sexta-feira, 9 de maio de 2014

Minha ópera ainda inédita (fim)



Por Germano Xavier

Sobre luas, calendários e vernissages:

Ela é meu maior poema. Épico. Epopéia. Porque a vivo. No hoje.
Lei de diretrizes orçamentárias: Não economizar beijos.
Plano plurianual: Sofrer e morrer juntos + imortalidade diária.
Fazer estudo sobre a expressão “Maitre à penser”.
Deitados, à rede, tocarmos músicas de bocas.
Usar de dêixis para vaticinar futuros ciganos. Minha palavra.
Palavra alemã que diz de fantasia e realidade: Sage.
Minha langue e minha parole. Saussure e Bakhtin.
Minha sonata feita ao toque de uma lira egípcia. Virtuose.
Porque “o que eu arquiteto é a história do futuro”. Ó, captain!
E o que é o que é que quando é não é outra coisa?
Só se ela não quiser... Porque de mim quero o barbarismo.
Quero o assombro perante as partes do eu. Carteiro e poeta.
Endereçar águas de mares muito mais bonitos. Mas é se ela quiser...
Porque nem querendo sou jesuíta, ou navio de cabotagem.
Faço brilhar uma idéia. Sou “Argos” e eu queria que ela fosse “Ação”.
Tenho 23 anos e não sou essa idade. Tenho perto de 115 anos.
Apresento objetos e abaixo - levanto as cortinas. Sou ária.
Meu solo é canção. Vivo de cantar cantatas para os meus dias.
Você é gênero dramático que se drama mais que a mim.
Cenografia. Vestuário. Aberto libreto. Sinfonia Bel Canto.
Sou contratenor. Você, mezzo-soprano: ainda não sabe.
Não sabe que quem encerra a porta do teatro é o amor.
E não sabe que é mesmo ele o único anti-censor.

Um comentário:

Érica Ferro disse...

Ah, que saudade da sua poesia, Germano!
Que saudade!

Muito bom voltar aqui. Muito mesmo.