quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Olhares sobre Texto, Contexto e Coerência

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Por Germano Xavier


CAVALCANTE, M.M. Os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2014. 175p.

Mônica Magalhães Cavalcante tem sua trajetória acadêmica voltada para a área da Linguística e suas adjacências, possuindo pós-doutorado pela Unicamp. Atualmente, atua como professora da Universidade Federal do Ceará, coordenando grupos de pesquisa sobre referenciação, intertextualidade e argumentação. É, também, autora de vários livros abordando problemáticas ligadas às esferas da língua.

Seu recente livro, intitulado de OS SENTIDOS DO TEXTO e publicado em 2014 pela editora Contexto, está organizado em 7 (sete) grandes partes, cada qual com subdivisões particulares e muito bem dimensionadas ao objetivo pretendido da obra, que discute desde questões referentes a gêneros discursivos, passando pelas sequências textuais e compreensão de textos, indo até estudos analíticos acerca dos tópicos discursivos e da intertextualidade.

Na primeira parte, sobre a qual esta resenha se debruça, a autora empreende um percurso investigativo que burila em abordagens referentes aos conceitos de texto, contexto e coerência, enfatizando a relação existente entre estes três aparatos. Para a construção de tal percurso, a pesquisadora tece discussões acerca das diferentes concepções de texto, dos variados tipos de conhecimento e de contextos, de coerência textual e de fatores de promoção de intertextualidade.

Na primeira parte do livro, ao qual podemos chamar de Capítulo 1, há uma preocupação mais evidente em explicitar as visões gerais existentes acerca das ideias de texto que se projetam e se difundem no meio acadêmico atual, tudo isso para se chegar ao entendimento do que seja coerência, fator de textualidade de importância primordial. 

A professora fez-se buscar perguntas e alterar respostas para suas problematizações nos arcabouços epistemológicos da Linguística Textual, chegando a apresentar ao leitor as diferentes modalidades de conhecimento que estão imiscuídas no todo do processo textual, beirando abordagens sintéticas que versam sobre a promoção de construções de sentidos e de referência.

Partindo das premissas de Marcuschi (2008), Cavalcante contorna as antigas noções de texto, que o viam como elemento lógico de base autoral e, tempos depois, como produto para cuja compreensão só seria necessário o conhecimento do código linguístico, conseguindo chegar aos postulados definidos e defendidos por Koch e Costa Val apud Cavalcante (2014), autores que tratam o texto como sendo, ele, um complexo de movimentos de base interativa e que levam em conta diferentes aspectos quando de seus pronunciamentos compreensivos. 

Ainda nesta perspectiva de assimilação do texto e de suas ações compreensivas, corrobora-se no capítulo em questão a ideia já presente em Koch e Elias apud Cavalcante (2014) de que quando se está diante de textos, seja ele pincelado de quaisquer especificidades , ativam-se os conhecimentos ditos linguísticos (regras da língua), os conhecimentos enciclopédicos (memória permanente do indivíduo – também chamado de conhecimento de mundo) e os conhecimentos interacionais (formas de interação). 

Na trama que se instaura a partir do embate do leitor para com o texto, surgem outras preocupações, como as de ordem do contexto, para a autora mais um elemento de construção de sentido bastante salutar. Interessante é ver a metodologia que a professora utiliza para fins de esclarecimento de suas análises. A todo instante, dentro de OS SENTIDOS DO TEXTO, há uma apreciação de incontáveis exemplos de textos, que auxiliam o leitor na hora de efetuar a construção do saber imbrincado nas páginas escritas. 

Cavalcante (2014) utiliza-se, ao longo de todo o seu livro, de vários anúncios publicitários, notícias, reportagens e charges, entre tantos outros gêneros textuais, deslocando o leitor de sua obra para a percepção aplicada de seus questionamentos. É como se a autora desmistificasse diversas instâncias e até convenções referentes ao entendimento do texto, colocando-o no lugar de artefato complexo e dinâmico, passível de interpretações minuciosas e articuladas com elementos sociocognitivos diversos.

Não sendo tarefa banal a de se produzir ou ler um texto, Cavalcante (2014) elenca ainda implicações da ordem dos fatores de textualidade, que desembocam num olhar mais apurado do professor perante indícios de correção dos materiais produzidos ou lidos. Continuidade, progressão, não contradição e articulação são alguns dos aspectos pronunciados pela autora e que, como tais, permitem ser inscritos como identificadores essenciais do processo de construção do texto.

Talvez, a grande marca e maior mérito de OS SENTIDOS DO TEXTO seja mesmo a proximidade discursiva presente no corpo textual em relação à dualidade ensino-aprendizagem (ou ensinagem, numa terminologia mais moderna), que possibilita um uso facilitado daquilo que está em forma de linguagem verbal, impresso no papel. 

Não é difícil perceber que se trata de um livro com/sobre práticas e que existe, por sua vez, em prol da profusão de outras e reformuladas novas práticas. Ao se empregar importância ao que o professor ou estudioso de língua, por exemplo, poderia propor junto ao seu alunado ou público-alvo no tocante às conjunturas sociolinguísticas, sua leitura se torna, no mínimo, inspiradora. 


* Imagem:  http://www.editoracontexto.com.br/blog/coesao-e-coerencia-textual-o-que-e-isso/

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