quinta-feira, 20 de junho de 2013

A WEB, o homem-duplo e os novos anos da nova era


Por Germano Xavier

Pierre Lévy, renomado filósofo da informação, acertou quando, no início de suas pesquisas sobre o advento da internet e de suas respectivas adjacências, previu o crescimento das mídias sociais – ou comunidades virtuais, como preferir -, assim como não errou quando conjeturou frente ao progresso mundial que mesmo em sua companhia, a do ciberespaço, o ser humano não dispensaria a forma ancestral do encontro pessoal, vis-à-vis, e que a cultura ali compartilhada, naquelas nuvens invisíveis por onde trafegam milhares de dados e informações em frações de segundos, tomaria proporções de universalidade num tempo também recorde.

Lévy, exímio crítico das redes sociais e pesquisador das interferências da internet nos meios sociais, também imprimiu certezas acerca de vários outros aspectos na esfera infinita e em constante construção evolutiva operada pela internet. Uma dessas verdades elucubradas pelo estudioso é a de que o indivíduo do século XXI seria um ser múltiplo em si mesmo, dotado ele de um aumento instrumental-anímico produtor de ações, ou um ser capaz de reconhecer o surgimento de um novo corpo no próprio corpo, de uma “aura semântica”, que nada mais seria que um reflexo de sua própria identidade cognitiva ou das pessoas em relação a ela, ou seja, Lévy defendeu a idéia de que nos tornaríamos homens duplicados, homens-duplos, constituídos de um ser natural, humano e sensível, e também de um ser virtual, o avatar, moldado a nosso bel-prazer ou bel-sofrer, e com aceitações por parte de alteridades várias, humanas ou virtualizadas, também muito diversas.

Muito debate pode ser gerado deste imbróglio, o que decerto muito já foi feito, assim como muitas perguntas foram produzidas por centenas de especialistas e curiosos, mas que ficaram ou ainda se encontram sem respostas, ou mesmo são unanimemente reconhecidas como insolucionáveis, haja vista que ainda estamos vivenciando a infância da internet mundial e sua intensa profusão pelos quatro cantos do mundo, o que lhe acarreta uma eterna ebulição identitária, fato que dificulta o acesso ao seu DNA verdadeiro e definitivo, se é que podemos assim dizer.

Mas, do que mesmo este homem-duplo seria capaz? Em que aspectos o avatar de si mesmo poderia afetar o indivíduo ou a individualidade de sua porção naturalmente humana? E o que não tem caráter humano pode ser classificado como sendo algo automaticamente desumano? O que a cibercultura tem a ver com a democracia e o que a ciberdemocracia tem a dizer à cultura? O que é mesmo real e virtual hoje em dia, qual a fronteira que limita esses dois pólos? Qual o conceito de interatividade que a internet nos fornece e qual é a forma de interatividade que realmente nos interessa? Qual o futuro da web, e o mais importante, qual o futuro do homem?

Então seria esta mais uma parola acerca da fundação das celebridades, dos ícones sem sentido, gerados no seio do que é vago e deserto, no vão de nossas faltas, de uma espécie de religião popular baseada na apocalíptica estratégia das ordens do dia, da reprodução em massa, do consumo, da política, da cultura, da sociedade em geral, fosse também visualizada por nós uma brusca mudança no modo de se reconhecer competências (inteligências coletivas), facilmente averiguada em nossos dias como sinais profundos de que o mundo nunca mais seria o mesmo de antes da popularização da web?

A criação de alter egos para escape ou para realizar o domínio de outro território, mesmo que este novo espaço seja o do showbiz, ou mesmo para promover uma facilitação de uma revolução sexual calcada nas possibilidades infinitas do prazer, típicas de uma androginia camaleônica disfarçada nos próprios meios de se falsificar, reproduzir, inventar, recriar ou descartar as possibilidades, para no fim de tudo acabar sendo o que não se é, ou não ser, sendo, traz à tona temas que também fazem parte dessa mídia recém-produzida não só nos quilômetros e quilômetros de fios ópticos e ondas invisíveis, mas também da mídia que somos, posto que com o aparecimento da internet e das redes sociais nos descobrimos como sendo suportes em excelência para outras dimensões da nossa própria existência.

Quem pode ter em mãos ou na ponta da língua a resposta que esclareceria de uma vez por todas a instigante dúvida acerca do que deveras viria a ser este homem duplicado em si mesmo, que vive mais de uma vida – morre-se mais de uma vez também? -, que cumpre uma função (ainda) desconhecida e que sem dúvida é uma questão em aberto? Seria o usufruto do efeito avatar um novo formato para o emblemático indivíduo outsider, ou seria o inverso disso? O que esperar de nós mesmos daqui 10, 20 ou 30 anos? O homem transformar-se-á num ser tecnológico em essência? E o que isso representaria? Ou tudo já é passado?

Enfim, a filosofia não morreu. A filosofia chama.

Um comentário:

Cris Campos disse...

A internet é catalisadora e traz possibilidades de exteriorização daquilo que, antes dela, subjazia nas impossibilidades. Mas, ainda creio que não há tecnologia, por mais moderna que seja, que supre ou suprirá nossa necessidade do face a face, do calor do toque e de se estar perto. O que esperar dessa vida dupla é difícil de se dizer mas o que sinto não me é nem um pouco animador. Enquanto isso tento ao máximo manter ao menos um pé cravado em terra firme. G, uma ótima semana pra ti! Bjo!