Por Germano Xavier
No último dia 09 de julho, o Blog O Equador das Coisas completou 5 ANOS de vida na internet. Aos interessados, sugiro que leiam os textos abaixo. Enfim... continuemos, bucaneiros!
Um pequeno histórico sobre desembocaduras.
Escrito em 2010.
Tudo começou durante uma aula da disciplina Programas e Ferramentas II no curso de Comunicação Social/Jornalismo em Multimeios da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) que eu até então fazia. A professora Jussara Moreira, depois de explanar um pouco do seu conhecimento acerca da linguagem HTML para produção de sites pessoais e outros projetos de cunho cibernético, levou-nos a conhecer uma ferramenta que, para mim, ainda era uma incógnita: o Blog (ou blogue, como preferir). Lembro que ela havia indicado alguns sites onde poderíamos escolher a plataforma que mais agradasse nosso gosto e, ainda sem nenhum conhecimento de causa, entrei na ferramenta que o portal UOL disponibilizava à época. De pronto, achei tudo muito simples e funcional. Uma espécie de caderno virtual, de diário, de pasta, um portfólio, "mas que coisa boa!", pensei. E assim se deu o meu primeiro contato expressivo com esta ferramenta informática. Houve a luz, diria o outro. E sem muito pestanejar, fui logo criando o meu próprio espaço na blogosfera. PAROLAS DE UM SUJEITO QUEDO foi o título que dei ao meu primeiro esforço bloguístico e foi parido em 09 de julho de 2007. Lá, e aos poucos, fui colocando alguns velhos textos que eu tinha guardados e também escrevendo coisas novas. Como nestes idos ainda não possuía computador em casa, reservava alguns momentos quando me encontrava no laboratório de informática da faculdade para postá-los. No PAROLAS DE UM SUJEITO QUEDO, a série de textos do “Sonhador Gervixa” foi, talvez, o maior destaque. Com cerca de 20 capítulos publicados, foi através deste personagem, um sujeito que se dizia não ser deste planeta devido a sua extravagante repulsa por todas as más ações humanas, que os primeiros leitores – geralmente meus próprios colegas de Jornalismo e outros poucos amigos - foram se acercando de minha produção textual, conquistando assim paulatinamente o que posso chamar de credibilidade e por que não dizer fidelidade no meio. Depois de algum tempo, burilando na internet, achei de investigar a plataforma BLOGGER. Percebi que nesta havia mais instrumentos de editoração e diagramação, além de que as interfaces eram muito mais convidativas que as do UOL. Destarte, abandonei o PAROLAS DE UM SUJEITO QUEDO e criei em 12 de novembro de 2007 meu segundo blog, agora intitulado A AUTO-ESTRADA DO SUL, por influência direta da leitura do livro de contos "Todos os fogos, o fogo", do escritor belga-argentino Julio Cortázar que andava a realizar naqueles dias. Transferi, ao passar dos dias, todos os textos que havia publicado no PAROLAS DE UM SUJEITO QUEDO para o novíssimo e empolgante – pelo menos para mim - A AUTO-ESTRADA DO SUL e, de modo bastante paciente, fui colocando mais um montante de produções textuais de minha autoria, assim como algumas colaborações que recebia de amigos, sempre com a preocupação de devidamente analisar se os mesmos se alocavam bem aos propósitos do blog. Com minha entrada no universo “BLOGSPOT”, percebi que o mergulho constante no blog - um saudável vício, penso - estava despontando em mim como um local de construção de saber e de possibilidades de diálogo acerca das incontáveis formas de conhecimento nunca antes imaginadas, cuja responsabilidade para com o que ali estaria exposto aumentava em progressão geométrica, o que muito me agradava. Alguns meses transcorridos optei por mudar apenas a titulação do blog, que agora passaria a receber o nome do meu primeiro livro de poemas, publicado no ano de 2006 pela Editora Franciscana, com sede na cidade pernambucana de Petrolina. Era o nascimento do blog CLUBE DE CARTEADO, nomenclatura que permaneceu até bem pouco tempo, mas que por problemas de ordem estrutural tive de deixá-lo para trás. O CLUBE DE CARTEADO foi quem guardou a maior parte dos textos que eu havia escrito ao longo dos anos, desde poemas e contos, passando por crônicas e resenhas de todos os tipos, até projetos de pesquisa mais apurados e artigos científicos, sendo também, tenho quase certeza, o primeiro blog a ter (ou a querer ter) a figura de um ombudsman – experiência que infelizmente não vingou. No total, foram exatos 821 textos/postagens publicados em seu espaço, registrando no período de pouco mais de um ano cerca de 30 mil visitas reais