sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Encontros para liberdade


Por Germano Xavier

Uma borboleta, antes de ser propriamente uma borboleta, é antes uma larva, uma lagarta, e rasteja pelo chão. Só depois vem a mágica da natureza, faz dela um casulo, e da lagarta que outrora rastejava pelo solo brota uma colorida borboleta pronta para realizar o seu primeiro vôo. É quase assim a atmosfera que paira dentro e fora das páginas do primeiro romance da escritora Lilian Farias, intitulado de Encontros para Liberdade, publicado pela editora carioca Multifoco. O que há nas personas fictícias que compõem o arcabouço textual é um afã quase incontrolável pela sensação da liberdade sentida e vivida.

Romance curto, cerca de 90 páginas, que mais estaria para uma novela do que para um verdadeiro romance, com seus poucos personagens e enredo também de curta extensão, o livro apresenta uma densidade temática que pode confundir o leitor desavisado quando este interpreta as páginas inicias do livro, tamanha a singeleza do trato literário dado por Lilian. A escritora, graduada em Letras e membro-correspondente da ALTO – Academia de Letras de Teófilo Otoni, utiliza-se de uma narrativa simples para contar a estória de Dolores e Clarice, personagens que, no fim sendo personagens-una, seguem caminhos discrepantes até o desfecho do livro, mas que porventura se encontram para a fundação de um porvir baseado em esperanças.

São marcantes nas personagens os delírios da dúvida, o receio da dor, a agonia do medo, os abismos provocados pela ânsia e o fortalecimento num desejo do ser de ser através da conjunção de todos estes fatores. Além disso, o recurso da escolha feita por capítulos curtos também agiliza o processo de leitura por parte do interlocutor. A imaginação construtiva de uma outra imaginação, porventura produzida pela mente das personagens é, talvez, outro elemento de destaque na trama.

Como disse Iêdo de Oliveira Paes, doutor em literatura e professor do curso de Letras da UFRPE/UAST, “nasce uma romancista que transita pelos labirintos mais secretos do humano. Em cada página, ou melhor, por entre fios narrativos que permeiam a tessitura de Lilian Farias encontramos um grande tablado no qual as personagens anseiam por uma busca constante de respostas às várias inquietações do cotidiano. Soluços e sussurros caminham nos discursos que se entrecruzam numa encruzilhada de valores humanos por demais relativos e instigantes. Fluxo contínuo das ações impetradas pelas enigmáticas personagens Clarice e Dolores. Como porta-vozes das nossas dores, sonhos e frustrações carregam nos seus destinos a insígnia dual da contemporaneidade: a construção e desconstrução do pragmatismo humano. Rotular a tecido literário de Lilian Farias é muito arriscado. A literatura é um rio inquieto e muito caudaloso... mistérios! A sua teia narrativa está para além de "modismos" e "impressões"."

Como todo bom livro inaugural de um escritor – há exceções, claro -, há sempre algo para ser repensado, refeito, cortado e/ou ampliado em possíveis novas edições ou em prováveis novos títulos, tanto em questões físicas como em problemas que envolvem o ideário da obra, mas nada que tire a melodia da música tocada pelas jovens mãos da escritora sergipana, radicada há alguns anos em Pernambuco, mais precisamente na região do Vale do São Francisco. O certo é que, disfarçada num sudário literário feito de um estranhamento parcamente límpido, a literatura de Lilian Farias começa, com a publicação de Encontros para Liberdade, a fazer balouçar os primeiros galhos nas copas das árvores do Deus Palavra, cujo ventar das asas de seu infante vôo conseguiu atingir...

Para saber mais, acesse: Poesia na Alma

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