sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A cabeça de Nastércio



Por Germano Xavier


E foi então que o Nastércio percebeu que tinha uma cabeça grudada ao pescoço. E foi depois de tal percepção que ele viu que cabeças servem para suportar a gelatina do cérebro, e que cérebro é lugar de mente. E foi assim que o Nastércio soube que mente não é lugar de mentira, mas de pensamento. "Mas, como fazer funcionar algo que não funciona?", pensava. A mente de Nastércio não funcionava porque ele passou a vida toda pensando que em cima do pescoço o homem tinha mesmo era uma agricultura de cabelos. E ele estava certo: cabelos não servem para nadica de nada. Aí o Nastércio resolveu pegar a enxada e capinar a monocultura de sua cabeça. Nastércio era monocultural, só sabia saber, mas não sabia que sabia saber. E saber saber não quer dizer que se sabe alguma coisa. Por isso, o arejamento do campo capilar foi a melhor coisa que ele podia ter feito. Tirou, com a mão mesmo, todas as ervas daninhas de sua mente: primeiro a boina-máscara, depois eliminou os piolhos-dos-olhos e ademais, cortou tudo com tesoura de cortar e tacou fertilizante de fertilizar. Adubo novo de traseiro de vaca. E foi dito e feito. Não demorou muito para que fosse possível ver brotar do roçado da cabeça de Nastércio uma verdade atrás da outra. Porque, você sabe, depois da merda endurecida, só mesmo jogando muita água naquilo que é muda.


* Imagem: Google.

domingo, 18 de outubro de 2009

Sobre as quatro estações do jornal O EQUADOR DAS COISAS


Pela caminhada até aqui, pelos moinhos vencidos, por nós todos, pela literatura, pela arte, por você, Carolina Piva! Um presente meu e da Molotov Produções, na pessoa maravilhosa de Lisa Alves. Obrigado por existir-junto, por fazer parte-e-além e um infindo-desejo de vida longa ao nosso Jornal de Literatura e Arte O EQUADOR DAS COISAS!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte XXX)

*
Por Germano Xavier

"tradução livre"


Quinta-feira, 27 de Agosto de 2015
As coisas são mais que seus nomes



Les choses valent plus que leurs noms

à quoi ça sert de conventionner
l’opposé de ce qu’on dit,
un sursaut dans le silence,
un appui derrière les murs
ou dans l’eau mobile du temps.

car l’indice donne le sens qui bascule,
et le symbole annonce la maladie vaine de la douleur.
et si souvent dans la vie l’attente nous annule
l’imprécis devient plus clair arrosé comme une fleur.


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Out-of-Happy-Places-538886868

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Poemas de Germano Xavier em Francês (Parte XXVIII)

*
Por Germano Xavier

"tradução livre"


Sábado, 01 de Agosto de 2015.
A douta espera


"Je ne suis pas surpris de me réveiller au milieu des eaux."
(Adolfo Bioy Casares)

La docte attente

revolté, l’amour, ce même amour
qui m’attriste et qui sort de l’eau
froide comme l’échec, ou en guerre d’amour
il est vainqueur, en jetant sur mon cœur la douleur funeste,
comme une protestation contre l’absurde,
ce même amour de la paix solitaire de nos corps,
insignes pas de l’ombre qui marche.

revolté, le néant de l’instant présent. aux feux de la rampe, l’amour qui vit
loin des manques réels et centenaires de mon âme.
ce même amour qui est parti avec le courant
en se pliant dans les fantaisies fautives.

et ce détail en nous: l’amour qui enfante,
imprécis comme l’hyperbole parfaite,
juste comme le début des rêves.

l’amour.

comme si à minuit nous désirions postuler
les vains buts des négations
ou les fantasmes de marbre du temps,
nous nous déplacerions alors sur des parallèles diffuses
accoudés aux bords maritimes des prisons.

vers la fin, la vie nous apprends le goût de la peste :
nous courrons vers l’entrée, c’est la docte attente.
l’amour, comme la mer, désobéit aux couchers-de-soleil.