e algumas centenas de comentários e participações várias. Depois de visualizado o problema em sua configuração, a construção de um blog totalmente novo foi a alternativa mais viável para dar seguimento a minha relação com esta significante parcela do mundo virtual. Foi aí que O EQUADOR DAS COISAS veio à superfície do ciberespaço. Com ajuda de pessoas mais entendidas neste universo da informática, selecionei um template que trouxesse um pouco da carga dramática que o título requeria, e logo foi feito a transferência de todos os textos que estavam no CLUBE DE CARTEADO para o arquivo do novo blog. O primeiro texto originalmente escrito para O EQUADOR DAS COISAS data de 23 de julho de 2009. Daí por diante, outros inúmeros textos foram publicados até o presente dia – só para constar, já passamos da considerável marca das mil publicações/postagens. Fazendo os cálculos, a média ultrapassa 1 texto publicado por dia. Como se números fossem importantes, não é mesmo?! Tantos números assim soam como um discurso contraditório até para mim, que sou daqueles que têm mais medo de um sujeito que escreveu um livro em toda uma vida àquele que escreve meia dúzia de títulos em cinco anos – se formos vasculhar, exemplos não faltam. Recentemente o EQUADOR DAS COISAS passou por uma reforma, tanto na estética quanto em seu conteúdo. Agora o template é em estilo mosaico, bem mais atual e ao mesmo tempo diferente, onde na página principal só aparecem as imagens vinculadas aos textos, cabendo ao leitor clicar em cima do título das postagens para poder lê-los. O arquivo do blog agora conta apenas com as 18 postagens mais recentes. A decisão foi tomada por me achar no direito de resguardar mais o que escrevo, haja vista que exposição exagerada também não cai lá muito bem. Aí você me pergunta quando vou parar com tudo isso, e eu respondo que nunca. Cada vez que penso em desistir do blog, mais certo fico de que sem esta ferramenta, exemplo de expressão libertária e democrática, mesmo que virtualizada, fica mais pesada e difícil a balada das horas do meu dia. A vocês, leitores e leitoras, meu muito obrigado por ajudar na edificação e na concretagem deste real espaço de troca de experiências e saberes. Vocês são peças fundantes em toda esta ladainha. Recebam um abraço-amigo-imenso deste Germano que vos fala agora, exímio aprendedor de coisas. E para não dizer que não falei das flores, sim... continuemos, bucaneiros! – até porque o mar, o mar!, o mar quase nunca está para peixes...
*****
Leia o capítulo IV da série de textos intitulada O Sonhador Gervixa, quando este blog ainda se chamava PAROLAS DE UM SUJEITO QUEDO:
IV
Eu teimo, insisto e não desisto. Minha voz não pode parar. Eu sei que há "Mundos", menos confusos, menos humanos. Só não quero imaginar que eu estou aqui perdendo meus preciosos segundos falando para um bando de surdos e idiotas. A maioria de vocês não sabe ouvir. E não venha me dizer que eu estou querendo criar confusão porque eu sou apenas um sonhador e estou aqui só de passagem.
Outro dia presenciei um estudante esfaqueando seu próprio colega, num gesto animalesco de alguém que ainda não conseguiu se encontrar na vida. Se estou nervoso? Eu estou calmo! Não é nada disso! Ultimamente, quase nada me afeta. Tenho dado bons lucros à farmácia do meu bairro. Meus "queridinhos"! O sangue que escorria do corpo daquele pobre rapaz era o sinal dessa impiedosa insensatez, que cobre todo o áspero chão desse lugar onde vocês dizem que vivem.
Estão fadados à civilização?
Minha cabeça dói, parece não suportar toda essa pressão, todo esse peso que machuca o corpo. Acho que é hora do meu barbitúrico aromatizado! Mas... eu não acredito! Esqueci onde guardei meus "redondinhos"! Deus, não me faça perder o juízo!
Não preciso de ajuda. Quem necessita de auxílio aqui é você! Eu sei muito bem me comportar! O que quero de você é apenas o entendimento. Não, eu não sou louco. É que fúria dessa espécie faz do Capitão Acab parecer um santo. Os cachalotes da modernidade são muito mais pesados que os do livro do Melville, ou deveriam ser. Pesam as toneladas da consciência da humanidade, a honra da raça, a ética das multidões e, principalmente, os governos de si mesmo. Tenho inveja dos Quicquegs dessas terras, serão eles os loucos? Eu preciso descansar!
Estamos fadados à civilização?
Não tente me incriminar por tudo o que faço. Tenho consciência plena de que o que faço é o mínimo que realmente poderia eu fazer. Até pareço um de vocês, moralistas de esquina. O meu "chazinho" das três!?
