Por Germano Xavier
Foi em 1989 que o longa-metragem “Sociedade dos Poetas Mortos”, dirigido por Peter Weir, ganhou o Oscar de melhor roteiro, este assinado por Tom Schulman. Estávamos no fim da “Década Perdida”, em pleno século XX, e eu tinha só cinco anos de idade. Isso quer dizer que, de lá para cá, passaram-se 18 anos. Uma vida, indubitavelmente.
Todavia, a caducidade parece ter chegado mais cedo para alguns diretores e roteiristas da recente cinematografia mundial. Uma onda de esquizofrenia e de falta de memória tomou corpo neste ambiente, e agora os cinéfilos de plantão, ou meros apreciadores de bons filmes – que é o meu caso -, começam a sentir os sintomas e as consequências da falta de criatividade e de originalidade que tomou conta das atuais produções do cinema.
Exemplos não faltam para elucidar o que digo. São o caso do norte-americano “O sorriso de Mona Lisa (Mike Newell)” e do francês “A voz do coração (Cristophe Barratier)”, réplicas perfeitas do filme de Weir, só para citar como exemplos. Os dois repetem a mesma fórmula (um/uma professor/professora liberal que começa a lecionar numa escola que preza pela rigidez e moral conservadores e que tenta mudar a lógica das atitudes e dos pensamentos de suas turmas “alienadas” por essa “ácida” metodologia de ensino e que, ao final, conseguem, de um modo ou de outro, construir uma revolução na mente do alunado), e, por conseguinte, acabam invadindo um percurso marcado por clichês e construções discursivas baratas. Tudo muito semelhante, as variações ficam a cargo do elenco, o sexo dos alunos admitidos nos respectivos colégios, uma música de fundo ali, um cenário acolá... Nada de muito especial ou que mereça destaque.
“Mona Lisa Smile”, título original do filme, acontece nos primeiros anos da década de 50 do século XX, e é estrelado por Julia Roberts. A atriz interpreta a professora de História da Arte, Katherine Ann Watson, oriunda da Universidade de Berkeley, na Califórnia. Considerada liberal para os padrões de sua época, ela começa a fazer uma pequena revolução na mente de suas alunas, lutando diariamente para incutir um ideal mais libertário e de vanguarda, desejando retirar delas o fardo de serem preparadas exclusivamente para os ofícios de um venturoso casamento, ideal máximo da maioria das mulheres ao cabo daqueles idos.
Entrementes, pitadas de conjeturas sobre arte são expostas, de maneira superficial e sem compromisso. As antigas discussões sobre “o que é Arte?”, sobre “quem decide o que é Arte?”, e sobre a máxima “reprodução também é arte?”, são as tônicas iniciais do filme, que se perde de sua metade para o fim, entrando em um simplório jogo de namoricos e mexericos dentro do núcleo da obra.
O resultado é um longa “esquecível”, sem muito que acrescentar, perdido no ar e em si mesmo, como sempre ficou o sorriso da obra homônima do pintor renascentista Leonardo da Vinci, com um riso sem graça, monótono, sem explicação inteligível e com uma aparência singular de mediocridade e mesmice. A bem da verdade é que o título chama mais atenção que o conteúdo. Mas nisto também não há nada de novo. Como diz o ditado e uma das personagens do filme, “nem tudo é o que parece”.
5 comentários:
Crédito da imagem:
"Cinema
by ~Paleuf"
Deviantart
Apesar do comentário ácido, concordo plenamente com o que foi escrito. Abçs.
Beleza, Germano! Eu havia comentado sobre esse texto lá no Benfazeja. Abraços. Paz e bem.
Germano, passo por aqui de breve. Palavras suas vêm deixando as minhas quase sempre sem. Mas eis que venho pra dizer só isso mesmo: textos seus vêm-me dando gosto invisível em canto da boca. Gosto sem doce, sem veneno, sem acidez míope que a gente vê aqui-acolá em textos-outrem... E também digo, redigo, ainda quis deixar este recado aqui procê porque te convido, no de agora, ou podendo você noutro ínterim, a dar uma olhada no texto último do blog meu. Não consegui, tive que colocar lá um meu ziguezagueante resposteio ao primeiro texto que li de você. Podendo você, diga lá o que acha, tá?
Até. E obrigada por ter passado pelo blog!
Carol ArtBrazil Melinda ou, sei lá, o que tanto mais estiver no de então.
Caro mestre,
Causa-me admiração a forma crítica, e ao mesmo tempo tão verdadeira, como você escreve. Imagino que leitores de José de Alencar, notadamente das obras que integram os chamados romances citadinos ou perfis de mulher (a exemplo de Helena, Lucíola), entenderiam perfeitamente o tom de seu olhar acerca da arte de fazer cinema.
Parabéns,
Emerson de Souza Costa, Professor.
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