ADAM, J.M. A linguística textual: introdução à análise textual dos discursos. São Paulo: Cortez, 2011.
CAPÍTULO 1- INTRODUÇÃO À ANÁLISE DOS DISCURSOS
1. (RE)COMEÇAR DE SAUSSURE E DE BENVENISTE
1.1 A “LÍNGUA DISCURSIVA” DE FERDINAND DE SAUSSURE
“Apesar de Saussure ter colocado a língua no centro de seu programa, ele também se questionou sobre “o que separa” a língua propriamente dita do “discursivo” (p. 29)
“A frase só existe na fala, na língua discursiva, enquanto a palavra é uma unidade que vive fora do discurso, no tesouro mental” (p.30)
“(...) o sujeito falante não se exprime por palavras isoladas” (p. 30)
“(...) a língua consiste somente no discurso conectado, a gramática e o dicionário são comparáveis a seu esqueleto morto” (p. 31)
“Humboldt define a língua como uma atividade discursiva, como o “ato de sua emissão real” (ibid., p.143), e destaca que é apenas nos “encadeamentos do discurso” que podem ser percebidos os elementos mais significativos da língua” (p. 31)
“Saussure define seu objeto e seu programa como um retorno do discursivo à língua como “tesouro mental”, ou seja, vai na direção de algo que, para Humboldt (1974, p.183), não era senão “a projeção totalizadora da fala em ato” (p. 32)
“A definição do discurso como ligação entre conceitos revestidos de uma forma linguística deixa em aberto a questão da natureza e da extensão desses encadeamentos” (p. 32)
“Mas é preciso reconhecer que no domínio do sintagma não há limite rigoroso entre o fato de língua, marca do uso coletivo, e o fato de fala, que depende da liberdade individual” (p. 33)
“A frase aparece como uma unidade de composição-sintagmatização situada na fronteira entre dois domínios: ela pertence à língua em sua dimensão sintagmática e à fala em sua dimensão discursiva” (p. 34)
“A preocupação principal de Saussure é a operação que permite abstrair o sistema da língua a partir dos fatos de discurso. Émile Benveniste vai retomar a questão de forma exatamente inversa, privilegiando a realização do discurso, o que ele vai progressivamente designar como enunciação” (p. 34)
1.2. A “TRANSLINGUÍSTICA” DE ÉMILE BENVENISTE
“O “sentido” (na acepção semântica [...]) se realiza em e por uma forma específica, a do sintagma, diferentemente do semiótico, que se define por uma relação de paradigma. De um lado, a substituição, do outro, a conexão, tais são as duas operações típicas e complementares” (p.35)
“(...) é no discurso, atualizado em frases, que a língua se forma e se configura. Aí começa a linguagem” (p. 35)
“[...] Na realidade, o mundo do signo é fechado. Do signo à frase não há transição, nem por sintagmação nem por outra forma. Um hiato os separa” (p. 35)
“Benveniste considera que, embora a frase compreenda constituintes, ela não pode, em contrapartida, integrar nenhuma unidade de ordem mais elevada de complexidade” (p. 36)
“A frase só se define por seus constituintes e o merisma, por sua natureza de constituinte de uma unidade linguística de ordem superior” (p. 36)
“(...) a segmentação de textos em frases, e até mesmo de frases periódicas complexas em unidades predicativas, não se faz com a mesma regularidade combinatória com que se faz a segmentação dos sintagmas, morfemas e fonemas” (p. 37-38)
“Para Benveniste, a frase é uma unidade de outra ordem: “A frase pertence realmente ao discurso. É assim que podemos defini-la: a frase é a unidade do discurso. [...] A frase é uma unidade, no sentido de que ela é um segmento do discurso” (p. 38)
“Benveniste exclui o “texto do enunciado” do campo (“semântico”) da linguística da enunciação” (p.38)
“Benveniste dividiu programaticamente o campo geral da linguística em três domínios, com a linguística da enunciação ocupando uma posição central” (p.39)
“Apoiando-se na linguística da enunciação, a linguística do discurso se abre, por um lado, para uma “translinguística dos textos”, e por outro, para uma “translinguística das obras”, isto é, das produções literárias” (p. 40)
2. LUGAR DA LINGUÍSTICA TEXTUAL NA ANÁLISE DE DISCURSOS
“(...) definimos a linguística textual como um subdomínio do campo mais vasto da análise das práticas discursivas” (p. 43)
2.1. GÊNEROS DE DISCURSO, LÍNGUA(S) E FORMAÇÕES SOCIODISCURSIVAS
“Já em 1978, a relação entre língua e gênero era assim resumida por Tzvetan Todorov: “Qualquer propriedade verbal, facultativa no nível da língua, pode tornar-se obrigatória no discurso” (p. 45)
“É nos gêneros de discurso que localizamos essa “estabilização pública e normativa” que opera no quadro do sistema de gêneros de cada formação discursiva” (p. 45)
“(...) Foucault (1969, p. 132) considera o caso particular de uma mesma frase (ou proposição) que, no entanto, nunca é idêntica a si mesma, enquanto enunciado, quando as coordenadas da situação de enunciação e seu regime de materialidade mudam” (p. 48)
2.2. (RE)PENSAR AS RELAÇÕES ENTRE CONTEXTO, COTEXTO E TEXTO(S)
“De um ponto de vista linguístico, é preciso dizer que o contexto entra na construção do sentido dos enunciados. Com efeito, todo enunciado, por mais breve ou complexo que ele seja, tem sempre necessidade de um co(n)texto” (p. 52-53)
“Se, em uma interação oral, pode haver concorrência entre contexto e contexto da enunciação, na escrita, o contexto é o dado mais imediatamente acessível” (p. 53)
“Realidade ao mesmo tempo histórica e cognitiva, o contexto está ligado à memória intertextual” (p. 56)
“Todo texto constrói, de forma mais ou menos explícita, seu contexto de enunciação” (p. 56)
“Em outras palavras, a memória discursiva é, ao mesmo tempo, o que permite e o que visa uma interação verbal” (p. 57)
3. O CAMPO DA ANÁLISE TEXTUAL DOS DISCURSOS
3.1. UMA PRAGMÁTICA TEXTUAL?
“A ligação com a análise dos discursos é, então, concebível, e o objeto parece mais bem definido: práticas discursivas institucionalizadas, quer dizer, para nós, gêneros de discurso, cuja determinação pela história deve ser considerada pelo viés da interdiscursividade” (p. 60)
3.2. DO DISCURSO COMO AÇÃO AO TEXTO
“Um texto raramente advém de um só gênero” (p. 62)
“Toda a ação de linguagem inscreve-se, como se vê, em um dado setor do espaço social, que deve ser pensado como uma formação sociodiscursiva, ou seja, como um lugar social associado a uma língua (socioleto) e a gêneros de discurso. (p. 63)
“A linguística textual concerne tanto à descrição e à definição das diferentes unidades como às operações, em todos os níveis de complexidade, que são realizadas sobre os enunciados” (p. 63)
4. ESTABELECIMENTO DO TEXTO E CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE ANÁLISE
4.2. A PERORAÇÃO DO ELOGIO FÚNEBRE DE GEORGES BRAQUE POR MALRAUX
“Neste ponto de nossa reflexão metodológica, vê-se que as ciências ou disciplinas do texto se cruzam: da história da edição à tradução e à filologia, passando pela análise linguística” (p. 72)
* Imagem: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S0104-65782010000100010&script=sci_arttext
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