Por Germano Xavier
O uso da gramática no ensino da Língua Portuguesa nas escolas, geralmente, vem fomentando inúmeras polêmicas ao longo dos anos. À luz da razão, almejamos, desse modo, mostrar as incoerências e divergências gramaticais concernentes ao método de ensino posto em prática em escolas de nossa região, particulares ou públicas.
Partindo de tais pressupostos e já realizando uma análise dessas incoerências, partimos de como Bechara conceitua período: “chama-se período o conjunto oracional cuja enunciação termina por silêncio ou pausa mais apreciável, indicada normalmente na escrita por ponto”. (BECHARA, 1982: 199)
Notando a obscuridade da conceituação, Bechara simplifica-se no parágrafo posterior, dizendo ser período simples o constituído por uma só oração. O que se entende por conjunto oracional? É a reunião das partes que constituem um todo.
Se fossemos confrontar a idéia de Bechara com a de outro autor ou estudioso da língua portuguesa, veríamos uma variação considerável na maneira de se pronunciar sobre um mesmo caso, o que abre espaço para constantes debates e discussões acerca do problema gramatical.
Como o aluno pode absorver esses conceitos “eloqüentes” e/ou “retóricos” e que procedimentos ele utilizará para o enfrentamento de concursos públicos e vestibulares? É por isso que se a classe docente não fizer uma antecipada avaliação do livro didático que possivelmente será adotado estar-se-á acomodando funcionalmente e permitindo ao aluno crer em tudo quanto o livro contiver, sem revelar a ele a real face dos acontecimentos.
Toda essa conjuntura errática não cessa por aqui. Percebendo essa miscelânea, o estudante volta-se para a criticidade, inquirindo o professor na explicação desses absurdos. Por vezes, o professor, radical como o gramático, escanteia a participação do discente, pois não dominando a Gramática Normativa, termina por classificá-lo como perturbador e agente desordeiro. Tal postura do aluno atinge diretamente o rendimento da aprendizagem, muitas vezes deixando seqüelas a ponto de incompatibilizá-lo com a matéria e, também, com o professor. Desse modo, transmite-se uma visão distorcida sobre o ensino da língua - o “decoreba” de uma infinidade de regras e de exceções -, o que complica a vida do aluno, mormente daquele advindo de camada social menos privilegiada.
Hoje há uma tentativa de se anular as diversidades lingüísticas referentes a diferenças e conflitos existentes entre grupos etários e étnicos e, sobremaneira, entre classes sociais. Podemos prescrever que a gramática tem se comportado como o objeto do ensino de português no Brasil e não a língua. Conseqüentemente, estão sendo difundidos aos alunos de todas as faixas etárias, em principal aos do Ensino médio, conceitos lingüísticos falhos. Sobre esse ensino, praticado pelas escolas públicas e particulares, verifica-se uma incompreensível prática que é a de encher a cabeça do estudante elementos inúteis e confusos.
Considerando a diminuta representatividade desse conhecimento, imposto ao aluno como verdadeiro crime, Geraldi afirma que “O ensino da língua foi desviado para o ensino da teoria gramatical”. (GERALDI, 1987: 21)
Ora, se a função da escola é o ensino da língua padrão, não é com teoria gramatical que ela concretizará seu objetivo. Tais contrastes na forma de se encontrar com esses temas desestimulam o estudo da língua, pois quando o estudante pensa haver entendido os conteúdos trabalhados em sala de aula, ilude-se ao se deparar com determinadas construções, pois não consegue chegar ao entendimento do enunciado, resultando em frustrações, reprovações e recriminações que começam no seio da própria escola e o velho preconceito de que não sabe português.
Todos esses aparatos gramaticais tradicionais são frutos de uma preocupação da escola em mostrar ao estudante a língua considerada padrão pela elite cultural, que insiste em se modelar através e a partir dos clássicos e dos grandes nomes.
A gramática, que em grego significa “a arte de escrever”, nasce na Grécia. Observando essa particularidade, as regras gramaticais foram geradas e logo voltadas para o uso literário dos renomados escritores do passado, recebendo o título de gramática Tradicional.
Com base na análise desses fenômenos, ressaltamos dois equívocos cruciais: o primeiro, consiste na rígida separação da língua escrita da falada; o segundo no modo de se encarar a mudança e mutabilidade das línguas, fatalidade concebida por muita gente até hoje. Por conseguinte, enquanto não houver uma proposta pedagógica habilitada a eliminar esses equívocos existentes no ensino da língua e uma mudança substancial das motivações ideológicas que sustentam esse ensino mutilador e segregador, a gramática Tradicional permanecerá como alvo crítico dileto, embora reconhecendo ser ela a fatorial referência para o ensino Fundamental e o Médio.
