Por Germano Xavier
XVI
Mas, no fim, o rio passou,
e o que ficou na lembrança,
hoje, feito um corcel, cavalga
por minhas veias apertadas
a sempre esperar pelo tombo.
XVII
A mulher, em seu aniversário,
sempre deseja que a gente
se esqueça do seu passado,
mas nunca do seu presente.
XVIII
Um poeta puro não pode
esquecer de regar sua horta.
(...)
E todos os dias de chuva
eu sentava na varanda da minha casa
a ler os versos mais belos
do Grande Vate.
XIX
Intimidade
Idade
Íntima
Íntima
Idade
Intimidade
Tímida
Idade
In
Intimida
Intimide
Íntima
Idade
Tímida
In
XX
O mundo era incerto demais
e inseguro.
Saudade.
XXI
Mato a fome.
A poesia tem gosto de marzipã.
E eu nunca comi uma dessas.
XXII
Não quero apodrecer distante
do meu fim de vida,
se há fim
no recomeço eterno dos meus olhos.
XXIII
... e estes golpes que recebo
quando buquino sebos velhos...
Livros são como amigos velhos,
Compadecem quando na frente deles bebo.
XXIV
Um bom poema
lembra um cálculo matemático
errado...
XXV
bolinhalinharolaenrolada
nareia
céumenino
de brincadeira
debrincadeira
XXVI
Pinte e borde.
No caos, também se pode
ser criança.
XXVII
Eu sou o lambuzar em minha tua
criatura de lama,
no todo que se parte
por onde me demoro.
Lambuzo, não desuso.
Uso...
minha esfera,
meu gosto inabitável
por querer o meu silêncio
mais íntimo
descendo
a espacial tristeza de quem não sou.
XXVIII
A resposta está em mim,
eu sei que um dia tudo vai
ser tragado.
E então eu digo:
“Que linda árvore, tão verde!
O teu nome é árvore mesmo?”
XXIX
O sol deve ter uma enorme criação de canários, que se revezam nas tarefas de carregá-lo para todos os lugares do mundo e de emitir seus raios cor de banana madura.
XXX
Nunca imaginei poder atravessar uma ponte da maneira tão indiferente como fiz hoje. Por vezes, minha vontade de morrer confunde-se com a ondulante intermitência das águas.
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