segunda-feira, 17 de março de 2014

Retalhos II


Por Germano Xavier

XVI

Mas, no fim, o rio passou,
e o que ficou na lembrança,
hoje, feito um corcel, cavalga
por minhas veias apertadas
a sempre esperar pelo tombo.


XVII

A mulher, em seu aniversário,
sempre deseja que a gente
se esqueça do seu passado,
mas nunca do seu presente.


XVIII

Um poeta puro não pode
esquecer de regar sua horta.
(...)
E todos os dias de chuva
eu sentava na varanda da minha casa
a ler os versos mais belos
do Grande Vate.


XIX

Intimidade
Idade
Íntima

Íntima
Idade
Intimidade

Tímida
Idade
In

Intimida
Intimide

Íntima
Idade
Tímida

In


XX

O mundo era incerto demais
e inseguro.
Saudade.


XXI

Mato a fome.
A poesia tem gosto de marzipã.
E eu nunca comi uma dessas.


XXII

Não quero apodrecer distante
do meu fim de vida,
se há fim
no recomeço eterno dos meus olhos.


XXIII

... e estes golpes que recebo
quando buquino sebos velhos...
Livros são como amigos velhos,
Compadecem quando na frente deles bebo.


XXIV

Um bom poema
lembra um cálculo matemático
errado...


XXV

bolinhalinharolaenrolada
nareia
céumenino
de brincadeira
debrincadeira


XXVI

Pinte e borde.
No caos, também se pode
ser criança.


XXVII

Eu sou o lambuzar em minha tua
criatura de lama,
no todo que se parte
por onde me demoro.
Lambuzo, não desuso.
Uso...
minha esfera,
meu gosto inabitável
por querer o meu silêncio
mais íntimo
descendo
a espacial tristeza de quem não sou.


XXVIII

A resposta está em mim,
eu sei que um dia tudo vai
ser tragado.
E então eu digo:
“Que linda árvore, tão verde!
O teu nome é árvore mesmo?”


XXIX

O sol deve ter uma enorme criação de canários, que se revezam nas tarefas de carregá-lo para todos os lugares do mundo e de emitir seus raios cor de banana madura.


XXX

Nunca imaginei poder atravessar uma ponte da maneira tão indiferente como fiz hoje. Por vezes, minha vontade de morrer confunde-se com a ondulante intermitência das águas.

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