quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Ars Poetica em linguagem mista



Por Germano Xavier



Eu me pego a pensar, meio que jubiloso, desde o momento que o li pela primeira vez, em como se deu todo o processo — ou apenas os seus meandros, os mais melindrosos, que sejam! — de confecção do livro Contexturas – Quadros de Armanda Alves “ilustrados” pelos contos de Luísa Fresta, lançado em Portugal no dia 13 de maio de 2017 e fruto de uma experiência arrojada de duas artistas (Armanda na pintura e Luísa na literatura).

Antes de ler o prefácio e o texto de apresentação, como costumo fazer com toda e qualquer leitura de âmbito literário, imaginei uma história de amizade muito forte e bonita entre as duas, com passagens de apego maior e de fortalezas mútuas. Confesso que quase logrei 100 % de êxito ao pensar assim. Em conversa rápida com Luísa Fresta, “ilustradora” responsável por “contar” os quadros da Armanda no respectivo livro, a autora terminou por me revelar, resumidamente: “Decidi extrair histórias de alguns dos quadros dela (Armanda), que selecionei previamente”.

Armanda Alves é uma artista luso-angolana que adotou Portugal como morada há bastante tempo. No começo, tinha a pintura como uma espécie de passatempo, produzindo peças primeiramente para o seu deleite pessoal. Como autodidata que é na arte da pintura, vive por maquinar diariamente novas técnicas e soluções para os seus quadros, entre as quais a mera aplicação dos dedos para a realização das telas, dispensando terminantemente qualquer espécie de pincel. Já a engenheira civil formada na França, Luísa Fresta, nasceu em Portugal, porém viveu boa parte da infância e da adolescência em Angola. No ano de 2014 publicou a obra 49 Passos - Entre os Limites e o Infinito (poesia), pela Chiado Editora.

O livro é um pequeno tratado de “Ars Poetica”, ao melhor e mais útil parafraseio-molde horaciano. Uma aguda dose de poesia e magia por todos os lados e por todas as páginas e por todas as imagens. Sendo ele uma fabricação de base retórica ficcional, a junção tela-texto convence-nos a partilhar uma dada visão de mundo dual/duplicada, de “realidade” amplificada, que pode a qualquer momento ser desviada para outros espaços interpretativos, afinal de contas se trata de duas linguagens artísticas bastante diferentes. Uma revelando a outra, nas 20 unidades de imagem-conto, num intenso e eterno entrelaçar-se.


* Imagem: https://artesecontextos.com/2017/05/contexturas-luisa-fresta-armanda-alves/

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito obrigada, Germano! A tua leitura da nossa aventura comum é surpreendente, profunda e lisonjeira. Fico muito feliz por chegar a um leitor/ autor tão exigente. Abraço fraterno Luísa

Germano Viana Xavier disse...

Luísa, você é uma pessoa riquíssima de poderes.
Artista genial e alma muito generosa.
Toda espécie de crítica seria pequena diante do que você faz.
Parabéns também para a Armanda, também gigante!

Beijos e sigamos!