segunda-feira, 24 de março de 2008

O lead jornalístico e o cotexto


caminhos para uma simbiose obrigatória

As marcas textuais que caracterizam e qualificam um texto como sendo, ele, um produto jornalístico são diversas, assim como se dá com outras tipologias ou gêneros de texto. Além de requerer sua respectiva presença em um dado suporte midiático, seja ele em formato impresso, radiofônico, televisivo ou eletrônico, o produto textual de ordem jornalística também pressupõe, entre tantos outros mecanismos, a velocidade, a informatividade, o desprendimento e alguns elementos técnicos que auxiliam no processo ao qual se destina. E é justamente dentro deste panorama que se faz demasiado visível a forte dependência que o lead tem para com o cotexto discursivo.

O lead de um jornal impresso, para tomar como exemplo, tem por finalidade fazer com que o leitor, ao ler o primeiro parágrafo de toda a matéria/notícia publicada – local onde geralmente o lead aparece -, seja informado dos acontecimentos basais – em geral, o lead tenciona responder às perguntas “o quê?, como?, quando?, onde? e por quê”. Todavia, para que a transmissão da mensagem seja efetuada com clareza, as relações entre os termos utilizados e o sentido agregado à mensagem precisam estar em perfeita harmonia. E, para que isso ocorra, é necessário que haja uma rigorosa observação do contexto, que, para Maingueneau (2001, p.26), “não é necessariamente o ambiente físico, o momento e o lugar da enunciação.”

O cotexto encaixa-se dentro do contexto, e forma, juntamente com o “contexto situacional” e com os “saberes anteriores à enunciação”, um complexo de instrumentos que auxiliam na compreensão do texto. O lead, como parte fundamental de uma notícia jornalística, deixa-se encaminhar pela íntima relação que tem com os elementos dêiticos/conectivos pertencentes ao cotexto linguístico. Segundo Maingueneau, são estas “sequências verbais encontradas antes ou depois da unidade a interpretar” (2001, p.27) que vão assegurar a qualidade ou o teor de incompreensibilidade/clareza possivelmente presentes no lead.

Sendo assim, percebe-se uma simbiose linguística de fundamentos quase que obrigatórios. É verossímil, e nada constrangedor, dizer que um não existe sem o outro, ou que um é indispensável ao outro. Todo esse processo faz com que, quase que imperceptivelmente, o sujeito-leitor se utilize, ao ler o lead dentro do corpo de um texto jornalístico, de recursos indispensáveis à interpretação do conteúdo, fazendo com que o propósito informacional seja plenamente averiguado no ato da leitura.



MAINGUENEAU, Dominique. Análise de Textos de Comunicação. São Paulo: Ed. Cortez, 2001.

Nenhum comentário: