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Por Germano Xavier
Se perguntarem a você algo sobre lendas e mitos da América do Norte ou da Europa, muito provavelmente você saberá responder, ter uma ideia ou aventar algo à respeito - a menos que você não se interesse mesmo por tais assuntos. Este panorama muda se o questionamento for transplantado para as coisas da América Latina, Ásia, Oceania, e por aí vai. Se te perguntam sobre as coisas da África, aí o repertório de informações pode zerar de uma vez por todas. Afinal, o que sabemos sobre este misterioso continente, berço das civilizações e palco de incontáveis histórias? O que trazemos em nós sobre os povos Kói, Quimbundos, Batongas, Nupês, Dogons, Suaílis, Xosas, Lesotos, Zulus, Iorubas, Chagas, Quicongos, só para citar alguns? O que sabemos sobre países como Botsuana, Angola, Mali, Tanzânia, Nigéria, África do Sul, Quênia, Congo, Namíbia, Sudão? Vai me dizer que você conhece o mito de Tsui'Goab? E a história de Kigbo e os espíritos do mato?
Infelizmente, estamos falando de um continente onde os diversos aparelhos midiáticos ainda não resolveram entrar da forma como deveriam. Um atraso milenar foi o que restou - se bem que a razão para tanto atraso não está somente atrelada a este problema. Conhecemos a África dos animais selvagens, dos conflitos e das guerras civis, das epidemias de Ebola e Aids, a África da fome e da miséria, da sede e dos desertos desumanos, mas não conhecemos quase nada além disso. Questionamentos desta natureza abrem o livro Lendas Negras, adaptado por Júlio Emílio Braz e ilustrado por Salmo Dansa. Ao fim de tais reflexões, é como se vivêssemos em um mundo onde os reinos de Ghana e Achanti, onde os impérios Mali, Songai, Kanem-Bornu e Bambara não existissem, o que realmente é uma pena.
A população jovem pouco ou nada sabe sobre estes povos e territórios, apesar de que ultimamente tem sido mais aclamadas as coisas que em alguns países africanos estão sendo produzidas, principalmente em termos lítero-artísticos. Para desmistificar um pouco este universo pouco navegado é que Braz organizou a obra que por ora lhes apresento. Lendas Negras é classificado como infanto-juvenil, é recheado por 8 lendas de povos diferentes da Mãe-África e funciona muito bem como uma introdução a tais cenas. Os mitos percorrem a imaginação de quem lê de forma a produzir sensações que dialogam com nossos instintos mais primitivos, como os da generosidade, da gratidão, do medo, do respeito à natureza, da vida e da morte. Para quem interessar possa, está aí uma boa dica.
2 comentários:
“Esta não é uma história fácil de ouvir, nem de contar. Mas é uma história que precisa tanto ser ouvida como contada”.
Eu e alunos do 7º e 8º anos fizemos atividades interessantes a partir desta obra, MENINOS EM GUERRA\ Jerry Piasecki. O livro está bem distante dos best sellers largamente consumidos por alunos dessa faixa etária, mas causou interesse e reflexões bem parecidas com as suas: quem são as crianças e adolescentes africanos, como vivem, o que os alegra, o que os aperta?
Na mesma linha, vale a pena o filme TARTARUGAS PODEM VOAR, que mostra o dia a dia de crianças em campos de refugiados curdos, na fronteira entre Irã e Iraque. Não é um filme para sala de aula, creio, a não ser para alunos do 3º ano do Ensino Médio. Crueldade escancarada sem maquiagem, mas sem ser apelativa: crianças que sobrevivem catando destroços de guerras e vendendo o metal. Da mesma forma nos surpreendemos: crianças na zona de conflito? Em que momento nos lembramos delas, de como vivem, de quais sonhos conseguem ter...
Ambas as obras mexem na tristeza da gente, mas valem se as marcas deixadas conduzirem a questionamentos conscientes e consistentes...
Júlio Emílio é sempre boa dica. Obrigada, Germano!
Fiquei um ano afastada da leitura dos blogs e quando resolvo voltar encontro uma postagem maravilhosa. Adoro ler e vou aproveitar sua dica pra diversificar minha literatura e conhecimentos. Depois volto pra dizer se gostei. Valeu!
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