Por Germano Xavier
(Cepe, 2016)
Sair para quem sabe, chegar para quem pode. Mas antes a PARTIDA, uma partida. De que é feita uma partida? Doze cavalos em trote, vida ainda adormecida nas vontades de cada um de nós-ali-narrativa. Correnteza de homens mundo afora e um sertão de gentes, de forças, de cantos, de juventudes, de rios. Deus-vento que monitora os passos. Eles-nós são andarilhos e a vida não tem fim. Não tem mesmo? Doze cavalos procurando pouso. Ginetes agalopados. Raça de peçonhas e de assombros. Cavalo morde? A vida morde? Para que serve o ir? E o sonho? Meu Deus, o sonho, para quê serve o sonho?
Crer que seríamos os onze cavalos apenas, em menos-um andante. Música menor é o passo dado a esmo. Corredor mais vago. A vaga de cada ser no mundo. E a correnteza de gentes, a correria dos homens. Tudo acabará? Menos a música dos ventos? Enfim, perdemos sempre. Precisa-se aprender a perder, mesmo que sempre. Acostumar-se? O lugar algum deve existir. Pelo menos o lugar-comum existe. Triste estrada a de nós, capazes de tantas atrocidades, aptos a tantas desgraças e mortes e mais mortes. E mais.
Quando paramos com tudo isso? A ESTRADA engole os fracos. Seremos a mais real catástrofe. Já somos. Já somos? Mas os fortes também vão ficando pelo caminho, marginais, avessos, traídos. Dez cavalos e o som do vento incessante. Vento-deidade. Vento-morte. Vento-desventura. Para qual aposento levaremos a memória? Dormir é pouca-morte para tanta vida lá fora? Lá fora é onde mesmo, grilhão? Lá na beira da estrada éramos destino, enorme boca assanhada de se lamber mil léguas.
Ah, o LUAR! Varre para longe todas as nossas reservas de esperança, que acreditar é despedaço! Cavalos morrendo aos pés dos montes. Troupe perdida. Tropa em carne viva! No desespero a fome tem outro nome, a dor tem outra cor, a sede outro cheiro. Estrela também pode ser sinônimo de treva. Mas que nem tudo pode ser visto assim, com pesar. Oito cavalos que eram nove. Nove cavalos que eram dez. Dez cavalos que eram onze. Onze cavalos que eram doze cavalos e quantos mais poderiam ser?
Quando a AURORA aparecer, pensariam todos, o mundo seria outro. ROSA-DOS-VENTOS e cinco cavalos. Umas lágrimas velhas, novas e insuportáveis. Etéreas palavras como feridas. Labirinto-cantiga. Orquestra de contrários. Salivaremos até não podermos mais com a voz-mais-mentirosa. Salivaremos sangue se for preciso. Até termos as MARAVILHAS. Até sentirmos umas maravilhas de riso, de aposta, de feto novo no colo, de lado atravessado, de pele sem ranhuras, de choro vencido, até as maravilhas do eterno, caminho que temos dentro de nós, mesmo quando só nos sobram dois cavalos, ou um cavalo, quando nos tornamos os próprios equídeos, mesmo pangarés em fantásticas cavalgadas, ou quando formos simplesmente a CHEGADA.
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