sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

A mulher cósmica


Por Germano Xavier


Um dia conheci uma mulher cósmica.
Talvez a única mulher cósmica de minha vida.
A mulher cósmica tem preguiça
e faz dela um porto para crias.
Dobra pernas sobre cadeiras como ninguém.
Veste roupinhas para dormir como ninguém.
Fica nua, também, como ninguém.
Sabe até escrever a mulher cósmica,
e como ninguém.
De comportamento estranhado,
e às vezes desordenado,
movimenta o vento mais entranhado.

Um dia conheci uma mulher cósmica.
Talvez a única mulher cósmica de toda a minha vida.
Dorme pesado a mulher cósmica,
sabe ser graça e rudeza na fala
ao vivada. A mulher cósmica
possui segredos de colombina.
Chegará na noite chuvosa
cheirando a cigarros e perfume,
abraçará a cidade perdida
com suas costas largas
como uma ponte cobre o rio.

Um dia conheci uma mulher cósmica perfeita.
Talvez a única mulher cósmica perfeita de toda a minha vida.
A mulher cósmica tem seios fartos,
rijos e macios, mãe adoradora
do filho que também fui (serei, ou sou).
A mulher cósmica prefere o azul,
mas calça sapatos vermelhos.
A mulher cósmica não tem jeito
para cozinha, pois a cozinha não é um lugar,
por assim dizer, cósmico.
A mulher cósmica gosta da cozinha
apenas como cenário para o amor.

Um dia conheci uma mulher cósmica real.
Talvez a única mulher cósmica real de toda a minha vida.
Fílmica, sem ser dissimulada,
a mulher cósmica é o prazer máximo.
E prazer é saudade.
E saudade é aperto.
E aperto é coração.
E coração é cosmo, fica para sempre no universo.
Bailarina, pianista de piano branco, brando,
sabe defenestrar a quem...
A mulher cósmica é pequena e grande ao mesmo tempo,
e definitivamente não é deste nosso Tempo.

Um dia conheci uma mulher cósmica de raça pura.
Talvez a única mulher cósmica de raça pura de toda a minha vida.
Por ser de raça pura, faz o corpo suar. Fez, a alma. Faz, repito.
Haja homem no homem para suportar a mulher cósmica.
Infantil, doce e necessitada, a mulher cósmica cativa.
Inventa estórias comprimidas sobre o nada vezes nada
e dorme sobre o peito nos furtando o ar.
Fértil, a mulher cósmica procria
e tem quadros e espelhos por toda a casa.
Tem livros, tem incensos, tem orifícios e olhos grandes.
Lábios grandes.
Tem um coração grande, eu sei, a mulher cósmica.

Sei porque um dia conheci uma mulher cósmica.
Talvez a única mulher cósmica de minha vida.

Um comentário:

Daniela Delias disse...

Muito bonito. Uma linda, linda história.

Beijos, G.!