O resultado disso é a submissão da língua à gramática. Mas, como?Por que meios? Com os séculos sendo atravessados a todo vapor, a Gramática Tradicional mudou de roupagem, preservando-se o seu conteúdo. Isto é, passou-se a denominar-se de Gramática Normativa. Assim, a Gramática Tradicional tornou-se uma ferramenta ideológica e as gramáticas escritas para descrever e concretizar como leis e padrões as manifestações lingüísticas usadas pelos escritores considerados dignos de admiração em qualquer tempo e espaço, modelos a serem imitados.
Segundo Bagno:
Com a instrumentalização da Gramática Normativa em mecanismo ideológico de poder e de controle de uma camada social sobre as demais, formou-se essa “falsa consciência” coletiva de que os usuários de uma língua necessitam da Gramática Normativa como se ela fosse uma espécie de fonte mística da qual emana a língua “pura”.Foi assim que a língua subordinou-se à gramática. (BAGNO, 2000: 87)
Por fim, permanece a questão, mais viva que nunca: devemos ou não utilizar a gramática no ensino da Língua Portuguesa? Indubitavelmente que sim, embora saibamos que ela em si não ensina ninguém a falar, contudo auxilia na medida em que consigamos separar o útil.
Bagno é de opinião que:
A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa. (BAGNO, 2000: 87)
Tendo em vista o conceito de Bagno, o professor de português deixaria o seu estágio de “sedentarismo intelectual”, passaria a ser dinâmico, deixando de ser apenas um aparelho repetidor da doutrina gramatical normativista, que ele mesmo não domina de modo integral.
À vista das considerações aqui pronunciadas, conclui-se que a gramática não consegue ser única fonte para o ensino da língua nas entidades escolares, bem como a ser intitulada como o conjunto normativo da linguagem, num âmbito generalizante. Assim posto, no comenos em que o aluno entender que as regras da norma culta são passíveis de variações é que o uso de uma forma pode vir a ser tida como normal numa modalidade lingüística.
Também se faz de extrema urgência que gramáticos e demais estudiosos da língua formem uma simbiose e não uma relação parasitária, para que haja cada vez mais espaço dentro de sala de aula para o ensino de “gramáticas” e que a elite cultural caia na racionalidade e na admissão intelectual de que houve mudanças abissais na língua padrão fomentado pela Gramática Tradicional e que no Brasil fala-se um português brasileiro, discrepante do português de Portugal. Agindo assim, tendemos a extinguir as discriminações rígidas que a escola insiste em pôr em prática.
Notando a obscuridade da conceituação, Bechara simplifica-se no parágrafo posterior, dizendo ser período simples o constituído por uma só oração. O que se entende por conjunto oracional? É a reunião das partes que constituem um todo.
Se fossemos confrontar a idéia de Bechara com a de outro autor ou estudioso da língua portuguesa, veríamos uma variação considerável na maneira de se pronunciar sobre um mesmo caso, o que abre espaço para constantes debates e discussões acerca do problema gramatical.
Como o aluno pode absorver esses conceitos “eloqüentes” e/ou “retóricos” e que procedimentos ele utilizará para o enfrentamento de concursos públicos e vestibulares? É por isso que se a classe docente não fizer uma antecipada avaliação do livro didático que possivelmente será adotado estar-se-á acomodando funcionalmente e permitindo ao aluno crer em tudo quanto o livro contiver, sem revelar a ele a real face dos acontecimentos.
Toda essa conjuntura errática não cessa por aqui. Percebendo essa miscelânea, o estudante volta-se para a criticidade, inquirindo o professor na explicação desses absurdos. Por vezes, o professor, radical como o gramático, escanteia a participação do discente, pois não dominando a Gramática Normativa, termina por classificá-lo como perturbador e agente desordeiro. Tal postura do aluno atinge diretamente o rendimento da aprendizagem, muitas vezes deixando seqüelas a ponto de incompatibilizá-lo com a matéria e, também, com o professor. Desse modo, transmite-se uma visão distorcida sobre o ensino da língua - o “decoreba” de uma infinidade de regras e de exceções -, o que complica a vida do aluno, mormente daquele advindo de camada social menos privilegiada.
Hoje há uma tentativa de se anular as diversidades lingüísticas referentes a diferenças e conflitos existentes entre grupos etários e étnicos e, sobremaneira, entre classes sociais. Podemos prescrever que a gramática tem se comportado como o objeto do ensino de português no Brasil e não a língua. Conseqüentemente, estão sendo difundidos aos alunos de todas as faixas etárias, em principal aos do Ensino médio, conceitos lingüísticos falhos. Sobre esse ensino, praticado pelas escolas públicas e particulares, verifica-se uma incompreensível prática que é a de encher a cabeça do estudante elementos inúteis e confusos.
