Por Germano Xavier
XII
“Pai, perdoai-vos, pois eles não sabem o que fazem.” Eles não sabem mais o que fazer com a civilização, com esta mecânica fajuta e deplorável que está sempre à procura de alguma vítima, alguém despreparado, alguém inocente. (...) “Porra, o que será que aconteceu?!”, interrogou exclamando a moça que estava ao meu lado, na frente do shopping center. Virei a cabeça e dei de cara com um rapaz que se aproximava velozmente de mim. Confesso que aquilo não me despertou nenhum sentimento de surpresa, tamanha é a carga de violência estampada em nosso cotidiano. Fato que nos despudoriza. Vocês já desconfiam, eu já disse que não me importo com essa realidade, com esse mundo cada vez mais ligeiro e artificial. Tive vontade de tomar um daqueles chazinhos que tanto me fazem bem, mas fiquei só na vontade. Estamos fadados à civilização! Estamos fadados à realidade! Maldição! Maldição! Três vezes maldição! Quis baixar a cabeça, mas não deu tempo. O mesmo rapaz surgiu feito um leão feroz diante do rival que lhe quer tirar o domínio do seu território, agora segurando o menino pelo pescoço. “Cadê o som do meu carro?”, “Cadê o som do meu carro?”, “vamos!”, “desembucha logo, rapazinho!”, dizia o moço raivosamente e com a tez do rosto bastante corada. “Não, moço, eu sei de nada não!”, “o que foi que eu fiz?”, “eu não peguei nada, não” – retrucava o encurralado menino, que a essa altura também já estava acompanhado por um segurança daqueles que parecem mais (desculpem a comparação) um gorila, de tão forte. Ah, meus “redondinhos”! Tenho saudade dos meus fantasmas noturnos. Alguma coisa me dizia que, quando se é criança, a gente precisa de ajuda (é cada vez mais complicado fazer uma leitura desse “mundo”) e de amparo. Se não for assim, a tendência é a pior possível. Vocês são mesmo uns imorais! Não são éticos, não são dignos! Mas é para isso que estou aqui, simplesmente para mostrar o caminho verdadeiro. Acreditem! Eu sei! Eu sei que há “mundos” cheios de esperanças e de paz, onde todos conhecem o sentido da palavra LIBERDADE. Vocês deviam parar de se preocupar comigo. Eu não valho a mínima parte do seu trabalho. Mas não pensem que eu sou um louco. Eu sou apenas um sonhador que acredita em “mundos” e que está aqui só de passagem. Eu não vejo a hora de voltar para a minha casa. As coisas aqui parecem que não mudam, começando pela sua cabeça. Ah, o final! Vocês devem estar querendo saber que rumo essa história tomou. Perdoem-me, não há final. Não existem previsões de melhora condizente a isso. O que eu quero é que vocês me entendam! Eu sei de tudo que te fere, eu sei. O tempo é passageiro como nós, meu amigo! A aventura, não se esqueça da aventura! O futuro está aí, na fumaça que sai do seu cigarro. Continuem! Não podemos parar! Vivam! Sirva-se de seus pseudofrutos, mas não deixem de viver! O coração ainda pulsa, e isso é um bom sinal! Os faróis ainda alcançam os navios mais longínquos destes mares. Salve a conduta dos homens, desses homens. Continuem procurando o “som dos seus dirigíveis”, continuem!
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Crédito da imagem:
"this afternoon by ~jaymyccah"
Deviantart
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