segunda-feira, 13 de maio de 2013

Dona suprema


Por Germano Xavier

Cantiga de Amor


Senhora, quando cai a madrugada
nesta cidade cinzenta, e as luzes
artificiais dos postes ofuscam
a luz lunar, pego-me a imaginar
teu semblante brando e alvo como pétalas
de um cravo, e começo a sentir dentro
de mim um relâmpago delirante
e devasso que ultrapassa toda
a extensão deste meu corpo, que frágil
torna-se frente a tais reminiscências.

Minha senhora, não compreendes tu
a dor que por ora sinto. Não mesmo!
Não compreendes a fenda aberta
em minha carne, que sem ti putrefa.
Eu sei, não compreendes a ferida
exposta e rubra por tua ausência.
Não compreendes o vão que abraça
e corrói meu âmago. Não compreendes,
minha senhora, que por mais que estejas
distante, tua presença muito me marca,
como brasa viva e ardente o peito
deste pobre e comum e mero homem.

Oh, senhora dos meus sonhos,
tornaste o delírio meu companheiro
indesejável, mais incrédulo, mais invasivo.
Por que, senhora minha, foges assim,
sorrateiramente, com passos de garça,
não deixando à vista nenhuma pegada,
nenhum vestígio de teu ser?

Rainha do meu coração, cesse
o sofrimento desse teu pobre servo,
não fujais do meu amor. Prometo-te
lírios, rosas, margaridas e todas
as fragrâncias, de todos os perfumes.
Porém, convenço-me de que tudo
o que vier a oferecer-te, doar-te,
tornar-se-á parcela ínfima e ordinária
diante da vastidão de tua beleza,
de tua toda sutil formosura.

Minha dona suprema, és tu a âncora
que me livra do naufrágio, o porto
seguro de meus intentos flamejantes,
minha fortaleza de pedra por onde
não vaza sequer uma gota de inverdade.
Oh, Deus, presenteaste a minha existência
com a mais bela mulher, e hoje estou aqui
acorrentado, aprisionado neste amor
desmedido. A minha alma sangra por saber
que o sentimento que me alimenta
ao mesmo tempo me consome,
me dilacera, me esfacela, me abre
o peito sôfrego perante a morte.

Minha senhora, minha deusa, morrerei
por ti, eu sei, mas morrer por ti me basta.
E dessa maneira, mesmo triste e morto,
serei feliz, posto que tive na vida um amor,
um amor capaz de ser só meu, único,
desde o instante em que me criei.
Minha senhora, minha dona suprema,
meu cântaro de luz, minh'alma em flor,
posso até morrer, sim, mas por ti sempre viverei.

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