Não, não fique zangado por minha causa! Eu não valho o que vocês desejam! Eu só quero que vocês me entendam e que me ouçam, ao menos uma vez. Eu não quero briga nem discórdia. Eu sou apenas um sonhador que acredita em "Mundos"!
Ai! Estamos fadados à civilização!
Abaixo, o texto de abertura do antigo A AUTO-ESTRADA DO SUL:
Antes do congestionamento, um início
Ouvindo Mautner, com "Todos os fogos, o fogo" do Cortázar aqui do meu lado direito, espiando-me para ver se não farei nenhuma besteira, dou-me mais uma vez à esta "coisa assassina" que é escrever. Faremos do "A AUTO-ESTRADA DO SUL" um espaço para constantes transformações e reformas humanas interiores. Por isso preciso de você, amigo. Tem um Dauphine aqui, vazio, com a chave na ignição. Não deseja acelerá-lo? Espero-te lá na frente, "onde ninguém saiba nada sobre os outros, onde todos olhavam fixamente para a frente, exclusivamente para a frente".
Segue o prefácio do livro de poemas CLUBE DE CARTEADO, que também abriu o blog homônimo, seguido do poema que abre tanto o livro quanto o blog:
Apresentações
"Crimes da terra, como perdoá-los?
Tomei parte em muitos, outros escondi.
Alguns achei belos, foram publicados.
Crimes suaves, que ajudam a viver.
Ração diária de erro, distribuída em casa.
Os ferozes padeiros do mal.
Os ferozes leiteiros do mal."
(Carlos Drummond de Andrade, do poema "A flor e a náusea")
Com a publicação de "Clube de Carteado", meu primeiro compêndio poético, acredito ter praticado um delito de obscura repercussão, diria enigmática. Acusado de tentar - bastante atenção aqui: eu disse "tentar" - "penetrar surdamente no reino das palavras", acabei tendo de pagar pelo erro cometido da forma mais cruel que imagino: o julgamento, a sentença-mor dada pelo povo. Por isso tentei uma fuga desesperada, um verdadeiro fiasco. Não havia como e para onde escapar. Terminei preso.
Prenderam-me com as amarras das palavras e com as correntes oxidadas do sentido (este último feriu-me gravemente). Porém, após tombar quase morto no chão negro desse mundo de significados efêmeros, percebi meus olhos abertos novamente. E eu já me encontrava sem algemas e menos preso.
Todavia, não sabem eles, os incriminadores, que é o "Clube de Carteado" minha mais proposital arma contra as arbitrariedades e desrumos do homem no mundo. Na posse dele cercaram-me e cerquei, fragilizaram-me e fragilizei, mataram-me e matei.
"Clube de Carteado" é um livro de erros e acertos, uma obra que dá ao erro a sua porção dicotômica e mágica, ora acertando por errar ora errando por acertar. E de que matéria são feitos ou alicerçados estes erros? Talvez da matéria sórdida humana ou das engrenagens tortas do fabrico do quotidiano, do que é natural dos sentidos ou do que é contíguo a uma atitude mais expressiva, do que vem junto com a água da chuva ou da carne podre de uma fruta que vai ao chão de madura. E, com uma maior intensidade, do hoje de todos, ou melhor, do que se precisa da poesia.
Um livro onde o autor se contradiz e a poesia acaba sendo, em quase toda a sua extensão, corrompida, como se o jogador - nesse caso, o leitor - utilizasse de um blefe. Imaginando possuir toda a simbolização da arte, o leitor-jogador vê-se numa densa cortina de fumaça, onde seus olhos são impedidos de enxergar a "realidade versada" ou, ainda, arquitetada. E é neste estado antitético das coisas que a poesia-una é fomentada, sem interesses, senão o de observar sangrias.
Um jogo onde nada ou ninguém pode vencer, apenas elaborar vontades num manejo perigoso, observando o tamanho e a capacidade humana frente às "instituições descriativas", mas também uma mínima bola de neve que, num movimento espontâneo ou pensado, pode transformar-se em braços, pernas, bocas e vistas operantes.
Se, dentre a totalidade dos escritos, um poema, um verso ou, na pior das hipóteses, uma palavra conseguir tocar o teu âmago, fazendo brotar um sorriso ou uma ferida, tenha certeza, caro leitor, que o crime que acabo de cometer fora imensamente compensado.
Por Germano Viana Xavier
*********
O papel e a caneta são meus amigos de infância. Lembro que na falta do papel, acabava sobrando até mesmo para as paredes do corredor da sala, coisa de criança.
