quarta-feira, 15 de julho de 2015

As pequenas vastidões de um Diário Bordô

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Por Germano Xavier


Há tempos acompanho a escrita da “paulistana sem sotaque e paraibana de coração” Letícia Palmeira. Desde 2009, ano de lançamento de seu primeiro livro, Palmeira vem se mantendo num ritmo bastante acentuado com relação à publicações em papel, o que já a faz contar hoje com 4 livros impressos, sendo 3 livros de crônicas - Artesã de Ilusórios (EDUFPB/2009), Sinfônica Adulterada (MULTIFOCO/2011) e Diário Bordô e outras pequenas vastidões (MULTIFOCO/2013) - e 1 romance, intitulado de Sol e Névoa (PENALUX/2015). 

Diário Bordô e outras pequenas vastidões, seu terceiro livro em ordem de publicação, é, para mim, a obra-prima da escritora Letícia Palmeira dentre todas as suas produções até o prezado momento. Como a reinventar ou simplesmente como a pintar com novas tonalidades de cores o gênero crônica, com pinceladas de uma ironia que beira o desconcertante, a autora conseguiu imprimir uma voz una desde a primeira até a última página, firme e magnética, o que não aconteceu de forma plena em suas duas primeiras coletâneas de crônicas aqui supracitadas, estas mais desconexas e afetadas.

A crônica de Diário Bordô e outras pequenas vastidões, como lugar para a interação tempo/narrativa/espaço, transporta o leitor para dentro de um ambiente extremamente caloroso, ora enfeitado com a ficção que transcende o verbo ora abotoado numa trama que faz transparecer a verdade das expressões cotidianas e das situações onde o convívio é a ordem máxima das horas. Enxergamos, pois, tanto a escritora que fabrica uma realidade fotografável e lenta quanto a realidade que caminha sem freios pelos olhos cansados dos transeuntes. A fotografia mental é a literatura de Palmeira. A fotografia que desafia o simplório, mesmo não exibindo demasiados recursos. 

Há uma exposição autoral, de uma vida autoral, de uma vida comum, de seus caminhos e de seus atalhos, uma exposição que nem sempre condiz com a verdade, mas que também é característica da crônica. Marca própria de quem publica em blog - que é o caso de Palmeira -, espécie de gaveta virtual que quase sempre nos invoca ao uso de tal linguajar. O sentido do livro é o da liberdade, o do gosto pela descoberta do macro no micro, da beleza na quase ingênua rebeldia, do dizer puro entoado com as nódoas dos tempos de prontidão vital presentes em cada uma de nossas humanidades.

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 Imagens: * http://www.deviantart.com/art/Diary-75126194
** http://baixar-livro-gratis.com/?p=174854

Um comentário:

Letícia Palmeira disse...

Eu não sabia o que o livro merecia tamanha atenção sua. Me vejo sempre em estado de amadurecimento. Me critico demais. Desisto de escrever (às vezes). Te agradeço pela crítica pontual e bem elaborada, Germano. Obrigada sempre.