Por Germano Xavier e Inês Guimarães
Zatopek deixou cair o café na garganta do diabo. A criança acordou assustada. Zatopek foi ler o jornal. A manchete estampava um jardim secreto. A criança comprou um ingresso e brincou no chapéu mexicano. O diabo era menino, também foi brincar. Zatopek se esqueceu no calor do derradeiro gole.
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A reunião durou toda a noite. Sentados, percebiam fixamente o corpo de olhar sereno que se estendia no centro do salão. Mãos cruzadas diante do corpo, olhos abertos fixando o infinito. Esperavam que acordasse e saísse a (re)desbravar o mundo. Tornou-se imune aos desencantos da vida e partiu sem um adeus, apenas jogando beijos aos que ficaram a lhe velar.
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A criança de Zatopek era o próprio Zatopek. O diabo de Zatopek era a criança de Zatopek. O gole foi ardido. Assustada com o girar, a criança conheceu o rosto do diabo. O jardim escondia grifos e faunos. Zatopek foi visitar o homem.
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O silêncio perdurou. A ilusão da respiração fraca e ininterrupta permanecia a iluminar o ambiente escuro de medos e desejos reprimidos. Não levantou. A maquiagem ainda fresca derretia sobre a face gélida. Derretia em sentimentos que não mais podia demonstrar. Mesmo assim, a reunião prosseguia noite adentro, carregada de uma palidez mórbida.
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Quando Zatopek viu o rosto do homem, a ilusão de ser foi sombria e corvo na madrugada. Assumiu-se...
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Os olhos da morte pairavam sobre o corpo. Sedentos, moviam-se levemente. Sorriram um sorriso manipulador. Seguiram em busca de outra reunião noturna.
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Zatopek nada entendia. Não entendia de crianças nem de diabos. Deitou sobre a mesa um punhado de manteiga e uma dezena de biscoitos rotundos. Começou a comer...
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A noite prolongava-se em horas inexplicáveis. Corria sorrateira pelo dia sem fim. Reconheceu os olhos da morte a vagar por suas entranhas. Comunicou-se. Os olhos voltaram-se para a morte, carregando a alma recém-saída.
Escrito em parceria com Inês Guimarães, colega de Jornalismo.
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