quinta-feira, 22 de maio de 2014

O poema que não escrevo agora

*
Por Germano Xavier

Olhando o vazio do mundo...


o poema que não escrevo agora vacila
como a água que escolherá o rumo tardio
na correnteza o poema está calmo e mente
o verbo boia na imensidão de cristal
não faz cantoria de ninar nem surfa
o verbo é morto mas diz um querer
um carma antigo e plástico e amorfo
o poema que não escrevo agora está despencando
de um precipício e é alto o caimento
vago o vazio e plena a dor de sua vida sem tanto
sentido posto apenas seu estado de ser e só
um poema sem escrita sincera mas real
uma dor repito uma dor de tempo perdido
ou de vitória com eco dissonante de acordes ocos
como um poema que não escrevo agora pode
maltratar assim um corpo rude como o do tempo
da massa alterada que insiste em passar
e operar a máquina de personas e fumaças fabris
como pode um poema que sem ter nem pra onde
vai assim corroendo o maciço o duro o grosso
apressando uma mensagem de amor qualquer
como separa o poema que não escrevo agora
o amor da dor e simplesmente faísca faísca faísca

* Imagem retirada do site Deviantart.

2 comentários:

Arco-Íris de Frida disse...

Se nao escreve... o vazio permanece...

controvento-desinventora disse...

Escrever é entrar no vazio de tudo.