Por Germano Xavier
Aeroportos sempre me pregaram boas peças, e olha que foi um pouco mais de uma dúzia de vezes que tive o prazer de utilizar deste tão eficiente e seguro meio de transporte. Um pouco de tudo já me aconteceu, todavia, nessas minhas perambulações aéreas. Como por exemplo encontrar um conterrâneo das bandas da vila de Iraporanga, ainda que até então desconhecido, quando este olhava uma tela digital cheia de mapas - e mapas da Chapada Diamantina, ora bolas!; como precisar dormir no chão de um deles depois de um desencontro factual ou dar de cara com um monte de gente famosa, a citar jogadores de futebol, lutadores de boxe, músicos e escritores... enfim. Os aeroportos de Salvador-BA, Recife-PE, Rio de Janeiro-RJ, São Paulo-SP, Campo Grande-MS e até Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, sempre me ensinaram alguma coisa e que - lógico -, como jornalista, escritor e, sobretudo, curioso que sou, seriam mais cedo ou mais tarde levadas à posteridade através de um texto meu.
Um destes achados aconteceu numa certa manhã no aeroporto de Salvador. Estava eu andando por um dos pisos do estabelecimento a passar o tempo para o embarque, quando passei em frente a uma loja de cd's e apetrechos musicais. Uma enorme televisão exibia um clipe bastante colorido e interessante. Stand By Me estava sendo tocada de um jeito diferenciado, não saberia descrever, mas de um modo muito humano. Sentei no banco mais próximo e lá fiquei até a última canção do disco ser tocada. Eram músicos de rua, pelo menos assim me pareceu. Isso me atraiu muito. Músicos tocando seus instrumentos sem grandes mistérios, tudo muito simples, porém ordenado, e aquele rodopio de imagens pelos quatro cantos do mundo, revelando o destino de cada um, como também a sonoridade de cada intervenção musical, que nos transportava sem destino e hora de chegada ou partida para um lugar de beleza inconfundível.
O projeto poderia ser até coisa já ultrapassada, velha de prática, mas para mim era algo novo. Escutar Playing For Change nas circunstâncias em que via foi, no mínimo, uma experiência transcendental. Fiquei com a alma leve, com o corpo leve. Reggae e música oriental juntos, rock e um algo latino se debatendo em harmonia nas cordas e nos sopros dos artistas, um prazer pleno desfrutado de uma forma muito natural. Logo vi surgir ao meu lado algumas moças e moços, alguns senhores e senhoras com suas crianças, o que criou uma situação momentânea que inspirava união, paz e calor humano. Foi deveras muito interessante. Tão interessante que me fez escrever estas mal traçadas linhas, e até então não tenho tantos motivos para tal, a não ser pela visão que tive do poder de comunhão humana que a música exerce quando levada à sério, invocando em nós, pobres mortais, os mais sublimes sentimentos, as mais graciosas sensações.
"Playing for Change", para quem não sabe, "é um projeto multimídia criado pelo engenheiro de som Mark Johnson do Timeless Media Group, com o objetivo de unir músicos do mundo inteiro em prol de mudanças globais. Integra o projeto a Playing for Change Foundation, uma organização não-governamental que tem construído escolas de música em comunidades carente. O projeto produz discos e vídeos com músicos como Grandpa Elliot e Keb'Mo, junto a artistas desconhecidos de várias partes do mundo, tocando versões de canções conhecidas e composições próprias. Já foram lançados dois discos: Playing for Change e PFC 2, além de registros ao vivo. Em 2013, o grupo estará trabalhando em um terceiro álbum."
Foi bom estar lá naquele momento. O mundo parecia estar aos meus pés, assim como aos pés e mãos dos meus companheiros ouvintes. A partir daquele dia olhei a música com outros olhos. A música, esta deidade tão mal explorada neste nossa transmodernidade, salvo raríssimas exceções.
Um comentário:
Créditos da imagem:
http://playingforchange.com/poly/content/17/15j6ir5lm.jpg
Fonte da citação aspeada: Wikipédia
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