domingo, 15 de novembro de 2015

Lambedouro

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Por Germano Xavier
#soschapadadiamantina



"Candombá, dá providença!
Faz o teu fogo quemá
Ô pulo meno isquentá
Dos guverno a indiferença
Quema os papé das pendença
Dos vidraçado salão
Reduz a cinza os ladrão
E mostra no teu luzi
Que nos mapa do Brasi
Tomém inxeste o sertão!"

(Tude Celestino de Souza, 
trecho do poema CANDOMBÁ)


No punhal do diabo, o golpe insano,
no homem humano, um choro-botão.
Lambedouro de chagas, fogaréu-mucugês,
canbombás ressequidos teimam morrer.

Sincorá do Espinhaço, forte e centro baiano,
Marimbus moribundo e uma Mixila sangrando.
Fumacinha, Mosquitos, Paridas, Morro Branco...
de um verdume doente e de um mal a roer.

Foi homem, foi homem? Quem foi a lançar
a brasa-desgraça a crepitar o Capão?
Lacrau deslavrado, um solo de mortos,
a dor mina o rio e minh’alma caatinga.

Bacia, serra dos mitos, Pai Inácio das lendas...
Ramalho, Camelo, doces Campos de São João,
em cada episódio as chamas, Andaraí
e Paty, varrem fundo meu coração.

Minha Iraquara das grutas, nossos Lençóis
diamantes, brigada de luta nos abafos guerreiros.
Espera o Guiné por um sol bem melhor, ou por
um rio Preto inteiro em prior do céu despencar.

Ibicoaras e mocós em dança-esperança,
Igatu e Palmeiras, sem veias, sem vida.
Bravo fogo castiga nossa mata, intenção,
e é a morte tão viva em cada alma-estação.

Mas somos da alta-corte dos quebra-ventos,
meu garimpo é escravo de uma fé sem prisão.
Nacionais forasteiros e de um todo mundano,
Roncador sopra o fogo e põe no Caldeirão.

Águas Claras marinam o foco da turba,
dantesco infernal no dorso do Cardoso.
Andorinhas e Três Barras, os Cristais viajantes,
Véu de Noiva esconde o Buracão em sufoco.

Barbárvores encravadas nas pedras erguem-se
em livramento. Rochas calcárias, terras glaciais,
vozes de imortalidade ouriçam as gentes,
e a Chapada, clemente, renasce por nossas mãos!


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Imagens: Chapada Diamantina/Google.

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