Considerando a diminuta representatividade desse conhecimento, imposto ao aluno como verdadeiro crime, Geraldi afirma que “O ensino da língua foi desviado para o ensino da teoria gramatical”. (GERALDI, 1987: 21)
Ora, se a função da escola é o ensino da língua padrão, não é com teoria gramatical que ela concretizará seu objetivo. Tais contrastes na forma de se encontrar com esses temas desestimulam o estudo da língua, pois quando o estudante pensa haver entendido os conteúdos trabalhados em sala de aula, ilude-se ao se deparar com determinadas construções, pois não consegue chegar ao entendimento do enunciado, resultando em frustrações, reprovações e recriminações que começam no seio da própria escola e o velho preconceito de que não sabe português.
Todos esses aparatos gramaticais tradicionais são frutos de uma preocupação da escola em mostrar ao estudante a língua considerada padrão pela elite cultural, que insiste em se modelar através e a partir dos clássicos e dos grandes nomes.
A gramática, que em grego significa “a arte de escrever”, nasce na Grécia. Observando essa particularidade, as regras gramaticais foram geradas e logo voltadas para o uso literário dos renomados escritores do passado, recebendo o título de gramática Tradicional.
Com base na análise desses fenômenos, ressaltamos dois equívocos cruciais: o primeiro, consiste na rígida separação da língua escrita da falada; o segundo no modo de se encarar a mudança e mutabilidade das línguas, fatalidade concebida por muita gente até hoje. Por conseguinte, enquanto não houver uma proposta pedagógica habilitada a eliminar esses equívocos existentes no ensino da língua e uma mudança substancial das motivações ideológicas que sustentam esse ensino mutilador e segregador, a gramática Tradicional permanecerá como alvo crítico dileto, embora reconhecendo ser ela a fatorial referência para o ensino Fundamental e o Médio.
O resultado disso é a submissão da língua à gramática. Mas, como?Por que meios? Com os séculos sendo atravessados a todo vapor, a Gramática Tradicional mudou de roupagem, preservando-se o seu conteúdo. Isto é, passou-se a denominar-se de Gramática Normativa. Assim, a Gramática Tradicional tornou-se uma ferramenta ideológica e as gramáticas escritas para descrever e concretizar como leis e padrões as manifestações lingüísticas usadas pelos escritores considerados dignos de admiração em qualquer tempo e espaço, modelos a serem imitados.
Segundo Bagno:
Com a instrumentalização da Gramática Normativa em mecanismo ideológico de poder e de controle de uma camada social sobre as demais, formou-se essa “falsa consciência” coletiva de que os usuários de uma língua necessitam da Gramática Normativa como se ela fosse uma espécie de fonte mística da qual emana a língua “pura”.Foi assim que a língua subordinou-se à gramática. (BAGNO, 2000: 87)
Por fim, permanece a questão, mais viva que nunca: devemos ou não utilizar a gramática no ensino da Língua Portuguesa? Indubitavelmente que sim, embora saibamos que ela em si não ensina ninguém a falar, contudo auxilia na medida em que consigamos separar o útil.
Bagno é de opinião que:
A gramática deve conter uma boa quantidade de atividades de pesquisa, que possibilitem ao aluno a produção de seu próprio conhecimento lingüístico, como uma arma eficaz contra a reprodução irrefletida e acrítica da doutrina gramatical normativa. (BAGNO, 2000: 87)
Tendo em vista o conceito de Bagno, o professor de português deixaria o seu estágio de “sedentarismo intelectual”, passaria a ser dinâmico, deixando de ser apenas um aparelho repetidor da doutrina gramatical normativista, que ele mesmo não domina de modo integral.
À vista das considerações aqui pronunciadas, conclui-se que a gramática não consegue ser única fonte para o ensino da língua nas entidades escolares, bem como a ser intitulada como o conjunto normativo da linguagem, num âmbito generalizante. Assim posto, no comenos em que o aluno entender que as regras da norma culta são passíveis de variações é que o uso de uma forma pode vir a ser tida como normal numa modalidade lingüística.
Também se faz de extrema urgência que gramáticos e demais estudiosos da língua formem uma simbiose e não uma relação parasitária, para que haja cada vez mais espaço dentro de sala de aula para o ensino de “gramáticas” e que a elite cultural caia na racionalidade e na admissão intelectual de que houve mudanças abissais na língua padrão fomentado pela Gramática Tradicional e que no Brasil fala-se um português brasileiro, discrepante do português de Portugal. Agindo assim, tendemos a extinguir as discriminações rígidas que a escola insiste em pôr em prática.
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