Rojo (2005), em seu texto intitulado de Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas, discute a ampliação das investigações científicas acerca das teorias de gênero e evidencia o importante papel que os novos documentos referenciais nacionais tiveram neste quesito - a citar os PCNs, por exemplo. Tais bases teóricas, para a linguística em geral, incluindo a vertente de aplicação, estão demasiado vivas no contexto atual.
Para fins de apreciação, a supracitada autora divide seu olhar em dois prismas: o primeiro voltado à teoria de gêneros do discurso e o segundo à teoria de gêneros de texto, mesmo dando a perceber uma preferência pelo olhar legado à teoria de gêneros discursivos em detrimento da esfera de gêneros textuais. Ambas de natureza referencial bakhtiniana, se assim pode-se dizer, dadas às devidas proporções, a teoria de gêneros do discurso foca prioritariamente no estudo das situações de produção dos enunciados/textos, sem deixar de lado orientações de cunho sócio-históricos e a teoria de gêneros de textos visa o estudo da materialidade textual em si.
As linhas limítrofes de separação e/ou diferenciação das duas teorias aqui expostas não são postas às claras no texto, o que pode causar certo embaraço no tocante ao entendimento de quem lê o material. O pensamento bakhtiniano está presente nas duas vertentes ideárias como um elo norteador (ou não), percorrendo desde os conceitos fomentados por estudiosos do naipe de Marcuschi e indo até os pensamentos de Bronckart e de Adam. No total dos casos averiguados, presencia-se uma preocupação para com a finalidade descritiva do texto (teoria de gêneros textuais), jamais sendo percebido (no caso, o gênero) como um universal concreto.
Na tentativa de configurar um confronto entre as diferenças existentes entre gêneros do discurso e gênero de texto, a autora (meio que) estabelece como parâmetro-mor para todos os estudiosos que adentraram as nuances da teoria de gêneros do discurso o livro Marxismo e filosofia da linguagem, de Bakhtin/Voloshinov, publicado em 1929. O foco, para esta proposta de análise, está em três dimensões: os temas (conteúdos ideológicos conformados), seu arcabouço composicional e suas configurações de ordem das unidades de linguagem. De modo que, assim postulado, tais dimensões possuem ligações fortíssimas com as diversas situações de produção das enunciações, também sofrendo interferência das devidas apreciações valorativas do locutor (tema) e do interlocutor (discurso).
Ainda sobre as caracterizações inerentes à teoria de gêneros do discurso, e tomando Bakhtin/Voloshinov (1929) como como ponto de apoio, entende-se que toda e qualquer investigação que envolva expressão-enunciação deve passar pela averiguação conjunta da situação social mais imediata que o contextualiza. Tais relações, que se dão substancialmente no âmbito das parcerias ligadas à enunciação, agregam interesses constitutivos e de organização, como a citar o apelo às esferas comunicativas, dividas, pois, em esferas do cotidiano (família, comunidade...) e em esferas dos sistemas ideológicos constituídos (moral, ciência, arte, religião...). O comboio discursivo que estas esferas de base comunicativa elaboram termina por justificar a existência de conjuntos de gêneros mais confiados a demandas sociais definidas e emancipadas.
Em outras palavras, a perspectiva engendrada pela teoria dos gêneros do discurso parte não das estruturas formais da língua, mas antes visualiza o aglomerado de informações de cunho sócio-histórico que envolve a enunciação e todo o seu processo de produção sem, contanto, deixar de lado a importância de se avaliar estruturas composicionais e de estilo em seu respectivo objeto de estudo.
Por fim, ao colocar a referida discussão sob a égide da linguística aplicada, a autora preconiza, novamente, que o mais importante seria lotar o ensino de gêneros em salas de aula de língua portuguesa a partir da compreensão de língua enquanto movimento e processo, em cuja instância de legitimação e uso se dá o contexto-móvel em diálogo intermitente com as situações enunciativas, desprezando assim a faceta mais atrelada ao estudo descritivo dos elementos do texto.
REFERÊNCIA
ROJO, R. H. R. Gêneros do discurso e gêneros textuais: questões teóricas e aplicadas. In: MEURER, J. L.; BONINI, A.; MOTTA-ROTH, D. (orgs.). Gêneros: teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola Editorial, 2005.
Um comentário:
Ando tão afastada das teorias linguísticas e literárias... acho que tenho emburrrecido um pouco e confesso que tem me feito um pouco de bem...
Voltando a blogar, depois de anos longe... visitando os amigos que sempre gostei de acompanhar.
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