* Imagem: http://www.deviantart.com/art/Echo-City-566193486

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Ensinagem: um processo de amor

*
Por Germano Xavier

O processo de Ensinagem parte do pressuposto de que é, ele, antes de qualquer conceituação, um exercício de compartilhamento, de convívio e de diálogo entre as partes que compõem o jogo educativo, a citar primordialmente o professor, objeto de estudo e o aluno. Neste entrelaçado, o conhecimento se acerca de buscas em torno de mobilizações, construções e elaborações sintéticas.

Quanto ao que concerne ao tópico “mobilização para o conhecimento”, como assim se referiu Vasconcellos (1995), cabe ao professor procurar formas de atrair o seu aluno até a mais próxima face do saber que porventura esteja em destaque. Para que isso ocorra, há de existir vontade e interesse de ambos os lados. A promoção da relação do aluno para com o objeto de estudo é o desafio maior desta etapa.

No que tange à “construção do conhecimento”, a prática analítica do aluno em relação ao objeto de estudo faz-se aqui de alvo máximo. Aqui, o aluno, com apoio total de seu orientador, debruça-se no corpo do saber e alicerça seus tijolos de síntese e de visões de futuro. É o momento do aluno ativo e do professor operante. Para tal relação acontecer de forma harmônica, cumpre observar os passos da Significação, da Problematização, da Práxis, da Criticidade, da Continuidade, da Historicidade e da Totalidade, cada qual com suas prerrogativas e dinâmicas.

Sobre a “elaboração da síntese do conhecimento”, último tópico que compõe o processo de Ensinagem de acordo com Pimenta (2002), o aluno caminha ao lado do professor e já esboça o que podemos chamar de consolidação de conceitos, sabedor de que tais conceitos devem ser vistos como entidades mutáveis, pelo simples fato de que nunca deixamos de aprender coisas novas e que, por conseguinte, a qualquer momento podemos adentrar por novas mutações de base ideária.

O processo de Ensinagem é uma busca mútua, professor e aluno na direção de um só objetivo, as duas figuras marcando territórios e superando obstáculos que podem, com certa facilidade, impedir o livre curso das formações de saber. Ensinagem, pois, é compromisso com o que vai além do necessário dentro dos universos vários do conhecimento. Destarte, Ensinagem é também uma espécie de amor, ou de amar, na acepção mais justa e bonita possível. 


* Imagem retirada do site Deviantart.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Ainda sobre teus seios

*
Por Germano Xavier

se a gota escorre desde a nuca
tornando o cabelo uma seta negra
colada aos nus do corpo

se se dobra em volta e num retorno
pela foz do pescoço faz divisa
com o frágil ombro

vai dar a regar os rotundos balões
da mulher em flor
a água

a gota dela arrecadará a velocidade
suficiente para parar
no agudo botão em ponta
no meio do círculo matricial
cor de menina

a gota faz-se de boca-lábios
permanece altiva e em doce contato
como em invertida levitação


* Imagem retirada do site Deviantart.

sábado, 3 de outubro de 2009

Imaginaturas de reinícios

*
Por Germano Xavier

sobre a lembrança pousados estão
meus olhos

você triste não é você
você mesmo colorida mas triste
não é você aquela menina antiga de vida
de vida sem vendas no olhar
menina sem laços de fita não
não é você

Cine Dunas, faróis espocados na artificialidade
luminosa, o firmamento do lado esquerdo
do sonho de ser o próprio filme,
um romance com ares mexicanos,
a lã cor de vinho que te cobre
os brancos seios de onde bebo

o mar em fúria
chão em sépia
teu sorriso se abre bem nos olhos
lá onde me cometo

vi quando você me viu
naquela rua de nos engaiolar
em reformadas asas

você triste nunca mais
você mesmo sem dia bom mas triste
nunca mais aquela menina rasteira
árvore sem copa

você soltou teus cabelos
permitiu que brilhassem como feixes prismáticos
caminhos de me dar no escuro do teu silêncio
o mamilo os grandes lábios generosos os dedos
sob a renda em comunhão

os bens de amar


* Imagem retirada do site Deviantart.