Por Germano Xavier
Lá ia, pois, um leitor a contemplar um livro de poemas. Lá ia, pois, um leitor a lembrar de duas frases de dois grandes nomes da literatura universal: “Escrever é um ócio muito trabalhoso”, de Goethe, e “Escrever é que é o verdadeiro prazer; ser lido é um prazer superficial”, de Virginia Woolf. Uma dupla de frases que podem muito bem funcionar no ousado intuito de resumir a escrita de Nadine Granad, que aponta agora para inícios.
Pois, lá ia, ela, sendo isto: a balança entre o seu labor “preguiçoso” (poemas quase sempre breves) e a escrita na busca de ser lida ou não. Por um lado, penso que a própria autora – iniciante ainda no fazer livresco-literário, ou pelo menos em matéria de publicação – pode ainda imaginar-se descrente deste “talento” que por ora mostro aqui... Contudo, ainda protestante desta sina, pode também revelar-se uma esquizofrênica neste “querer-não querer” de caráter ontológico; por outro, buscando ocultar-se na querência do sucesso.
Escrevo estas palavras iniciais sobre a poesia de Nadine Granad porque amo o ofício do escritor, do poeta, e odeio-o ao mesmo tempo, e também por ser macunaímaco e operante e/ou me satisfazer plenamente de prazeres verdadeiros e nutritivos ou vis e débeis... Também é isto que deve suceder com a poeta no presente livro. É quase imperativo dizer que o que se quer com a poesia, poetas e escritores que somos, é que ela, através de nossos olhares e palavras, seja confundida com um holofote eclíptico, com a honraria e com o disfarce, com a calma e com a tormenta que torna ora ar, ora mar... e que toma a todos, no fim.
Reúne ela, então, em seu livro FELICIDADE DA ALMA PERTURBA, poemas seus aqui subdivididos em capítulos, certamente criados após amor, pessoas, fatos ou fases que passaram ou ainda passam por sua-nossa vida, um tremendo cabedal de iné(ditos) que nada temem, que nada reprovam, supernovíssimas tiradas poéticas ainda não divulgadas ou mostradas ou nuas ou seminuas para o homem-além, aqui publicadas para não dar ideia de ácaro ao grande Frankenstein que promete este Prometeu aqui...
Em “Curta o Curto”, Nadine Granad explora a potência do verso rápido e o faz expandir-se na aurora das simples expectativas. Em “Suspiros d’Alma”, despe-se e encara o amor de frente, sem fronteiras para as dores e para os momentos de felicidade. No capítulo “Dicionário Reticente”, pequenos golpes verbais na boca do estômago da vida a nos embalar realidades e sonhos. Em “Indagações Pseudo-Humanas”, talvez o pulso mais ativo do livro, rompante de extensões e extinções sentimentais que, partindo da autora, também opera partindo o universo anímico do outro-leitor.
No capítulo final, intitulado de “Sombra e Luz no espelho”, a poética de Nadine Granad, entre parcerias ou não, entre poemas quebrados e rimas de liberdade, entre versos em prosa e prosaicas destemperanças, entoa o hino natural às chamas, às labaredas e a tudo que revoga o sol no e do homem. Tudo aqui, aparentando amenidades, lustra-se de violência simbólica a mais selvagem, do tipo que compromete o próximo passo ou o próximo olhar de quem lê. A poesia de Nadine Granad, vista como um caminho grávido de coisas, elabora por si própria sua história de rusticidade, diversidade, solidariedade e de humanidade. E só por isso, já vale a leitura.
Imagem: https://pixabay.com/pt/%C3%A1rvore-gravado-poesia-porta-malas-615663/
2 comentários:
Demorei, mas cá estou.
Precisava dizer que a cada nova leitura, novas descobertas - inclusive a meu respeito.
Penso que poucas são as pessoas que leem bem alma alheia, justamente porque sensibilidade e olhares de raio-x pertencem aos verdadeiros poetas que têm como privilégio e punição esse sentir aflorado - ora ensina, ora aprende e sempre mastigam uma realidade nem sempre doce.
Acredito que agradecer seja pouco, a honra sempre minha.
Beijos.
Todas as graças a ti, Nadine.
Obrigado por existir.
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