sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Padre, mãe

*
poema para a mulher que se escondia no hábito do padre

Por Germano Xavier

para você
acendo um fado português
no meio da tarde macia
de rememórias

no simbolizar o desalento
para o tempo investido e minhas culpas
de quase infância

o padre é a mãe

o ditado já diz
o hábito não faz o monge
muito menos a oração

sua mãe nem suspeitava
dos meus pensamentos
em ira por todas as trancas
o candeeiro nas ruas noturnas
nos domingos de missais
meu peito pueril não te assumia

precisei cruzar o país
e longe de pais que castram filhas
acabar de uma vez por todas
com sua candura impostora
com seus demônios de pureza

e após tanto sofrer em suas falsas falas
agora já lido em versos de Charles Bukowski
sangrado e singrado um homem como Simbad

larguei você no choro fingido
quando Goiás deixei no ônibus
de te abortar
de mim

que o caminho no escuro
imposto sob decisão interna
é lugar de olhos e almas arrancar
de luzes espocar sem falências
para novas mortes em se renascer


* Imagem retirada do site Deviantart.

2 comentários:

Daniela Delias disse...

Lindo como O buraco da agulha. Para quem te lê em tudo, será bonito de acompanhar :)

Beijo, G.

Anônimo disse...

Olha só que inspirador, Germano! Gostei muito Luísa