, um olhar ingênuo, possuir dentro de si e de seu campo de visão um primeiro foco baseado essencialmente na ingenuidade. É somente o olhar destituído de maquinações ou estratégias de ação mais contundentes que pode melhor construir toda uma esfera de complexidade crítica de que se necessita para o desempenho de qualquer atividade de investigação. A ingenuidade dos olhos é quem produz a mais verdadeira causticidade, elemento indispensável para o leitor profissional ou mesmo para qualquer tipo de pessoa que se legitime enquanto bom leitor. Deste modo, o caminho para o urgente distanciamento existível entre o leitor e a obra se abre de maneira facilitada, o que ajuda – e muito – no processo de construção do discurso crítico. Assim, o sujeito de criticidade invade o objeto com mais firmeza de análise e sobrepõe-se a ele, fazendo com que o objeto passe a estar inteiramente em seu domínio.

Hoje, nos mais diversos meios de comunicação, seja no Brasil ou no mundo, o que se enxerga é um bando de intelectuais (como eu poderia dizer?) maquinados, robotizados, manipulados por ordens expressas de método e técnica, capacitados para complicar o que muitas vezes é simples, habilitados para descomplicar o descomplicável com receitas baseadas numa estética do adorno calculado. Falta a eles – e a nós também, críticos por natureza – o redescobrimento da ingenuidade e de seu poder de persuasão. Falta-nos o primeiro olhar, mesmo que corrompido, mas o primeiro olhar. O olhar que é feito de espanto, de um susto irremediável, um olhar apaixonadamente lúcido, um olhar amante por excelência, que por sua vez é também um olhar de dúvida, de incerteza, um olhar perdido e com medo da multidão no objeto. Mas um olhar sem covardia, que olhe para o interior das coisas sem precisar descascá-las, um olhar mágico-mítico, ou melhor, um olhar corajosamente ingênuo.


