“Pode a palavra esvaziar-se de significado?”
(Sílvia Jussara)
PLANO DA EXPRESSÃO E PLANO DO CONTEÚDO
A resposta mais coerente para a pergunta que abre esta pequena exposição é, indubitavelmente, um SIM. Sim, a palavra pode se esvaziar de significado. Todavia, para se chegar a pensar a partir de tal viés, faz-se necessário imaginar a palavra como uma entidade quebradiça, passível de divisão e formada por inúmeras camadas, que vão desde os elementos estruturais até os seus constructos sociais e históricos que a define a depender do contexto em que se encontra inserida.
A palavra, quando diante do processo de silabação e observada em seus “pedaços” constituintes, perde a potência de seu conteúdo de referência e mergulha na esfera dos sons da língua “que, mesmo articulados em cadeia, nada significam” (CARONE, 2005, p.08). Assim, quando tomamos os fonemas e as sílabas para estudo mais detalhado, percebemos que tais estruturas não entram no campo da significância e terminam por recuarem-se ao que denominamos de plano da expressão.
A parte da palavra que abarca o todo do potencial de significação é o radical. O radical indica a base para a construção imagética que temos ao ler uma palavra e todos os segmentos que se articulam ao radical permitem novas formulações no âmbito do sentido/significado. Há casos de exceção, mas no geral é o radical que permeia o que denominamos de plano do conteúdo.
O traço que permite a distinção entre esses dois planos é de natureza qualitativa: a ausência ou presença de significado. As unidades significativas são signos porque nelas se solidarizam significante e significado – dupla face de uma só entidade. (CARONE, 2005, p.09)
DELIMITAÇÃO DO CAMPO DA GRAMÁTICA
Tomando como base a ideia de unidades portadoras de significado, ou seja, daquelas que adentram o plano do conteúdo, entenderemos que a gramática dará conta apenas da morfologia e da sintaxe, deixando a parte destinada aos estudos fonéticos de fora de sua missão epistemológica.
CONCEITOS OPERACIONAIS BÁSICOS
1) Articulação: permite que as formas linguísticas sejam passiveis de análise. Pode ocorrer tanto no plano da expressão (fonemas) quanto no plano do conteúdo (unidades significativas) – princípio da dupla articulação.
2) Função: papel que um elemento constituinte exerce perante outro elemento ou que se articulam, sendo os dois interdependentes – relação de dependência, pois.
3) Substância e forma. Estrutura e construção: elementos que se relacionam e que são formadores do constructo pleno (expressão + conteúdo).
4) Análise e Síntese: perpassam o método de investigação das partes que compõem o todo e o resultado personalizado dos esforços de análise empenhados. São momentos/movimentos opostos.
NÍVEIS DE CONSTRUÇÃO NO PLANO DO CONTEÚDO
Os objetos da língua necessitam de segmentação. E a ordem para estudo, tendo como ponto de apoio o referencial obtido a partir da instância do plano do conteúdo, da menor unidade analisável até a maior, é:
1) Morfema;
2) Vocábulo;
3) Lexia;
4) Sintagma;
5) Oração;
RECURSOS GRAMATICAIS (INVARIANTES)
O sistema linguístico verbal pode ser operacionalizado de diversas formas e partindo de olhares os mais variados possíveis. O expediente de estudo científico da língua deve se pautar, pois, em algumas invariantes, tais como:
a) Ordem das palavras (estruturação sintática):
b) Composição (sequenciamento linear);
c) Afixação (formas rígidas que se articulam);
d) Alternância vocálica e Alternância consonantal (alterações que produzem fatos gramaticais);
e) Variações do acento (intensidade, altura e timbre);
f) Reduplicação (alteração no radical e reprodução imperfeita);
g) Palavras instrumentais (termos que expressam conceitos abstratos de relação).
BIBLIOGRAFIA
CARONE, Flávia de Barros. Morfossintaxe. 9 ed. São Paulo: Ática, 2005.
* Imagem: http://dizedores.blogspot.com.br/2008/11/o-poder-da-palavra.html
Um comentário:
muito o0brigada, vc me salvou em meu seminário. bjs da Paraíba
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