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Por Germano Xavier
Sol. Domingo. Preocupação inicial: tomar café. Vontade de tomar café de posto! Beira de estrada? Sim, vamos? Levantamos. Procuramos um posto e tomamos café de posto. Sol. Domingo. Segunda preocupação: fazer compras para a semana. Tempo das coisas ditas naturais. Vamos ao VERDÃO? Acelero. Estaciono o carro bem na parte da frente do estabelecimento, junto aos grandes portões de entrada. Ela desce. Traga amêndoas, por favor. Falei pela fresta do vidro. Consegui ser escutado. Não vai entrar? Não, ficarei aqui fora.
E fiquei.
Poucos minutos depois, após impulsivamente verificar possíveis mensagens no celular, fixei meus olhos na moça do CAIXA 2 – ATÉ 10 VOLUMES. Ela me olhou rapidamente num dado momento e depois fez seus olhos se perderem no meio do galpão. Olhava tanto para dentro quanto para fora do lugar de onde estava, tanto para baixo quanto para cima, para os lados. Ninguém para atender. Solitária, à espera de algum cliente. Eu, fixado a observá-la.
Do outro lado, no CAIXA 1, uma moça com uma bolsa a tiracolo começava a retirar de dentro de seu carrinho os alimentos selecionados durante o passeio por dentro do supermercado de “alimentos saudáveis”. A atendente encostava o código de barra de cada embalagem num leitor óptico. Uma luzinha vermelha intermitente. O preço saia na grande tela um pouco acima de suas cabeças e a soma ia se dando automaticamente. Tudo aparentemente muito normal.
Enquanto toda esta movimentação acontecia ao seu lado, a moça do CAIXA 2 – ATÉ 10 VOLUMES continuava a destilar seus olhos perdidos pelo grande quadrado de cimento revestido com telhas tipo Eternit.
Bonita, ela. Longos cabelos. Morena, batom nos lábios, uniforme verde da empresa, crachá pendurado no pescoço. Estava sentada. Eu só podia vê-la a partir da parte superior de seu tronco. Mãos tateando o nada sobre o balcão. Certa indecência de gestos. Outro moço do VERDÃO arrumava os carrinhos, um a um, encaixando-os velozmente num esforço repetitivo. Sons metálicos eram ouvidos.
O interior do carro esquentava. Abaixei mais os vidros.
Guardei o celular no bolso e concentrei-me ainda mais a olhar a moça dos olhos incertos. O que pensa aquela moça neste exato instante? Será feliz com a vida que leva? Estaria planejando uma fuga desesperada nos próximos segundos? Estaria só esperando o tempo passar para poder, enfim, e ao toque da sirene das maquinarias de trabalho, abraçar sua mãe em pleno Dia das Mães? E como seria o seu “eu te amo, mãe”, depois de tanto tédio vivido na matina dominical? De onde vinham aqueles olhos desnutridos, sem vida?
Olhando para ela, fiz-me recordar de uma outra moça que havia visto dia desses no shopping center. Esta, diante de um pequeno balcão, quase do tamanho de seu corpo, fazia com empolgação propaganda boca-a-boca de reluzentes e coloridas capas para chaveiros de automóveis a todos os passantes, inclusive a mim. Eu, esperando o elevador chegar ao meu posto, também observava-a em sua porção risível de vida. Em troca de? Ao passo em que detectava tristeza em seu olhar. O shopping center abria por volta das 10 horas da manhã e só fechava 10 da noite. Interroguei-me se realmente era possível passar o dia ali, naqueles modos. O assustado seria eu? Incomodado demais?
Retornando do flash de memória, senti a porta do carona se abrir. Quase um susto. Trouxe as amêndoas? Estava em falta. Tudo bem. Não quer passar no outro supermercado? Virei o rosto uma derradeira vez. Busquei a moça do Caixa 2...
Não, melhor não. Vamos para casa.
* Imagem: http://www.sst.sc.gov.br/?idNoticia=634
Um comentário:
Gostei da leitura.Bastante sedutora essa garota.
Certamente irá te acompanhar até novas visões,mais frescas e actualizadas.
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