"Por uma semana, não podia ver uma criança que me sentia como se tivesse perdido o filho que nunca teria. Eram meus os quatro filhos mortos neste acidente."
Excerto do conto SANGUE, de Miguel Sanches Neto.
Ao que se segue a anotação feita por Iara Fernandes, espremida no cantinho da página.
"E eu que perdi o que tive..."
então eu quero ser uma ponte
acondicionada sobre um leito aquoso
por onde rebentam peixinhos fosforescentes
que pulam e tentam um instante de voo
então eu quero ser um poente
dominado de uma vermelhidão celeste
capaz de encaminhar o horizonte para além
de nós mesmos carnes e só
então eu quero ser uma voz
para dizer que nunca perderemos nada
já que tudo se estreita em ausências ou não
páginas de uns dias melhores após outros
então eu quero ser uma escuta
piedosa enquanto pássaro se debatendo
pois mesmo na pré-morte do animal
uma poeira se levanta acalmando o caos
3 comentários:
Crédito da imagem:
"poeira
by ~liabio"
Deviantart
Então você é a voz e me diz que nada se perde... Eu acredito e reverencio.
Poema que acalma. É lindo. É muito lindo.
Beijos, G.
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