quinta-feira, 21 de agosto de 2014

De como cifrar a fome

*
Por Germano Xavier


"O mais profundo é a pele."
Paul Valéry

tocar para refazermos a pele
um do outro, descamada pelos dias,
tocar para não andarmos nus,
para sentirmos a coberta
natural da vida

tocar e causar um levante,
oposto ao que se fecha,
arco-íris de ponta a ponta,
pés-cabeça num espiralado vento inteiro
e interno e terno e eterno
(e eternamente)

tocar como quem toca a lava do vulcão
que queima a epiderme da Terra
com fogo e nada mais
– maior ensinamento, o magma? –,
tocar a alma por fora
e repintar primaveras inflamáveis
de prazer

tocar com poder
de repercussão: como se toca
para nunca haver morte?
como se impede o que poderá ficar
de enfeite nos longos e nos curtos caminhos
com um toque, um simples, mero e vil
toque de não-recolher?


* Imagem retirada do site Deviantart.

Um comentário:

Arco-Íris de Frida disse...

Como se toca para nunca haver morte?... quero aprender isso...