Por Germano Xavier
(Cepe, 2015)
Nossos corpos são púlpitos.
Nossos corpos são altares sobre toda uma iconoclastia de símbolos, maquinaria clandestina por onde suores se dissipam, corpo-ancestralidade. Corpo-representação do óbvio. Estantes para amparar estrelas. Voz-arcabouço de embates mil. Astro-rei. Corpo-espectro onde a luta é Sempre. Nossos corpos são teares, rodas que investem nos caminhos do prazer, novelos de espelhos que embotam a alma e outros elos. Nossos corpos cuidam girassóis e avenidas, e o instante é o vácuo aberto para aquilo que nos prendem.
Os corpos aprendem.
Corpo-púlpito, pólen de gentes. Néctar dos deuses. Todo um mar de sensações. O cômodo aquático. A cama perfeita para as vãs morfologias. Corpo-obra, talhado para cada beijo e cada amasso e cada esfregão e cada dorso em coito. Corpo-rio, cidade própria vultuosa, ilha amarga para fogos circunspectos. Nosso corpo é margem alegre para sonhos de mangue. Corpo-Recife, mar que arrebenta. Corpo-beat. Corpo-Pernambuco.
Corpo é onde se nasce e se cria e se desenvolve e se cresce e onde se morre. Mãos, pernas, folhas, árvores, miragens. Miragens-dedos. Miragem. Corpo remanescente. Aurora boreal no sertão nordestino. Metrópole dos silêncios mais graves. Os sertões.
A cartografia.
Nossos corpos são carpintaria de ofício, vício-objeto. Navalha irascível. A deixa para o deixar-se. O poeta é quem abre o corpo, os corpos. O poeta é a víbora, que dilacera a pele ferida. Nosso corpo, nosso mundo, por onde vagamos. Mundo-nós. Cheios de nós, amarras, corpos de hormônio. Corpos com agrotóxico, conservados em água, vinagre e sal. Corp'orgânico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário