quinta-feira, 2 de maio de 2013

Pensando o inconsciente humano


Por Germano Xavier

O texto "O inconsciente maquínico - ensaios de esquisoanálise", de Félix Guattari, inicia-se deslocando os posicionamentos construídos pelos psicólogos ou psicanalistas para um patamar ou plano de menor relevância, alegando que as máquinas abstratas do inconsciente humano percorrem um trajeto onde não há choques com os chamados "estádios", pois além de não serem processos automáticos, estão desligadas dos reagenciamentos dos modos de codificação e de semiotização do inconsciente.

Para Guattari, a criança não é um complexo individualizado, mas sim uma totalidade em construção intensa, onde outros componentes semióticos "exteriores" podem acelerar, inibir ou redirecionar os efeitos dos componentes biológicos, sócio-econômicos e materiais que a atravessam.

As interações com o campo social são muito mais presentes do que se imaginava. A família, a escola, as leis, e tudo mais que rege o comportamento humano, são os fatores primordiais para o sufocamento das mudanças biológicas que se processam no adolescente.

A criança é já uma série de máquinas abstratas, não nela inscrita, mas que a atravessa, e quando dentro de alguma outra máquina abstrata, sofre uma mudança radical na ordem de suas manifestações internas inatas, deixando de lado a espontânea prosperidade e florescimento de seus gestos para se adaptar à expressões adultas e "maquinadas" de um modelo existente. Toda essa adaptação funciona como uma arma repressora e coibitiva, aniquilando qualquer forma vigente de desejo original, e cristalizando índices maquínicos dentro de uma nova máquina abstrata.

A repressão não procura submergir completamente a criança, mas se inserir nas forças que envolvem a formação dos significados. O conjunto repressivo não age sobre o conjunto das máquinas desejosas, porém antes, por meio de máquinas abstratas, vai do socius ao indivíduo. As máquinas do poder dominante só podem ser eficientes quando se prendem à zonas bio-psico-sociais.

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