Desenhar? Momento de concentração. Momento das sensações de liberdade, de que não existem correntes, da possibilidade de tudo. É a fuga das formas, do tempo, do choro, do outro. É lembrança, encontro e desencontro. É saudade. Retrato da vida e do que se deseja nessa vida. É registro das concepções sociais e políticas pelos sujeitos da história. É meio de protesto, é instrumento de luta. É tudo isso, mas no papel sempre haverá espaço para mais um pouco.
Foi através de Gladys, uma grande amiga, que Germano soube desta minha paixão. Tudo acertado, não demorou muito, marcamos os casamentos. Foi assim que unimos os filhos do poeta Germano com as minhas ilustrações. Foi um prazer ilustrar Clube de Carteado, e cada união era motivo de muita alegria. Essa bela obra é a representação das emoções que sinto quando leio os poemas. E cada galho, cada pétala de flor, cada gota d'água, cada lágrima, cada traço, é a transcrição de uma vírgula, de um acento, de uma palavra, de uma estrofe, de uma rima.
Assim, entre ilustrações e poemas, desejo, às leitoras e aos leitores, uma boa viagem pelas páginas deste livro.
Por Cida Mello
*****
Desses casos particulares
Assim, de início,
quereria meu poema
descansado, à espera
de um lucilante fio
de sol de fim de tarde.
Basta isso dele querer,
sem pedir nem mais nem menos,
e já começo dele não ser
compadre, que dirá dono!
De raio de olho,
vejo letras desajustadas,
perdendo-se, perdidas
na labuta buliçosa de formação
da palavra, que escorre
e vaza e fere e foge
e que, por não se achar
na aléia dos versos,
vira vento vulto
vazio:
ente insulso,
ou seria alimento?
(Um pouco de mim?)
E vai...
E continua,
visita sendas, fendas, plagas
do impensado,
ou seria estrangeiro?
Enfim, mais uma estrofe para trás,
deixada ao sol que não quis.
Nessas horas não o tenho
em vista; criou asas
na boca do povo
e voou desmetrificado,
sem rimas ricas,
sem correntes.
No fim de tudo,
poeta sem poema
(Pai sem filho),
porém rico,
o que se deseja
é Vida:
Vida longa ao poema!
P.S. Este texto permanecerá para sempre na página principal deste blog, servindo possa a quem se interessar em saber mais sobre este sítio, podendo ser atualizado a qualquer momento.
12 comentários:
Hello Germano
Nice picture.....thanks for all your reactions by my photos.
greetings, Joop
Crédito da imagem:
"Germano no espelho circular"
Autoria: Germano Viana Xavier
Vida longa ao poeta Germano!
Nós é que agradecemos pelo fato de podermos ler-te aqui nessa blogosfera.
Um abraço.
P.s: E essa tua foto que ilustra o post lembra a capa do livro "1808".
Querido Germano, o que dizer depois de tudo isso... Continuemos, pois continuar contigo é apender e apreender. Abçs.
Bem Germano, li tua retrospectiva e a leitura foi se dando com prazer. Também tenho uma história que se aproxima desta tua, ou tangencia esta história em algumas linhas, ou em muitas. Fico imaginando o sentido que tu vais construindo para ti mesmo ao levantar estas etapas pelas quais teus blogues passaram. Ao final veio a resposta: fica mais difícil e pesada a balada das tuas horas sem escrever, nem que seja escrever sobre escrever nos blogues.
Fica aqui meu abraço e meu estímulo. Continues.
Todos temos nossas histórias. E elas ficam bonitas e heróicas quando escritas.
Que venham outros tempos de continuar escrevendo.
Estarei sempre lendo.
Germano,
"Me dá licença que vou beijar o céu" Jimi Hendrix.
Eu beijo céus e terras dos mundos do Germano.
Germano - nº5
Que bom que houve um tudo começou...Me alegro de ter encontrado teu talento nesse mundo.
Beijo meu
Só uma coisa comentar, na verdade, duas:
1.quero ler "Clube de Carteado";
2. parabéns pelo Equador das Coisas! Mais que isso: parabéns por toda esta história. É sempre corajoso se entregar às letras... elas sabem mais de nós do que nós mesmos!
Beijos.
Germano,
Que na "difícil balada das horas do seu dia" haja sempre tempo e pautas e pautas, para que você possa transformar a arte de escrever num instrumento de conscientização.
E, que a chuva de palavras, no telhado da sua casa, seja sempre um divisor de águas: para lavrar a terra e fazer poesia. Esse é o destino de quem escreve. Esse é o dever do jornalista. Parabéns, pela criação de todos os seus blogues. E, obrigada, por partilhá-los.
GERMANO,
Nós leitores é que temos que agradecer, obrigada, por esse espaço de leitura prazerosa!!!
Postar um comentário