domingo, 5 de janeiro de 2014

Meus quartos


Por Germano Xavier

“Afinal de tudo
não resta nada.”
Júlio Cortázar

meus quartos estão por detrás do poema,
onde tudo ainda está para ser dito –
o único lugar que ainda vivo está inabitado.
meus quartos foram os poemas que deixei
para os sonhos – e como foram tantos!
meus quartos de aluguel embebidos numa dança triste...

de solidão as paredes nuas,
ruminando o musgo de seus donos.

meus quartos não os tive, não os terei, e foram dos outros,
que se apoderaram da doença que lhes causei – ou curei.

com portas cortadas ao meio
para a vista do alto das cabeças humanas –
o que se vê nesta visão? -,
com fechaduras que se abriam
para o imóvel banco cerâmico das merdas,
com janelas brancas sem brandura
escancarando a face mentirosa de meus dias,
com camas sem sono, podres de suor, com molas já vencidas
de se deitar moribundo no lugar de tantos outros tantos.

comportas por onde me escondi dos olhos,
redutos abertos à minha insanidade,
excêntricas fábricas de poesia.

meus quartos debulhados na ânsia morna de morte,
na ânsia de acabar tudo
sem final feliz.
meus quartos que me moraram, meus fornos à lenha,
pelos quais estampidos estalavam
na brasa ardente das sublimes imaginações.

2 comentários:

Urbano Gonçalo de Oliveira disse...

Olá Germano!
Mais um dos muitos momentos de inspiração que aqui deixas! Bem hajas!
Quero desejar-te um Feliz Natal e um Bom Ano Novo!
Aquele abraço, fica bem.

Penélope disse...

Deixo aqui votos de um FELIZ NATAL e um ANO NOVO recheado de grandes realizações.
Grande abraço