* |
Por Germano Xavier
Num minúsculo excerto intitulado “Falar”, presente em seu livro DO UNIVERSO À JABUTICABA, o campinense Rubem Alves, falecido em 2014, escreveu: “Há um princípio para o falar que tento obedecer, mas não consigo. No entanto, acho-o absolutamente correto: “Só fale se sua fala for melhorar o silêncio”. Se a sua fala não melhorar o silêncio, é preferível ficar calado, para que o silêncio seja ouvido. Estou me exercitando nesse princípio e acho que estou falando cada vez menos. Até se queixam de mim como sendo má companhia em festinhas alegres”. Pois bem...
Eu poderia enumerar várias passagens marcantes do supracitado livro, mas me atenho a esta citada no parágrafo acima para justificar um pouco do que estive pensando há poucos instantes. Rubem Alves sempre foi visto com certa (ou seria incerta?) desconfiança por grande parte dos supostos “entendidos” da sapiência tupiniquim, principalmente pela intelligentsia que perambula pelos meios acadêmicos e que, incontestes vezes, julga-se detentora do conhecimento máximo e utilitário existente no mundo.
Já ouvi vários professores falarem mal ou desconversarem sobre a real importância de alguns autores que são, de fato, fundamentais para se pensar determinados segmentos sociais e/ou epistemológicos. Mas, por que assim percebem a obra de Rubem Alves e de tantos outros grandes nomes das literaturas? Só pelo fato de Rubem Alves ter refletido e escrito acerca das coisas aparentemente “mais triviais” da vida? Somente pelo fato deles terem olhado com sutileza o ser humano, suas feiuras e suas bonitezas, ou porque o seu legado maior – no caso de Rubem Alves - fora redigido em formato de crônica, este gênero que já nasceu taxado de literatura menor e que ainda hoje é visto com certa restrição por várias pessoas do ramo?
A minha resposta-pergunta pode estar coerente e suscitar algumas verdades, todavia também pode funcionar como uma espécie de provocação. O referido cronista não está só quando o assunto é desprezo ou pouco apreço a obras que não dialogam com uma determinada “cientificidade”, quase sempre gerada e gerida seguindo um ordenamento bossal, faustamente frio, mas que tem o poder de legitimar o verbo, empoderando muitos que não o merecem e diminuindo o mérito de outros que são mais do que reis em suas áreas.
Perto dos 30 anos de idade comecei a descobrir a obra de Rubem Alves, um sujeito-autor que escreve simples sobre caquizeiros e crianças, mas que também fala de coisas “mais sérias”, e que mesmo quando não escreve nada daquilo de que eu realmente gostaria de ouvir, sempre soube me presentear com momentos belos de silêncio, o que é fascinante para mim. Ler o silêncio dos outros é mágico. Aprender com ele, sensacional! Até quando escrever sobre nossas maiores banalidades é ser inferior? Até quando taxaremos com um "serve" e um "não serve" a literatura de nomes de real expressão?
Rubem Alves é o tipo de escritor que, quando fala ou até mesmo quando não fala, consegue melhorar o silêncio. Melhora os meus silêncios, não sei os seus. Não posso falar por você, até porque somos tocados por sons os mais diversos. Nos quesitos educação, sociedade e humanidade, Rubem Alves foi um monarca, merece nosso apreço e nossa leitura. Porém, que não seja nada aprofundado ou sistemático, pois foi poesia o que Rubem Alves escreveu em todo o seu percurso vital. E poesia, como diria Manoel de Barros, não é para entender. Poesia é para incorporar.
* Imagem: Google.
Nenhum comentário:
Postar um comentário