Por Germano Xavier
pousam pingos de chuva no batente
da janela. a noite está chorando
e o ar é diferente no segundo andar
de minha vida. dá para a rua o meu olhar
e alguém deve estar preso na avenida fria,
à espera de um herói qualquer. a filha
desgostosa, aborrecida, combate a estafa
com um pulo na ponte enfestada de pestes.
a outra mulher traindo a sua sorte, dominada
por mãos estranhas, nas entranhas.
o carro veloz que bateu no hidrante
e que atropelou meio mundo. gritos ouvidos,
é a periferia acordando – claro-escuro.
luzes de motel no fim da linha, é o fim
da linha. é o homem de agulha na mão
se medicando. sou eu com esta arma – a palavra –
tão distante. e os tigres, alheios ao que fizemos
com tudo, descansando no zoológico,
no aguardo da fresca carne do amanhã.
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