domingo, 13 de junho de 2021

A rupestre poesia de Manoel de Barros


Por Germano Xavier


após reler o livro Poemas Rupestres, de Manoel de Barros


No centro do mundo mágico de Manoel de Barros há uma coletânea de miudezas, de pequenas explosões desamparadas e perdidas no setor das invisibilidades humanas, mas mesmo assim completamente incríveis e perfeitamente narráveis. Vejo, em Poemas Rupestres, publicado em 2004, rabiscos de felicidade imatura, riscos de vistas musicadas, desenhos de uma voz que sempre terminarão em carnaval. Passarinhos dão o tom da brincadeira de ver além e aquém, pois o futuro em Manoel é sempre um sonho de mais em menos.

O mato interno de cada um pode ser o próprio universo inteiro. Ou os universos. Uni-versos. Avessas, nossas partes desconstruídas, nada puídas e inventadas com toda certeza de ser melhor assim, como se é ou como somos, no agora, no pra-ontem. Nus de tudo o que nos é possível largar. Nus até da inteligência que os outros contam. Indiferentes ao estigma do cumprimento das ordens mundanas. Manoel planta a palavra no cerne do instinto. Reposiciona tudo. Suas gramáticas não se apegam ao ar. O ar evapora. O ar de Manoel é o vai no ar. O ingrediente. O que venteia.

Entre ganhar ou perder, acontece de ter apenas um caracol no meio. É problema de lesma. Pressa é bicho mais feio que o Preguiça. Manoel quem me ensinou isso. Manoel foi meu professor por muitos anos e muitos livros. Cresci aprendendo com Manoel. Com ele inventariei até de ter sol dentro de mim pra instruir os outros. Muitos outros. Valeu a pena. Digo mesmo que valeu a pena, sem medo de errar. Errar é coisa bonita também. Juro. 

Tudo é fonte em Manoel. Tudo é semente. A infância é uma abelha em zum eterno. Poemas de espera nos alcançam como o rio, mesmo magro em abatimentos, incansável e destemido. Eu me proso com ele. Você se prosa com o Manoel? Não? Então, chegue mais pra ver. Arraste o tamborete e espie. A voz de Manoel é o assobio do vento. Tem de parar pra conseguir escutar. A gente ganha olhar quando lê o Manoel. A gente ganha um monte de coisa que a gente pensava que nem existia dentro da gente. Quer apostar que é assim?


* Imagem: Google.

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