segunda-feira, 9 de julho de 2007

Nota sobre a notícia e o jornalismo




Por Germano Xavier



De acordo com as teorias construcionistas, a citar a estruturalista e a interacionista, podemos concatenar, de antemão, que as notícias são o reflexo – não no sentido de transposição, mas no de construção – de um trabalho de ordem coletiva, o que até aqui não deixa de ser apenas uma análise óbvia. Todo trabalho/produção denota a utilização de critérios e métodos para sua realização. Com o trato noticiário não é diferente. As notícias são como são, não porque elas são matérias pré-concebidas ou pré-moldadas, reflexos da realidade, como defende a Teoria do Espelho, mas sim porque existe a necessidade da lapidação desse objeto, desde o momento em que ele é apenas um acontecimento até o instante em que ele é transformado, com a utilização de inúmeros recursos, em notícia propriamente dita. O jornalista é, aqui, visto como um ourives, um talhador, pois é dado a ele a função ou o poder de “dar vida” ao fato. Claro, não podemos deixar de associar o fato de as próprias notícias serem construções, ou seja, é evidente a possibilidade do próprio acontecimento ser resultante de interações que dependam dos fatores organizacionais e dos mapas culturais acionados pela figura do repórter. Aqui, estamos diante de outro ponto importante: as notícias são também o que são por representarem um interesse próprio que não o individual, porém jamais sendo de caráter imparcial – trato mais plausível quando das ferramentas ligadas às teorias da ação política, posto que as teorias construcionistas negam o caráter de distorção das notícias. Se é imparcial, óbvio também, elas podem ser distorcidas. As teorias construcionistas falam da interação entre fonte, jornalista e sociedade, uma espécie de cultura profissional. É importante salientar aqui, novamente, o corpo do aparelho jornalístico (empresa, editoriais, jornalistas). Há na teoria estruturalista um quesito bem fechado diante do que pode ou não pode ser notícia. Acredita-se piamente no que é de ordem primária e basal. A credibilidade e a legitimidade dos fatos só são conquistadas ou reconhecidas se o material for oriundo de fontes oficiais. Essa visão vai de encontro aos que defendem a teoria interacionista, que dizem haver a possibilidade clara de que algo proveniente de outras fontes/bases, que não as oficiais, possam, e com boas chances para tal, tornar a ser um produto final e polido. Nesse ínterim, também surgem outras condições que fazem das notícias o que elas são: uma delas é o desenvolvimento e a acurácia com duas problemáticas fundamentais: o tempo e o espaço. É preciso estar onde o fato/acontecimento ocorre. Decorrente disso, há uma preocupação com a divisão das várias facetas do espaço de trabalho: mundo em áreas, jornais/empresas em editorias, ou seja, uma segregação do aparelho como um todo. Valoriza-se o instantâneo/atual em detrimento do recém-atual, que já se constitui em passado. Uma estratégia de organização e otimização de toda a produção jornalística. Tomando como pressupostos fundamentais e inerentes à prática e ao exercício do jornalismo, podemos inferir que as notícias são como são porque simplesmente utilizam desses recursos, sem nunca se esquecer dos interesses e dos possíveis interessados. Outro ponto de destaque, em todo o campo jornalístico, dizem tratar-se dos critérios de noticiabilidade que envolvem a construção da produção da notícia, tais quais os critérios substantivos e de produto. São vários os critérios de noticiabilidade, tomando em consideração as diversas abordagens/teorias que o jornalismo enquanto ciência perfaz. Aqui, os valores/notícias revelam, com justiça, os seus reais significados. Tudo inteiramente e intensamente relacionado. As características construtivas da notícia, algumas já citadas anteriormente neste mesmo texto, tornam ainda mais perceptível o caráter de construção/produção que a notícia agrega. O trabalho de artesão do profissional desse segmento é ainda mais indispensável, tendo ele que fomentar um ordenamento para a efetuação de suas capacidades, o que se costuma chamar de “rotinas produtivas”. Trabalha-se a apuração, a seleção e a publicação/materialização do fato com a finalidade de – e aqui eu repito o termo – “dar vida” ao que é, principalmente, atual, estritamente avesso ao cotidiano ou ao que foge ao natural (caráter extraordinário), ao que se refere ao grau hierárquico da fonte, ao que é de interesse de um contingente maior de pessoas, ao que atinge de forma hierárquica os segmentos sociais (quanto maior for o interesse das classes mais altas, mais noticiável é o fato), o que diz respeito ao capital que move este setor. Sendo assim, torna-se viável e de bastante funcionalidade/praticidade o respeito aos critérios que fazem o constituinte-mor do jornalismo – sem esquecer a importância da gestão da linguagem, das diferenças e particularidades de cada meio, como o televisivo e o impresso, da necessidade do uso de uma linguagem diversificada de acordo com o material-produto, as questões que giram entorno das novidades, entre tantos outros pertinentes aos critérios de produto -, a notícia ou o fato-noticiável, a mercadoria mais preciosa e motor de toda essa engrenagem, daí a importância das rotinas produtivas no processo de produção das notícias. Toda rotina produtiva implica em um exercício de disciplina. Em contrapartida, todo exercício de disciplina nos remete a uma aplicação mais ordenada e eficaz de todo o aparelho e dos conhecimentos/experiências adquiridos durante toda a vida profissional do jornalista. Existe, através do emprego desse conjunto de ferramentas, uma probabilidade mais reduzida de se observar desperdícios e ramificações de caráter dispensável nas notícias. Dentro das rotinas de produção, três são os pilares que as suportam: a apuração, a seleção e o ato final, que é o endereçamento, em forma de texto/imagem, edição da notícia ao leitor/ouvinte. Esse processo, que parece ser demasiado simples, implica em diversos encadeamentos – tudo se faz muito importante, sem falar na relevância das agências de notícias e do bom uso dos memorandos, ou seja, das notícias planejadas. Por exemplo: no momento da apuração, o jornalista deve ter e manter uma rede de fontes críveis, a ponto de tornar mais ágil e dinâmico o seu esforço. Isso acontece, também, nas outras duas fases (seleção, publicação). Seguindo esses direcionamentos, que são tanto do aparelho da empresa quando do indivíduo, o jornalismo consegue, na maioria das vezes, cumprir o seu papel de informar integralmente e instantaneamente o público ao qual se destina. 

Destarte, é fácil entender o jornalismo como importante forma de conhecimento devido a simples fatores, tais como:

• O jornalismo é um aparelho produtor de conhecimento de rápida circulação, de fácil absorção e extremamente popular; é o único meio de produção e interação intelectual de muitas pessoas no mundo; é meio fomentador de discussões concernentes aos mais diversos segmentos sociais; é, querendo ou não, formador de opinião e de consciência crítica, servindo de ponte para as mais variadas conquistas ideológicas etc.